Espaço do Leitor: Minha amada Juazeiro (BA)

Juazeiro é uma boa cidade, de um povo alegre e acolhedor. Cidade banhada pelas águas do Velho Chico, rica em recursos naturais.

Terra de gente criativa e trabalhadora, com grande potencial turístico, artístico e cultural. Seu agronegócio é um dos mais pujante da Bahia e do Brasil, tendo destaque nacional na exportação de fruticulturas.

Sou juazeirense, cresci neste lugar, aqui vivi minha adolescência e juventude, estudei no Ludgero de Souza, Paulo VI e na Escola Luiz Eduardo Magalhães. Foi aqui também, que iniciei minha vida profissional. Casado com uma juazeirense fruto de um namoro de colegial, tenho 2 filhos, e nesta cidade construí minha família e grande parte de minha história. Nestes mais de 40 anos residindo aqui, nunca tive tantas razões para pensar em deixar minha terra natal, como muitos conterrâneos estão fazendo, pois ainda nutro esperanças de que as coisas podem mudar e nossa cidade vir a melhorar.

Como filho desta terra, exercendo minha cidadania, quero expressar um pouco de um sentimento que me acomete nestes últimos anos, e penso que não somente a mim, mas a muitos outros juazeirenses, que possuem um pouco de sensibilidade social e o mínimo de algum valor moral.

Juazeiro é uma cidade, como muitas outras nos rincões desse País, que possui uma classe política desprovida de um espírito cívico e probo, virtudes indispensáveis para aqueles que ocupam funções públicas. Não quero ser desrespeitoso com nossos representantes políticos, por certo existem raras exceções. Mas o que vejo, e não de agora, é uma classe política interesseira, preocupada em si manter no poder, de usar a coisa pública para benefícios próprios e de seus familiares. Alguns agentes políticos de Juazeiro, são dilapidadores do erário público, estão com padrões de vida e de patrimônio muito acima das remunerações recebidas pelo exercício de suas funções públicas. Uma classe política que é desunida, egoísta, perseguidora, que muda de lado conforme seus interesses pessoais, infiéis aos seus partidos quando contrariada, e traidora do povo que confia em seus programas e promessas, e que não aceita ou apoia diferenças. Uma classe política que luta entre si, que usa de obras públicas, que gozam do princípio constitucional da impessoalidade, para se promoverem politicamente. Será que não sabem que as obras são do povo e não de partidos ou de agentes políticos? Mas Juazeiro convive com uma classe política que briga se apropriando de obras da administração para fazer propaganda pessoal.

Sustentada pelo povo que deposita sua confiança nela, e por uma parcela de eleitores partidários, que não estão preocupados com programas de governo, e nem com o bem comum da cidade, pois da mesma sorte que seus representantes, possuem interesses em funções públicas, e que se acostumaram a viverem de cargos na administração municipal, ela vem se perpetuando e alternando no poder.

Juazeiro é uma cidade em que, uma parte considerável da população ainda joga lixo e entulhos nas ruas e terrenos, que não coloca o lixo doméstico no dia de coleta. Pessoas desprovidas de um senso mínimo de civilidade, nem de cidadania e de preocupação com o bem estar dos outros. Uma cidade, que por mais que o ente municipal crie alternativas e campanhas para manter a cidade limpa, sempre tem a aparência de uma cidade suja, e que cheira mal, comprometendo a saúde, o meio ambiente, bem como inviabilizando investimentos e o seu desenvolvimento.

Em áreas centrais de nossa cidade, ainda convivemos com canais com dejetos a céu aberto. Lembro-me de uma gestão que propagou por muitas vezes, que 90% do município estava saneado. De uma outra, que prometeu que os dias das muriçocas estavam contados. Falta-nos pessoas que vejam a política como missão, como um verdadeiro sacerdócio que tem como finalidade a promoção do bem coletivo, que honrem suas promessas.

Juazeiro foi a 10ª cidade mais violenta do país no ano passado, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em seu anuário. A cidade aparece como a 10ª mais violenta do país com 68,3 homicídios por 100 mil. Perdendo na Bahia, apenas para Jequié, Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo, Simões Filho e Camaçari, ambas da Região Metropolitana de Salvador.

 

Juazeiro é uma cidade em que vândalos destroem o patrimônio público, roubam gramas de canteiros, quebram, arrancam, sujam e destroem. Observo isso há muitos anos, não importando a gestão, são investidos dinheiro público na restauração de praças, contornos e logradouros. Mas o ente municipal não zela e nem a população ajuda na manutenção dos equipamentos. Um simples exemplo, recentemente fizeram a revitalização daquele contorno próximo a Barragem do São Geraldo, se olharmos o equipamento já está danificado a grama morrendo, as plantas destruídas. Um verdadeiro desperdício de dinheiro público.

Em Juazeiro existe uma parcela de seus munícipes, que não valoriza o comércio local, preferindo comprar na cidade vizinha. E o reflexo disso, é que muitos empresários estão investindo mais nos empreendimentos de Petrolina do que nos da cidade de Juazeiro. Essa forma de pensar e agir de alguns juazeirenses está dilapidando o comércio local, que a cada dia se mostra enfraquecido, perdendo a pujança de outrora. Tenho pena de nosso shopping.

Juazeiro é uma cidade em que se comercializa, quase todo tipo de alimento na rua, a céu aberto, sem nenhuma fiscalização, nada contra os ambulantes, todavia é preciso organizar. Se constroem barracas em beria de canais, oficinas de funilaria, pintura, metalúrgica, e mecânica nas calçadas. Vejo com frequência a autarquia do Saae realizar ligações de água em empreendimentos construídos sobre imóveis pertencentes ao município, ou em locais impróprios ao que se pretende comercializar. Pode isso? Se o ente municipal legitima ações ilegais, o que espera de seus munícipes?

A noite no centro de Juazeiro está evasiva e sem brilho. Lembro-me do Bar Primavera da Praça do Jacaré, da Come’s e Bebe’s, dos clubes, dos movimentos na Praça da Igreja e da Misericórdia, não era muito, é bem verdade, mas o Centro de nossa cidade era mais alegre e atrativo. A noite de nossa cidade oferece poucas opções de restaurantes, cafeterias, espaços com bom atendimento. Fiquei triste, por minha esposa recentemente, levar alguns parentes vindos de outro estado para comer uma iguaria regional na Orla da cidade, e foram recebidos com um péssimo atendimento. Os comerciantes e prestadores de serviço são de certa maneira, cartão de visita, e esse tipo de postura somente deixa nossa cidade mais pobre.

Nossos conterrâneos que ganham o mundo, esquecem de suas raízes. Para não ser injusto, faço menção de Ivete Sangalo, essa pelo menos se preocupou com suas irmãs juazeirenses, fundou e apoia um Instituto que auxilia mulheres na realização de exames e na prevenção do câncer de mama. Por certo podem existir outros, que desconheça. Sei de alguns que fazem algumas ações assistenciais em fim de ano. Mas a maioria não promove nenhum tipo de iniciativas sociais, que possam ajudar nossa cidade nas muitas carências que ela possui. Juazeiro carece de instituições sérias ou de apoio as que já existem, para abrigar jovens dependentes de drogas, em especial do craque, esse como um câncer está corroendo a periferia, de centros esportivos, de instituições para receber menores que cometem atos dolosos contra a vida, de uma rede de apoio médico e terapêutico a pessoas com ideação suicida, entre outras.

O que falar de nossos serviços públicos? Não quero ser ofensivo, com aqueles servidores que fazem jus ao nome, são servidores do povo. Todavia, aqueles que se utilizam do serviço público de Juazeiro sabem do que estou falando. Sei que toda generalização é burra, mas afirmo, que no geral é de péssima qualidade o serviço público prestado por alguns órgãos públicos em Juazeiro. Desinformação, má vontade, ineficiência e demora, são algumas das mazelas que presenciamos todos os dias. Estabilidade funcional não é sinônimo de preguiça e má vontade. Ademais, não posso esquecer, daqueles cargos de livre nomeação e exoneração, vulgarmente conhecidos como cargos políticos. Desses, ouve-se rumores, de que existe um contingente de “servidores fantasmas” em casa, recebendo sem prestar nenhum tipo de serviço à comunidade.

Nos dias do profeta Elias, em virtude da decadência moral e da corrupção sistêmica das estruturas de poder e do povo, sua geração teve que amargar três anos e meio sem chuva, o que gerou seca, pobreza e miséria, um verdadeiro desfavor divino aos empreendimentos humanos. Uma Terra, uma cidade e um povo afastam a benção de Deus, por causa de sua decadência espiritual, por sua corrupção generalizada, pela injustiça, roubo, fraude, violência, engano, mentira e toda sorte de defeito da alma.

Tenho pena de minha cidade, pois aqueles que se apresentam como pretensos candidatos em 2024, na minha humilde maneira de ver, não merecem mais a confiança e o voto do povo, já tiveram suas oportunidades e nossa confiança. E ainda ouso dizer, pode haver exceções, mas aqueles que se dizem uma nova via, não o são, são apenas representantes da velha e da que se diz nova política de Juazeiro. Os acordos já estão em andamento, pois em nome do poder muitos abdicam de convicções, fazem alianças, negociam a própria dignidade, embora respeito quem pense diferente.

Perdoem-me o desabafo. Sei que existem coisas boas em nossa amada Juazeiro, mas as realidades descritas acima são tantas e evidentes, que acabam por ofuscar o que de bom existe e que está acontecendo em nossa cidade.

Para aqueles que tem dúvidas, não tenho pretensões políticas, não sou candidato a nada. Sou apenas uma voz clamando no deserto. Apenas um cidadão juazeirense, que como muitos outros, ama e quer bem a cidade de Juazeiro. Da mesma maneira, não estou defendendo direita ou esquerda, nem quem está no poder e nem ao menos aqueles que pretendem voltar.

Por fim, Juazeiro terra amada, como aduz a primeira estrofe de seu hino oficial: “Juazeiro, terra amada, Lutarei por teu progresso, Hei de ver-te coroada, Com os Iauréis de teu sucesso.” Como muitos outros juazeirenses que amam essa terra, com minhas poucas forças e no exercício de meu ofício, lutarei por teu progresso.

Desenvolvimento, prosperidade, e paz social são frutos da justiça, da probidade e eficiência administrativa, do exercício da cidadania, do amor, da honestidade e da honra de uma sociedade.

Juazeiro carece de nossas orações. E nesse sentido, até reunir igrejas para orar sem viés político, tem sido difícil.

Deus tenha misericórdia de nós.

Jean Lima dos Santos, é bacharel em direito, advogado, pós-graduando em psicanálise e pastor da Igreja Plenitude.