Rio Salitre: ''infelizmente com a seca do rio agricultores vão para o lado de irrigação, furando poços artesianos"

A comunidade ribeirinha de Lagoa Branca, localizada na zona rural de Campo Formoso, há 64 km da sede do município, sofre com o processo de desertificação devido a seca do Rio Salitre, que dura há cerca de 20 anos. De acordo com o site Comite Hidrográfica da Bacia do São Francisco, o rio que nasce na localidade de Boca da Madeira, no município de Morro do Chapéu (BA), percorre cerca de 333 quilômetros até desaguar em Juazeiro, onde se torna perene por causa da instalação de adutoras, auxiliando quem tira dele a sua subsistência.

Na região de Juazeiro, o rio percorre o Projeto Salitre, que conta atualmente com 255 lotes agrícolas destinados a pequenos produtores rurais e 68 empresariais em uma área de 5.098 hectares onde 1,5 mil hectares correspondem a área irrigada cultivada. Segundo os produtores, enquanto se espera por soluções permanentes para a gestão adequada na região há mais de 40 anos, já se registrou episódios de violência e prejuízos pela disputa da água.

Desde 2017 a situação é de alerta conforme texto publicado no site da CHBSF. De acordo com a agente de saúde Maria Angélica Lemos Soares, moradora da comunidade, a situação de quem vive na região é de preocupação.

“O Salitre já deixou de ser perene há alguns anos, e hoje vemos com grande preocupação a falta de conscientização de muitos que insistem em utilizar esse recurso sem os cuidados necessários. A região da cachoeira é um dos exemplos mais evidentes dos abusos. Aproximadamente 3 Km depois da queda d’água, o rio já não existe mais”, relata.

O Rio Salitre faz parte da bacia do Rio São Francisco e conta com diversos rios que passam por nove municípios do norte baiano, sendo eles: Várzea Nova, Ourolândia, Campo Formoso, Mirangaba, Umburanas, Jacobina, Miguel Calmon, Morro do Chapéu e Juazeiro.

Segundo o especialista sobre seca da Universidade Estadual de Feira de Santana, Washington Rocha, a perda de volume da bacia do Rio Salitre começou a ser registrada no inicio dos anos 2000. ''A partir do ano de 2006 nós percebemos claramente uma redução na quantidade de água acentuada dessa bacia. Em 2022 obtivemos uma leve recuperação, mas isso nos dá uma tendência de perda de 30% de redução de água dessa bacia'' explicou.

Segundo uma pesquisa feita pelos próprios moradores da comunidade, atualmente Lagoa Branca tem cerca de 150 moradores, população que nos anos 90 seria de 300 pessoas. O êxodo rural é decorrente da ausência da bacia.

Com a seca do rio, a economia do povoado de Lagoa Branca precisou passar por mudanças. Segundo os moradores a atividade de pesca era predominante, mas o rio que antes tinha tanta vida hoje apresenta uma coloração escura. A atividade foi substituída pela criação de caprinos e ovinos.

''Sem o rio muitos também partiram para o lado de irrigação, furando poços artesianos e plantação de tomate, cebola, pimentão... Estamos tentando nos adaptar''.
O comerciante Marcos Silva, lembra que em uma realidade que atualmente parece improvável, a mãe dele era pescadora e fornecedora da proteína para o restaurante dele.

'''Infelizmente com a falta de chuva o nosso rio secou e hoje temos a necessidade de comprar peixes em Juazeiro, lá em Sobradinho''.
''Aqui era muito bom, mas depois que tiraram o rio daqui ficou ruim. Todo mundo pescava, mas hoje em dia vamos pegar o quê?'', complementou o aposentado Otávio José da Silva.

De acordo com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, faltam recursos para amenizar os problemas gerados pela seca nas comunidades afetadas. Minéia Clara dos Santos, membro do comitê, relata que dependem da implementação do Plano de Bacia, acordo realizado com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e que teria sido reconhecido há cerca de seis anos.

''Ainda não colocaram recurso para que possamos fazer os processos de revitalização em toda a bacia'', declarou.
Sobre o problema, o Inema informou por meio de nota que através do convênio assinado em 2020 entre o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), serão elaborados mapeamentos estratégicos para revitalizações de bacias em toda a Bahia, além de intervenções na Bacia do Salitre, pela maior criticidade da questão hídrica na região, com investimento de R$6.000.0000.

Ainda segundo o Inema, o contrato para mapeamento e revitalizações foi assinado em dezembro de 2022 e a Sema aprovou o Plano de Trabalho em março de 2023, com previsão de finalização em março de 2024.

Confira a nota completa: O Inema e a Sema, por meio do Convênio Nº 906623/2020 entre o Ministério do Desenvolvimento Regional - MDR e a SEMA, na ordem de R$6.000.0000, serão elaborados mapeamentos estratégicos para revitalizações de bacias em toda a Bahia, além de intervenções na Bacia do Salitre, pela maior criticidade da questão hídrica na região.

Pela Meta 1 do Convênio, foram contratados mapeamentos de áreas degradadas e áreas prioritárias para revitalização de bacias, elaboração de Banco de Projetos para revitalização e elaboração do Programa Estadual de Revitalização de Bacias Hidrográficas, num valor total de R$536.706,40. O contrato foi assinado em dezembro/2022; a SEMA aprovou o Plano de Trabalho em março/2023, com previsão de finalização em março/2024.

Com base na Meta 2, serão implementados intervenções para revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, nos municípios de Jacobina e Mirangaba, a exemplo de projetos de recaatingamento, controle de processos erosivos e beneficiamento de comunidades rurais com saneamento rural, extensão rural e apoio a produção local associada à sociobiodiversidade. Os termos de referência para estas contratações estão sendo finalizados para abertura dos processos licitatórios.

redação redegn com informaçõesg1 E chbsf foto ilustrativa