Canudos: jovens vaqueiros mantem tradição da cultura

A poeira levantou, o berrante ecoou e a tradição se fez presente em Canudos neste final de semana, onde vaqueiras e vaqueiros de todas as idades deram o tom de uma tradição nordestina que é parte da identidade dos povos do Semiárido.

A 1ª Cavalgada e Pega de Boi da Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Sítio Antônio Josina, organizada pelo Coletivo de Jovens Raízes Culturalizadas Nordestinas, reuniu, no último sábado (21), mais de 100 vaqueiros e vaqueiras e mais de 300 amantes da cultura, reforçando o papel da juventude na valorização da cultura popular e demonstrando o quanto a nova geração está comprometida em manter a cultura viva.

O evento teve início com uma celebração religiosa na capela da comunidade, onde os participantes receberam a benção – como gesto de fé e esperança na vitória – antes da cavalgada, que seguiu até o local das atividades, onde ocorreu o momento mais aguardado: a solta dos bois.

Na Pega de Boi, quando é dada a largada, os vaqueiros, em alta velocidade, entram no trecho da Caatinga em busca de cortar a “marra do boi” no menor tempo possível – um cordão fino colocado no pescoço do animal, que facilita a retirada pelo vaqueiro sem maltratar o animal). Aqueles que conseguem fazer isso mais rápido são premiados.

Além da competição, o público pôde apreciar um concurso de aboios e toadas, com a presença de Dedé Moreira e Jairo Aboiador. Fechando com chave de ouro, a noite foi encerrada com a premiação das vaqueiras e shows de forró, com mais de quatro atrações locais.

Dessa forma, o evento, além de representar mais um passo importante da juventude na perspectiva de protagonismo e valorização da cultura popular, gerou renda para famílias da comunidade, promoveu o turismo local e fortaleceu os laços entre as comunidades do município e da região. Neste sentido, a participação da juventude dá seguimento a uma tradição de décadas que, ao longo dos anos, tem diminuído devido a uma série de questões, principalmente a falta de apoio e investimento público para pequenos eventos, fora dos circuitos urbanos.

De acordo com o Jovem William Andrade, um dos organizadores, o evento “expressa e reflete a questão do empoderamento do pertencimento da juventude rural; quando essa juventude se empenha e se organiza, ela pode alcançar metas impressionantes. E o evento é a demonstração disso”.

Ele reforça que, durante a fase de organização, por serem todos/as jovens, o grupo recebeu muitas respostas negativas, mas que foi isso que motivou o grupo. “A gente costuma dizer internamente que são os jovens que lidam e aprendem com os "nãos". São os "nãos" que nos incentivam e faz com que a gente ache soluções para alcançar nossos objetivos e realizar metas e neste ano de 2024 a gente veio com essa proposta de realização de um evento com a nossa identidade que é a questão cultural, e o grupo, sentou, reuniu e decidiu pela manifestação cultural da Pega de Boi e da Cavalgada que é muito forte não só em Canudos, mas também no Nordeste inteiro”. William conclui avaliando que a primeira edição “ficou na história, não só no município de Canudos, mas também da comunidade”.

A primeira Cavalgada e Pega de Boi do Sítio Antônio Josina contou com o apoio do Governo do Estado da Bahia, via Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), Secretaria Estadual de Turismo, e Programa Bahia Sem Fome, além da colaboração do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC), do Irpaa e do Grupo Géo

Eixo Educação e Comunicação do Irpaa