Drones Gigantes: movimentos reagem a tentativa de liberar pulverização de agrotóxicos

Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores,matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. (…).

Em contato com a REDEGN, movimentos sociais e sindicatos alertam para o que eles definem como uma temeridade e que pode também chegar em outros estados, inclusive Bahia e Pernambuco: No início desse mês o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT) declarou que a pulverização de produtos químicos em plantações deve ser votada na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) até o fim deste ano.

“E, para não dizer que não falei, quero dizer aos colegas do agronegócio que aqui estão que, pelo que tenho de informação, a Assembleia, até o final do ano, vota e resolve esse problema, para termos condição de, com um drone, utilizar herbicida na produção de frutas e outras produções necessárias”.

O governador fez essa declaração durante evento promovido para grandes produtores do Estado e causou indignação aos movimentos sociais que lutam contra o uso de agrotóxicos.

A proposta é flexibilizar a Lei Zé Maria do Tomé (16.820/2019), que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos no Estado. A regra homenageia o agricultor de Limoeiro do Norte que foi assassinado em 2010 após denunciar os efeitos nocivos do uso de veneno nas plantações da Chapada do Apodi, no Ceará. A partir dela, o Estado passou a ser o único do País a ter a proibição.

O próprio Elmano é signatário da Lei e tem histórico de atuação nos movimentos sociais que mantém luta permanente contra a aplicação de produtos químicos nas plantações.

São três os projetos de lei que visam a alteração: 609/2023, 1075/2023 e 819/2024. Os documentos já foram aprovados na Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembleia Legislativa do Ceará.

Após a declaração, organizações civis em peso se manifestaram contra a proposta que chega às vésperas do recesso de fim de ano.

O Fórum Cearense de Convivência com o Semiárido lançou uma nota de repúdio em que denuncia os grandes impactos dessa possível liberação à saúde das pessoas, tanto na zona rural quanto nas cidades: “o veneno espalhado pelo vento contamina a fauna, flora, solos, água e pode atingir até comunidades inteiras!”.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) também denuncia o projeto como “um grave retrocesso nas políticas de proteção ao meio ambiente e à saúde pública”.

“A pulverização aérea, por sua natureza, aumenta os riscos de contaminação do solo, das águas e da biodiversidade, além de comprometer a saúde das pessoas, expondo trabalhadores e comunidades ao uso indiscriminado de agrotóxicos. Essa prática também causa conflitos nos territórios, incluindo o assassinato de trabalhadores”, afirma em nota.

De acordo com reportagem do site agenciaeconordeste os equipamentos previstos para a pulverização de agrotóxicos não são os drones mais populares, de pequeno porte, mas máquinas que pesam toneladas e com capacidade de carregar até 900 litros de material químico. 

“Nesse sentido, os dados são alarmantes: Só no primeiro semestre de 2024, por exemplo, o número de casos de contaminação por agrotóxicos saltou de 19 para 182, um aumento de 950% em relação ao mesmo período de 2023!”, denunciou Roseno pelo Instagram.

redegn com informações MST e Agenciaeconordeste Foto redes sociais