O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro têm feito todos os esforços para manterem acesa a polarização, que será a tônica das eleições municipais de outubro e tende a continuar intensa em 2026.
Os dois, sempre que podem, se hostilizam para as respectivas plateias de apoiadores, mantendo as militâncias dos dois lados açuladas.
Na live que fez ontem, Bolsonaro tentou se descolar do escândalo da espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência protagonizado por um dos seus maiores pupilos — o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Ao afirmar que não existiu "Abin paralela", acrescentou que "para mim não chegava nada (informação)".
No mesmo dia em que a Polícia Federal (PF) cumpria mandado de busca e apreensão no gabinete de Ramagem, na Câmara, à noite Lula alfinetava Bolsonaro no evento de celebração aos 90 anos da Universidade de São Paulo (USP). Acusou o antecessor como propagador da "anticiência", do "obscurantismo" e disse que "felizmente esse tempo ficou para trás".
Esses dois episódios são apenas os mais recentes que reforçam a ideia de que a política tem um novo normal — o da polarização intensa. E que, pelo menos por ora, não há espaço para uma candidatura de terceira via, mesmo na disputa pelas prefeituras em outubro. Segundo o cientista político e professor adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Josué Medeiros, quem quiser ter chances nas urnas terá de levantar a bandeira de um lado ou de outro — condição que desperta paixões e mobiliza o eleitorado.
"Tanto Lula quanto Bolsonaro vão ditar a agenda, para o bem ou para o mal", afirma. A vantagem do atual presidente é que, no período pré-eleitoral, terá condições de fazer um balanço antecipado da gestão à frente do país.
"É tradicional nas eleições que os governos melhorem de avaliação porque passam a ter mais condição de mostrar o que se está fazendo. Esse tour do Lula pelo Nordeste [entre os dias 18 e 19 de janeiro ele esteve em Salvador, Recife e Fortaleza] tem esse objetivo de mostrar que está fazendo muita coisa. Bolsonaro terá de se manter em evidência", recomenda.
Sérgio Praça, especialista em política brasileira e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera que, dos dois, Lula está em melhor posição para turbinar seus candidatos em outubro. "A força política de Bolsonaro diminui a cada dia, pois ele está inelegível e não encontra um nome que possa substituí-lo. Seus filhos são politicamente fracos e sem chances de disputar prefeituras relevantes", frisa.
Mas, para Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a polarização e a nacionalização podem ter menos alcance do que acreditam o presidente e seu antecessor. Conforme analisa, essa estratégia tem impacto limitado para os candidatos apoiados por um ou outro.
"Lula tem interesse em polarizar e nacionalizar a eleição. Mas não dá certo, nunca deu porque a pauta é a cidade. Mas tanto Lula e Bolsonaro estão polarizando as cidades a partir da calcificação política. Com isso, eles solidificam uma pré-campanha para 2026. Bolsonaro vai tentar concorrer e, no final, usar todas as táticas para entregar um candidato", observa.
Correio Braziliense Foto Agencia Brasil
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