Artigo - A Dor Invisível: Reflexões Sobre o Suicídio de Jovens em Tempos de Redes e Pressões Sociais

Vivemos em um mundo de vitrines brilhantes, onde a perfeição é exibida em sorrisos congelados, corpos idealizados e momentos irreais compartilhados nas redes sociais.

Esse fluxo incessante de validação digital seduz e, ao mesmo tempo, adoece. E o preço dessa busca incessante por aprovação tem sido cruel: jovens, que deveriam estar vivendo os dias mais vibrantes de suas vidas, encontram-se sufocados em angústias silenciosas, perdidos em um mundo que exige perfeição, mas não acolhe fragilidades.

A realidade é devastadora: o número de suicídios entre jovens cresce de forma alarmante. Esses números não são frias estatísticas, são perdas humanas que rasgam famílias, deixam pais sepultando seus filhos e abrem feridas que jamais cicatrizam. São histórias interrompidas, vidas sufocadas por uma sociedade que insiste em ignorar o grito de quem já não encontra forças para continuar.

A Escravidão do Ideal Irreal

O mundo moderno distorceu o significado da existência. Hoje vivemos para sermos vistos, para nos adequarmos a padrões inalcançáveis, enquanto nossas verdadeiras identidades se perdem na tentativa de corresponder às expectativas alheias. Criamos personagens perfeitos para exibir, mas esquecemos que por trás das telas existem corações que batem, que sofrem e que carregam sonhos frustrados.

A falsa ideia de que "nada é impossível" transforma a vida em uma competição insustentável. Jovens são esmagados pelo peso de expectativas irreais impostas por uma sociedade obcecada por sucesso. A falha, que deveria ser um aprendizado, tornou-se um estigma. A depressão, a ansiedade e o vazio existencial crescem como sombras silenciosas, deixando cicatrizes invisíveis, mas devastadoras.

A Dor como Parte da Existência Humana

Vivemos em uma sociedade que rejeita a dor. Pregamos a positividade a qualquer custo, como se sofrimento fosse algo vergonhoso, algo a ser escondido. No entanto, é nas sombras que crescemos, é na dor que encontramos força, é no fracasso que aprendemos. Ignorar isso é negar a essência do que nos torna humanos.

A promessa de felicidade plena, vendida pelas redes sociais e pela cultura do desempenho, tem aprisionado mentes e corações. A cada curtida, a cada comentário, a validação externa substitui a conexão interna. Quando essa validação falha, o vazio se instala, e a solidão emerge como uma companhia implacável.

Solidão no Mundo Conectado

Paradoxalmente, nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão sozinhos. O contato humano foi substituído por mensagens rápidas, emojis e filtros. Muitos jovens vivem cercados de "amigos" nas redes, mas, na hora da necessidade, encontram apenas o eco do silêncio. A ausência de vínculos reais, somada à pressão acadêmica, econômica e social, cria um terreno fértil para o isolamento emocional.

Estamos desumanizando as relações, transformando pessoas em perfis e sentimentos em postagens. Esquecemos que somos mais do que imagens, somos mais do que números de seguidores. Somos humanos, frágeis e complexos, carentes de abraços, olhares e palavras de acolhimento.

Como Podemos Agir?

O suicídio de jovens é um grito sufocado que não podemos mais ignorar. Como sociedade, é nossa responsabilidade escutar, acolher e agir. Não se combate o desespero com clichês, mas com presença, empatia e amor genuíno. Precisamos olhar nos olhos de nossos filhos, irmãos e amigos, permitindo que falem de suas dores sem medo de julgamentos. Precisamos ensiná-los que errar é parte da vida, que a perfeição é um mito e que o verdadeiro valor está nas relações sinceras e nos momentos simples.

É urgente resgatar a nossa humanidade. Precisamos ensinar que a felicidade não está em curtidas ou exibições, mas nos laços que construímos e na aceitação de quem realmente somos. A sociedade pode ter nos afastado da nossa essência, mas ainda há tempo de reencontrá-la.

Um Chamado à Vida

Cada jovem que perdemos para o suicídio é uma cicatriz que carregamos como sociedade. Essas perdas precisam nos despertar para uma nova consciência, para uma postura mais humana e acolhedora. Que possamos ser presentes na vida dos que amamos, que possamos abraçar suas dores e ajudá-los a encontrar sentido mesmo nos momentos mais sombrios, porque cada jovem é uma esperança que não podemos permitir que se apague.

Bel. Rivelino Liberalino OAB/PE 534/B

Advogado militante nas áreas cível e trabalhista, pós graduado em Direito Tributário pelo IBPEX- Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão.