Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizado em 2022, aponta que pessoas quilombolas, a partir dos 15 anos, eram 2,7 vezes mais analfabetas do que a população residente no Brasil. Esse grupo etário também é o que apresenta maior deficiência educacional. O nível de alfabetização entre as mulheres foi maior do que nos homens e as regiões Sul, Norte e Centro-Oeste apresentaram o maior nível de alfabetismo, apesar de, quando comparado ao restante da população, o nível educacional ser muito inferior.
Valdir Heitor Barzotto, vice-diretor da Faculdade de Educação da USP, destaca que os números do Censo do IBGE reafirmam duas coisas, “que há um projeto de não inclusão de determinados segmentos da sociedade e que a adoção de um discurso de inclusão, por determinados setores da sociedade, não engana para sempre, os resultados práticos e concretos sempre aparecem e desmentem as campanhas feitas nesse sentido”. Um processo histórico de abandono da população negra mais pobre, mais rural, às vezes mais indígena, para fora da possibilidade de acesso à leitura, à escrita e a outros bens que a sociedade possui explicaria os fatores que contribuem para esse resultado tão negativo, afirma o professor.
Quando questionado sobre políticas públicas, o professor afirma que elas existem, mas não foram formuladas de forma correta. “A alfabetização feita a partir de uma língua que não condiz com aquela praticada pela comunidade também é um fator que contribui para resultados negativos. O que poderia ou deveria ser feito seria preparar pessoas para reconhecer a língua falada na comunidade, reconhecer sua cultura e planejar alfabetização a partir da incorporação desta língua nas aulas e nos elementos próprios da cultura vivenciada na comunidade.”
O Censo também mostra que há mais mulheres alfabetizadas do que os homens, isso se explicaria pelo fato de estudos apontarem que os meninos são retirados da escola mais cedo, muitas vezes para trabalhar. “É difícil generalizar os fatores que levam a mulher a estar mais alfabetizada.”
A população mais carente no Brasil tem sido beneficiada por diferentes políticas, mas as comunidades quilombolas parecem mais desfavorecidas por estarem situadas em comunidades em regiões geográficas estabelecidas por meio de resistência, explica o professor Barzotto. “São afrodescendentes, às vezes agregados a um contingente de descendentes, de grupos étnicos que já estavam no Brasil antes da colonização e isso faz com que os Poderes deixem essas comunidades mais à margem em função desses fatores. São várias as características que colocam essas comunidades mais à margem do que as outras e, de algum modo, suscite em alguns setores mais antipatia por elas.”
Jornal da USP Foto Ministério Desenvolvimento Agrário
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