Estudo realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), identificou uma associação entre fatores genéticos em um gene de imunidade e o risco de complicações em pacientes internados com covid-19. A pesquisa investigou as mutações no gene MBL2 em 550 indivíduos afetados pela doença, sendo alguns internados na UTI Covid-19 do HU-Univasf e no Hospital de Campanha da prefeitura de Petrolina, entre agosto de 2020 e julho de 2021.
Também foram incluídos indivíduos que tiveram covid-19, mas que apresentaram sintomas leves e não precisaram de hospitalização. Segundo o pesquisador Rodrigo Feliciano do Carmo, professor e membro do colegiado de Medicina da Univasf, "a importância dessa molécula na gravidade da covid-19 já havia sido reportada em estudos investigando populações europeias. Entretanto, este é o primeiro estudo a demonstrar a associação dessas variações genéticas com complicações da covid-19 em pacientes graves, como saturação de oxigênio, risco de intubação e choque".
De acordo com os achados do estudo, as variantes associadas à alta produção de MBL, uma proteína da imunidade capaz de se ligar a açúcares presentes na superfície do SARS-CoV-2, estão relacionadas à proteção contra hospitalização por covid-19 e piora clínica em pacientes gravemente enfermos. "Pacientes que tinham informações em seu gene para instruir a produção de altos níveis dessa proteína estavam mais protegidos de complicações como: baixa saturação de oxigênio, risco de intubação e choque. Por outro lado, aqueles que produzem pouca quantidade da MBL tem maior risco dessas complicações", explicou o pesquisador.
Além disso, a pesquisa trouxe importantes contribuições para novos estudos que avaliam o papel dos polimorfismos do gene MBL2 na piora clínica de pacientes com covid-19 grave, bem como pode auxiliar na identificação de subgrupos de pacientes com maior risco de complicações, possibilitando uma abordagem mais personalizada no manejo da doença. "Esses achados abrem caminhos para uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos na gravidade da covid-19, fornecendo subsídios para o desenho de novos medicamentos ou até mesmo a triagem de pacientes de alto risco para um melhor acompanhamento pelo corpo clínico", completou Rodrigo.
A investigação sobre o papel das mutações genéticas na resposta do organismo ao SARS-CoV-2 é importante para ampliar o conhecimento sobre os fatores que influenciam a gravidade da infecção e para orientar ações voltadas para a mitigação dos impactos da pandemia. A doença, que surgiu na China, em 2019, apresenta sintomas leves a graves, podendo levar à morte. No Brasil, o primeiro caso foi em fevereiro de 2020, com desafios para conter a propagação do vírus e garantir a vacinação via Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre a pesquisa
O estudo foi desenvolvido nos Laboratórios Multiusuários de Pesquisa do HU-Univasf (Lamupe), pelas discentes Lorena Andrade, mestranda do programa de pós-graduação em Biociências da Univasf, e a discente Mirela Sá, do curso de Farmácia, sob orientação do professor Rodrigo Feliciano do Carmo. A pesquisa também teve a colaboração de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Recife e Salvador, fornecendo subsídios para melhor compreensão dos fatores genéticos e imunológicos relacionados ao curso clínico da covid-19.
O artigo "High production MBL2 polymorphisms protect against COVID-19 complications in critically ill patients: A retrospective cohort study" foi publicado na revista científica internacional Heliyon, da editora Cell Press, em 13 de dezembro – acesse o artigo na íntegra. Ele faz parte do projeto intitulado "Identificação de marcadores genéticos de gravidade para auxílio no prognóstico clínico na covid-19", coordenado pelo professor Rodrigo, e recebe financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), por meio do edital emergencial de combate à covid-19.
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