Encontro do Comitê da Rota do Bode discute construção de política de apoio a caprinocultura

Visando a construção de uma política de apoio e capacitação junto ao Governo Federal para a criação de caprinos utilizando técnicas de melhor aproveitamento do bioma Caatinga, planejar ambientes regulares para a comercialização e, assim, reconhecer a população que investe na produção e criação de animais que são parte integrante da manutenção das tradições de matriz africana, foi realizado na região do Vale do São Francisco, o 1º Encontro do Comitê da Rota do Bode.

O evento, que ocorreu entre os dias 15 e 19 de julho, também teve como objetivo discutir a institucionalização da comercialização de caprinos em várias regiões do país, a fim de garantir a segurança alimentar e nutricional dos povos de matriz africana e fortalecer a caprinocultura nas comunidades tradicionais, especialmente nas de Fundo de Pasto, onde essa prática se configura como a principal fonte de renda. As atividades aconteceram em Pernambuco, no município de Petrolina, e na Bahia, em Casa Nova, Juazeiro e Jaguarari.

Com o público-alvo constituído pela população envolvida direta e indiretamente com a rota do bode e a manutenção das tradições de matriz africana, o evento foi realizado no Auditório do CETEP/Centro Territorial de Educação Profissional do Piemonte Norte do Itapicuru, em Jaguarari. O encontro reuniu mais de 100 pessoas, incluindo representantes de Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto, cooperativas, órgãos federais, estaduais e municipais, além de instituições da agricultura familiar e povos tradicionais de matriz africana da Bahia e região.

O veterinário e colaborador do Irpaa, André Luís, que acompanhou as atividades, destaca as principais dificuldades enfrentadas pelos povos tradicionais de matriz africana em relação ao acesso à comercialização e ao transporte desses animais no Semiárido e em outras regiões do país. "Os caprinos têm chegado a outros estados, até mesmo aqui na Bahia, a preços fora da realidade devido a trâmites muitas vezes não legalizados, em condições de saúde não desejáveis. Além disso, é relatado que muitos animais morrem durante o percurso. Animais que saem da Bahia, do Nordeste, e vão até o Rio Grande do Sul ou o Rio de Janeiro enfrentam alta mortalidade durante a viagem. As comunidades se preocupam com esse bem-estar animal. Essa é uma dificuldade", pontuou.

André argumenta também que os preços dos animais no destino final muitas vezes não refletem a realidade local, sendo excessivamente altos para caprinos jovens sem raça definida, por exemplo. Além disso, há a preocupação com o transporte ilegal para outros estados, sem registros de saída ou chegada, o que impede a fiscalização adequada e deixa os compradores sem informações sobre a origem dos caprinos.

Um dos efeitos positivos da implementação desta rota, segundo André Luís, está na preservação da vegetação nativa da Caatinga, essencial para a criação saudável e sustentável dos caprinos, especialmente nas áreas de Fundo de Pasto. “O caprino só é criado de forma viável e com a sanidade bem preservada se tiver Caatinga em pé nas áreas de Fundo de Pasto aqui da região, que são as áreas que ainda têm caatinga preservada”. Outro benefício, de acordo com o veterinário, seria a valorização econômica do bode, que tem a carne mais saudável, está solto nas caatingas, aproveita melhor o pasto e tem maior capacidade de se adaptar ao nosso clima. Ele avalia que atualmente o mercado local e os grandes centros urbanos preferem carneiro, o que desvaloriza a criação de bodes na região. “Então, a Rota do Bode seria uma forma de melhorar a comercialização desses animais, tanto a carne quanto os animais vivos, e dar a importância real a esse animal”.

A proposição da Rota do Bode faz parte do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos de Matriz Africana (Fonsapotma), que vem reunindo segmentos interessados, instituições não governamentais, parlamentares e governos para essa construção.

O Irpaa esteve presente durante toda a programação, participando e apoiando a iniciativa, que contou ainda com a parceria de organizações populares, dos Ministérios da Igualdade Racial, da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, além da Embrapa, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional e outras entidades.

Ascom Eixo Educação e Comunicação do Irpaa