"Nada justifica a morte de um jovem (...). É inexplicável, imperdoável."
Com estas palavras, o presidente da França, Emmanuel Macron, reagiu na quarta-feira (28/6) à notícia de que um jovem de 17 anos morreu no dia anterior pelas mãos da polícia durante uma blitz de trânsito em Nanterre, perto de Paris.
O presidente pediu "calma para que a justiça seja feita".
No entanto, a França registra há dois dias protestos violentos na cidade onde o adolescente morreu e em outros locais do país.
Pelo menos 150 pessoas foram presas em protestos de alcance nacional.
A morte do jovem de origem norte-africana — identificado apenas como Nahel — causou grande choque, especialmente entre as comunidades dos subúrbios mais pobres das grandes cidades.
Um vídeo do incidente que circula nas redes sociais mostra um policial apontando uma arma para o motorista de um carro. Ouve-se um tiro e o carro para.
O adolescente morreu com ferimentos de bala no peito, apesar de ter sido atendido pelo serviço de emergência.
Por sua vez, o policial que atirou nele — que afirma ter disparado porque sentiu que sua vida estaria em perigo — está sob custódia, acusado de homicídio culposo.
As palavras apaziguadoras de Macron não parecem ter acalmado muito os ânimos e, além disso, desagradaram aos policiais.
Protestos e segurança reforçada
Na quarta-feira, milhares de agentes de segurança foram mobilizados para lidar com uma segunda noite de tumultos.
Em Nanterre, a oeste de Paris, cerca de 31 pessoas foram presas na terça-feira, depois que carros e latas de lixo foram incendiados e pontos de ônibus destruídos. Fogos de artifício foram lançados perto de uma delegacia de polícia. A tropa de choque usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, alguns dos quais haviam erguido barricadas.
A polícia de Paris disse ter contido "episódios esporádicos" de violência. Em Toulouse, manifestantes iniciaram um incêndio e atiraram pedras nos bombeiros que tentavam apagá-lo.
Manifestantes e polícia também entraram em confronto na cidade de Lille, no norte.
Os comentários de Macron foram mal recebidos pelos sindicatos de policiais, que acusaram o presidente de julgar apressadamente os policiais envolvidos.
O sindicato Alliance Police pediu que a inocência dos policiais seja presumida até que sejam considerados culpados. O sindicato Unite SGP Police também falou sobre intervenções políticas que fomentam o "ódio anti-policial".
De acordo com a imprensa francesa, a polícia disse inicialmente que o adolescente estava dirigindo seu carro em direção a eles com a intenção de atacá-los.
Mas imagens publicadas online e verificadas pela agência de notícias AFP mostram um policial apontando sua arma para o motorista pela janela e aparentemente atirando à queima-roupa enquanto o carro tentava seguir adiante.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, disse que entrará com uma ação legal contra outro sindicato que postou o que chamou de um tuíte "inaceitável e abjeto" que buscava justificar a morte do adolescente.
A primeira-ministra francesa Élisabeth Borne também se pronunciou, dizendo que a intervenção policial "não está de acordo com as regras".
No momento do tiroteio, havia outros dois jovens no carro. Um fugiu e o outro, também menor de idade, foi preso e detido pela polícia.
Nahel é a segunda pessoa este ano na França a ser morta em um tiroteio policial durante uma blitz de trânsito. No ano passado, um recorde de 13 pessoas morreram dessa forma.
Manifestação
Em um vídeo postado no TikTok, a mãe de Nahel, Mounia, pediu às pessoas que se juntem a ela em uma marcha por seu filho.
"Venham todos, eu imploro", disse ela. "Estaremos todos lá."
As autoridades abriram duas investigações separadas após a morte do adolescente: uma sobre um possível homicídio por funcionário público e outra sobre a falha do motorista em parar o veículo e a suposta tentativa de matar um policial.
O chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, disse à estação de televisão francesa BFMTV que as ações do policial "levantam questões", embora ele tenha sugerido que o policial pode ter se sentido ameaçado.
O advogado da família do jovem de 17 anos, Yassine Bouzrou, insistiu que era uma defesa ilegítima, dizendo ao mesmo canal que o vídeo "mostrava claramente um policial matando um jovem a sangue frio".
Ele acrescentou que a família apresentou uma queixa contra a polícia por "mentir".
BBC | Reprodução/Twitter/@LuigiMastro_
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