Após gastarem milhões com shows, cidades pedem ajuda contra chuva

"O quintal foi todo quebrado. Caiu tudo no rio. Agora, o medo é a casa da minha mãe terminar de cair".

O depoimento é de uma moradora de São Geraldo do Baixio, no Vale do Rio Doce, que preferiu não se identificar. No último dia 14, a cidade teve decretada situação de emergência por conta da combinação entre as chuvas intensas do verão e a falta de infraestrutura.

Se, há cerca de duas semanas, o prefeito Juliano Filipe (Republicanos) pediu socorro ao Governo de Minas para conseguir verba para socorrer a população sob sua responsabilidade, a prevenção parece não ter feito parte do planejamento municipal ao longo do ano. A prefeitura local gastou, só neste ano, de acordo com dados do Tribunal de Contas, R$ 927 mil para financiar shows com dinheiro público.

A cidade de cerca de 3 mil habitantes, enquanto conta os prejuízos das chuvas, sediou, em 2024, apresentações de nomes conhecidos da música brasileira, como Gino e Geno (com custo de R$ 230 mil) e Amado Batista (R$ 267 mil). Pelo decreto assinado pelo governador Romeu Zema (Novo), São Geraldo do Baixio permanece em estado de emergência por 180 dias, até 13 de maio do ano que vem.

Das 16 cidades em situação de emergência por desastres naturais em Minas Gerais, na lista da Coordenadora Estadual de Defesa Civil (Cedec) publicada na última sexta-feira (29), 14 financiaram shows neste ano. As prefeituras, que hoje pedem socorro ao governo do estado para reparar os danos, gastaram quase R$ 5 milhões com atrações artísticas.

São Geraldo do Baixio lidera essa relação com os já citados R$ 927 mil. Na sequência, aparecem quatro cidades do Vale do Jequitinhonha: Ouro Verde de Minas (R$ 778 mil); Novo Oriente de Minas (R$ 629 mil); Carlos Chagas (R$ 607 mil); e Franciscópolis (R$ 530 mil).

Jornal Estado de Minas Foto Ilustrativa Agencia Brasil