Infelizmente, mais uma vez precisamos falar sobre isso. Perceber um jogador de futebol, estrela de um dos maiores times do mundo, em uma coletiva, chorar pelo fato de ter de se defender e justificar sobre o racismo vivenciado, dói.
O choro pode ser julgado ainda assim, levando em consideração o fato de ser um homem negro e questionarem: "Ué, mas ele sempre 'bate de frente' no campo e até levanta o punho cerrado. Agora, ele está chorando?"
Sim! Estar no front e lutando frente a tantas violências que oprimem e violentam é dolorido. Ou será que pessoas negras não podem ter emoções? Ou será que não podem se expressar? Possivelmente, ambos os casos.
Quais são os posicionamentos que se tem? Não se tem. Será que existe uma normalização nisso tudo? Interessante dizer que se caso a pessoa reaja e fale algo, ela pode ser entendida como alguém que é arrogante, violenta ou "raivosa".
Caso chore, a pessoa é considerada fraca. Os julgamentos sempre colocam a pessoa nos extremos. Ou se inferioriza ou se percebe como uma pessoa muito ruim.
O racismo adoece e muito. Lutar o tempo todo contra algo que impacta a sua existência. O quanto que adoece a cada um de nós. Para a população negra é sobre lutar pela existência e contra o processo de opressão e violência.
Mas, caso a pessoa fale e diga com todas as letras que aquilo é racismo, logo somos taxados como militantes e raivosos. Para estereótipos que associam pessoas negras ao papel de desumanos serve, não é?
O fato aqui é que o racismo desumaniza, como Frantz Fanon e Abdias Nascimento nos trazem perfeitamente em páginas dos livros "Pele Negra, máscaras brancas" e "O genocídio do Negro Brasileiro. Processo de um racismo mascarado" que, por vezes, precisamos parar e respirar.
Quando abordamos o assunto racismo e saúde mental da população negra, percebemos o quanto o adoecer dessas pessoas ainda é invalidado e ainda pouco abordado.
Isso gera na pessoa diversas marcas, como, por exemplo, o sentimento de não pertencimento; defectividade, que é a sensação de ser defeituoso; desejo de se isolar socialmente; processo ansiogênico, a ansiedade que causa desconforto físico e psíquico, e o silenciamento.
A escritora Conceição Evaristo nos traz uma reflexão com relação à luta que é bastante pertinente para o caso: "eles combinaram de nos matar, mas a gente combinamos de não morrer".
Livia Marques, Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, Formação em Terapia do Esquema, Estudiosa em relações raciais e saúde mental negra, Palestrante, MBA em Gestão de Pessoas, Coordenadora editorial e autora.
3 comentários
30 de Mar / 2024 às 14h17
Srs leitores. No meu humilde entender, acho em princípio, um tema bem complicado afim a tantos outros, esse e tantos outros, chegam a politizar partidáriamente o assunto, chegando ao ponto de, se a pessoa afrodescendente, não possuir mínimo entender de que, quanto mais dá ouvidos,mas, as pessoas a depender da cultura do lugar, não irá parar. Lembro me, de que nos idos de 80, ainda na tão falada ditadura, na nossa capital, depois da África, é local que tem mais afrodescendente, as músicas daquele momento eram," Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear, quando passa na baixa do tubo..
30 de Mar / 2024 às 14h26
O negão começa a gritar, paga ela aí,pega ela aí, pra quer , pra passar batom...." . Também tivemos, "Eu sou negão, meu coração é da Liberdade..." Isso era na chamada Ditadura, não era crime, entre outras músicas afins, eram cantadas nos carnavais de Salvador e todo o estado, que chamamos de Bahia, de todos os Santos e axés, a Bahia sempre foi e é carnaval. Hoje, em plena Democracia, o que na Ditadura se permitia hoje, não mais. Não tive privilégio de lê toda a matéria postada, mas, acho que Vinícius Jr, como jogador de futebol, é fora de série/da curva. Como defensor da nossa causa Afro,
30 de Mar / 2024 às 14h35
Nossa causa Afrodescendente, não o vejo como tal. Óbvio, que cada um tem reação, diante de determinadas ações, porém, se vitimiza e, verdadeiramente não me representa. E, podemos observar, como ele mora na Europa, outros costumes/legislação, quanto mais fala sobre, mais o pessoal irá contra. Eu tenho orgulho de ser NEGÃO. Sou afrodescendente sim. Ficarei "p" da vida, se me chamarem de loiro/galego dos olhos azuis. Aí sim, me afronta. Vá em busca do conhecimento. Que Deus, na sua infinita bondade, continue nos abençoando.