Hodiernamente, numa sociedade marcada por situações inconciliáveis, onde valores, ideias e comportamentos coexistem de formas opostas, o que chama bastante atenção é a prática de um cristianismo que se ajoelha em oração diante de um Deus que foi a personificação da renúncia, mas que levanta altares ao bezerro de ouro, adorando-o com as suas escolhas, prioridades e silenciosas submissões.
O paradoxo entre a mensagem de Cristo e a prática dos que se intitulam cristãos é gritante, ensurdecedor, como um eco que revela a distância entre o discurso e a vivência.
Cristo, o renunciante por excelência, não possuiu riquezas, rejeitou o poder terreno, acolheu os esquecidos, as crianças e os marginalizados. Sua vida foi um testemunho de que o verdadeiro tesouro não é visível aos olhos, tampouco se constrói com ouro ou prata, mas com amor, justiça e renúncia ao egoísmo.
No entanto, neste mundo consumista, hedonista, narcisista e imediatista, essa mensagem parece ter perdido o brilho. O bezerro de ouro, que simboliza a idolatria ao dinheiro, ao poder e ao prazer sem limites, é adorado em altares invisíveis e é cultuado com a intensidade de um fanatismo quase religioso. As palavras de Cristo, que deveriam iluminar as escolhas humanas, são muitas vezes sufocadas pelo som ensurdecedor das moedas e das ambições desmedidas.
Idolatra-se o dinheiro, esse senhor cruel que lhe promete a liberdade, mas escraviza. Mata-se e morre por ele, em guerras sem sentido, em disputas familiares, em fraudes silenciosas, projetando-se a existência e importância do ser humano nas aquisições que lhe roubam a essência e humanidade.
O hedonismo , por sua vez, transforma o prazer em ídolo supremo, ignorando que o próprio Cristo, asseverou que é preciso "perder a vida para ganha-la, como narra o evangelho de Mateus 16:25. O narcisismo, ao exaltar a própria imagem e o ego acima de tudo, sepulta a humildade e o altruísmo, valores fundamentais do cristianismo. O imediatismo, essa fome insaciável pelo agora, ignora o chamado de Cristo para um olhar eterno, para uma esperança que transcende o tempo.
O cristianismo não é compatível com o materialismo que transforma pessoas em coisas e coisas em deuses. Ele clama por um coração contrito, por uma alma desapegada e por uma vida dedicada ao bem maior. Jesus Cristo não prometeu riquezas materiais; ele ofereceu a cruz, o caminho estreito, mas também a paz que excede todo entendimento.
Portanto, é urgente que cada um que se intitula cristão faça uma reflexão e se questione: Afinal, a quem estou realmente adorando? ao Deus que renunciou a sua vida por amor ou ao bezerro de ouro que exige sacrifícios diários de alma, dignidade e humanidade? O cristianismo, como bem asseverou o Papa Francisco, é mais do que ritos e cerimônia; é sobretudo, exemplo, ética e testemunho.
Rivelino Liberalino Almeida Rodrigues é um estudante de Direito que , há 30 anos, tenta aprender Direito do Trabalho, reside na pujante e bela Petrolina (corpo) e trabalha na calorosa e festiva Juazeiro( alma)
Bel. Rivelino Liberalino OAB/PE 534/B
Advogado militante nas áreas cível e trabalhista, pós graduado em Direito Tributário pelo IBPEX- Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão.
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