Foi dado o pontapé inicial para o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) financiado pela Fundação Banco do Brasil (FBB) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Representantes legais das dez organizações contratadas para executar o P1+2 se reuniram em Camaragibe (PE), para uma imersão no projeto que irá beneficiar 1.400 famílias rurais do Semiárido brasileiro com cisternas de produção ou segunda água.
O P1+2 é uma iniciativa da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) criada em 2007 com o intuito de ampliar o estoque de água das comunidades rurais e populações tradicionais no interior do Nordeste e em Minas Gerais. O programa visa implementar cisternas de 52 mil litros para plantio e criação de animais. Os objetivos são promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional das famílias agricultoras e fomentar a geração de emprego e renda.Coordenador do P1+2, Antônio Barbosa, apresentou os detalhes do programa | Foto: ASACOM
Com apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o termo de cooperação assinado com a FBB e o BNDES é resultado da reformulação de dois acordos com a AP1MC, entidade que faz a gestão dos programas da ASA, homologados pela Justiça em julho de 2023. O aditivo garantiu ao Governo Lula recuperar R$ 56 milhões que seriam perdidos por problemas de gestão relacionados ao governo anterior.
Desse total, R$ 46,4 milhões são para esta etapa do P1+2 e serão investidos em 17 municípios dos dez estados do Semiárido: Monte Santo (BA); Potengi e Salitre (CE); Araioses (MA); Caraí e Novo Cruzeiro (MG); Damião (PB); São Francisco de Assis do Piauí e Betânia do Piauí (PI); Parazinho e Ielmo Marinho (RN); Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe (SE); Inhapi e Olivença (AL); e Manari e Itaíba (PE).
Durante o encontro de planejamento P1+2/FBB e BNDES, os representantes das instituições sociais conheceram mais detalhes do programa que será executado ao longo dos próximos 18 meses. Foram discutidos temas como execução orçamentária, capacitação das famílias e dos técnicos, fomento rural para produção, fluxo de trabalho na plataforma Siganet e comunicação.
“Esse é um momento muito importante, pois estamos retomando as políticas de convivência com o Semiárido. As organizações contratadas puderam refletir, discutir e organizar as ações [que serão realizadas] em campo. Foram três dias de planejamento desse programa tão importante para nós, porque o P1+2 é o programa que gera alimentos para o Semiárido”, comemorou o coordenador da ASA Bahia e presidente da AP1MC, Cícero Félix.
Considerado mais um marco nesse momento de reafirmação da convivência com o Semiárido depois de seis anos de desmonte das políticas públicas por parte dos governos Temer e Bolsonaro, o Planejamento P1+2/FBB e BNDES também lançou luzes sobre alguns dos desafios da retomada do programa.
Entre as realidades a serem enfrentadas pelas organizações envolvidas no P1+2 estão as questões sobre o papel das juventudes nas estratégias de convivência e a valorização das mulheres nos espaços coletivos e de decisão.
O jovem agricultor de Ouricuri (PE) Guilherme Delmondes, 19 anos, apresentou sua história de vida como exemplo do sucesso da implantação das cisternas e demais tecnologias sociais aliadas à agroecologia. Apesar de, ao contrário das gerações anteriores, poderem permanecer e viver de forma digna na sua região, as juventudes cobram mais investimentos e maior participação nas políticas públicas para o Semiárido.
“É muito significativo estar aqui, 10 anos depois que o P1+2 chegou na minha comunidade e falar de tantos frutos que essa política pública vem produzindo no campo. Porém, precisamos ainda mais de políticas públicas para despertar as potencialidades que estão adormecidas em cada propriedade do Semiárido. É preciso entender também que não é só a terra, mas o direito ao território que o jovem precisa”, afirmou Guilherme, que também é membro do Fórum de Juventudes do Araripe (FJA).
Para a professora Laeticia Jalil, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), as organizações executoras do P1+2 devem construir seus planejamentos também a partir da perspectiva de gênero. Embora a maioria das famílias, sobretudo rurais, sejam chefiadas por mulheres, elas ainda enfrentam a violência no âmbito doméstico e sofrem com a sobrecarga de trabalho levando ao aumento da fragilização da saúde mental.
“É preciso reconhecer que sem o trabalho das mulheres não existiria a agrobiodiversidade no Semiárido, mas não podemos olhar para elas apenas como sujeitos de trabalho, é preciso identificar quais serão as estratégias e promover também cultura e lazer para elas. As organizações não podem esquecer que as mulheres são portadoras de saberes que são invisibilizados, além disso como rede ASA é urgente debater nas comunidades sobre a divisão sexual do trabalho”, defendeu a docente.
Na avaliação de Cícero Félix, as provocações reforçam que é preciso olhar para a retomada das políticas públicas de convivência com o Semiárido para além da implementação das tecnologias.
“O que estamos fazendo é colocando em prática um projeto de sociedade que garante o protagonismo dos jovens e das mulheres. Só assim poderemos enfrentar os outros desafios que estão vindo com a emergência climática, tirar o Brasil de uma vez por todas do mapa da fome, universalizar o acesso à água de beber e realizar a reforma agrária”, disse Félix.
Ariticulação Semiárido Bahia
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