A empreendedora ambiental baiana Anna Luísa Beserra, de 25 anos, recebeu, na noite deste sábado (4), o prêmio humanitário Muhammad Ali, nos Estados Unidos.
Nos últimos quatro anos, com o financiamento de grandes empresas, ela foi responsável por um projeto de acesso à água potável e banheiro a seco para mais de 20 mil pessoas em áreas rurais de 15 estados do país.
"É um prêmio muito importante, criado pelo próprio Muhammad Ali, que criou esse prêmio por conta do trabalho humanitário que ele já fazia pelo mundo. E agora o prêmio reconhece pessoas de todo o mundo que fazem esse trabalho incrível", disse a baiana em entrevista ao g1 momentos antes de receber a premiação.
A baiana foi a primeira brasileira e segunda latino-americana a receber a homenagem na 10ª Edição Anual dos Prêmios Humanitários Muhammad Ali. A cerimônia foi realizada nos Estados Unidos na cidade natal de Muhammad Ali, Louisville, em Kentucky.
Anna, que já recebeu outros prêmios e mentorias ao longo dos últimos quatro anos, disse que a homenagem pode ajudar a ampliar o projeto desenvolvido por sua startup de democratização do acesso à água e saneamento básico.
"Estou tendo essa honra de ser a primeira brasileira, baiana, mulher, a receber esse prêmio aqui nos Estados Unidos hoje para trazer mais uma vez notoriedade para o tema do trabalho que é acesso a água e saneamento. Na STW, como CEO, eu levo tecnologias com a nossa equipe de acesso a água e saneamento que garantem uma sustentabilidade por 20 anos. Que essas pessoas em situação de vulnerabilidade elas possam, de fato, ter acesso a esse bem que é o direito humano, a água", disse.
"Estou super honrada de estar aqui. Daqui a pouco vai ser o meu discurso. Nervosa um pouquinho porque é um discurso inglês, mas definitivamente vai ficar marcado pela história"
O Prêmio Muhammad Ali Humanitarian Award celebra a dedicação humanitária de Muhammad Ali e tem como objetivo reconhecer uma nova geração de agentes sociais. Desde 2013, o Ali Center presta homenagem a renomados "humanitários experientes" que são nomeados como laureados do Prêmio Humanitário Muhammad Ali.
Em 2019, ainda estudante, a baiana ganhou um prêmio internacional da Organização das Nações Unidas (ONU), graças ao projeto de tecnologia para filtrar água por meio da luz solar. A premiação ocorreu na 74ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em setembro daquele ano, em Nova York. Ela foi primeira brasileira a ganhar o prêmio Jovens Campeões da Terra, da organização internacional.
No mesmo ano, o projeto ganhou um outro prêmio que reuniu 400 startups de tecnologia nos Estados Unidos. O prêmio foi R$ 25 mil.
Nascida em Salvador, Anna precisou de uma grande peregrinação para ter acesso a laboratórios para construir um protótipo de reservatório de desinfecção da água por meio de raios ultravioletas. Atualmente, são quase 20 clientes parceiros da tecnologia que tem capacidade, por cisterna, de desinfectar em média 10 litros de água depois de, em média, 4 horas de exposição à luz solar.
Aqualuz-Desde que fundou a SDW, a já desenvolveu seis tecnologias para saneamento. O primeiro projeto desenvolvido foi "Aqualuz". Anna Luísa, que é formada em Biotecnologia pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), teve a ideia quando tinha 15 anos e ainda estava no ensino médio.
O sistema do grupo usa radiação solar para tornar a água contaminada própria para consumo em regiões castigadas pela seca de forma sustentável.
Trata-se de uma caixa de inox que é coberta por um vidro e uma tubulação simples ligada à cisterna, um reservatório comumente usado para armazenar água da chuva ou de caminhão-pipa. A filtragem da água ocorre sem a necessidade de uso de compostos químicos. Como consequência, ajuda na redução dos índices de doenças.
Cada reservatório de aço inox geralmente é conectado a uma cisterna e tem capacidade de desinfectar em média 10 litros de água depois de, em média, 4 horas de exposição à luz solar. O trabalho é semelhante a uma ação de geração fotovoltaica de energia.
A filtragem ocorre por etapas. São elas:
Primeiro, a água é bombeada da cisterna até a caixa, por meio de um encanamento, passando por um filtro ecológico que é feito de sisal;
O filtro ecológico retém partículas sólidas;
Depois, já com a água armazenada na caixa de inox, ocorre a desinfecção, em que o líquido é exposto à radiação solar para eliminação dos micro-organismos patogênicos. A alta temperatura na caixa ajuda a eliminar impurezas.
Por fim, um dispositivo acoplado à caixa muda de cor e alerta quando a água pode ser retirada da caixa, já pronta para o consumo, por meio de uma torneira.
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