Representantes de 30 organizações da sociedade civil participantes da recém-criada Virada Parlamentar Sustentável são praticamente unânimes: o Brasil precisará de muito esforço para reverter os danos causados ao meio ambiente pela legislação recente, considerada retrógrada e destruidora, e pela pouca consciência ambiental dos políticos.
No seminário Desafios e oportunidades para a gestão das águas, realizado na quinta-feira (15), na Câmara dos Deputados, o tom geral foi de alerta, principalmente em relação às recentes leis e projetos que tratam do tema.
“Não estamos conseguindo entender que somos a última geração capaz de frear essa tragédia climática”, comentou a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), coordenadora do grupo de trabalho Gestão das Águas da Frente Parlamentar Ambientalista. Ela recordou que, no ano passado, um terço dos municípios mineiros decretou estado de emergência em razão do desequilíbrio ambiental, tempestades e enchentes.
Por outro lado, pouco se discute a escassez hídrica e a qualidade da água, segundo Maciel Oliveira, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. “Além de necessitarmos produzir água, precisamos fazer com que ela seja de bom padrão”, alertou ele, ao apresentar no evento os eixos e as metas do CBHSF até 2025. Por isso, Oliveira cobrou que os estados beneficiados pelo São Francisco discutam mais, e principalmente planejem, sobre o que fazer com suas bacias hidrográficas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que dois terços da população mundial, até 2025, sofrerá com a escassez hídrica. E que 8% da população vai ter que migrar por conta desse fato. “Nosso parlamento praticamente ignora essas informações”, reagiu Duda Salabert.
Outro tema bastante debatido no evento foi a regulamentação e privatização dos serviços de abastecimento e saneamento. Duda Salabert citou, por exemplo, que Ouro Preto (MG) é um exemplo dessa má iniciativa. “O município tem 20% da população abaixo da linha da pobreza, mas, com a privatização, apenas 5% das residências terão a tarifa social, mais barata”, acusou.
Maciel Oliveira, por sua vez, lembrou, a título de exemplo, da privatização em municípios alagoanos. “Com ela, os povoados e distritos com menos 1,2 mil residências ficaram sem fornecimento de água e sem sistema de esgotamento sanitário”, denunciou ele. Oliveira contou que o CBHSF, para mitigar tais desvios, desenvolve vários programas e metas – como triplicar o número de povoações com 20 mil habitantes ou menos, servidas com cisternas de água para consumo humano e para produção.
Outros temas abordados durante o evento foram o licenciamento ambiental e as outorgas, por exemplo. Carlos Souza Júnior, coordenador do MapBiomas, denunciou que mais de 50 mil represas no Brasil sequer têm licença ambiental.
Representantes de outras ONGs também questionaram o modelo atual de outorgas (autodeclarações e com fiscalização apenas motivada se houver denúncias) e o uso das águas do São Francisco mais voltado ao agronegócio e não à sobrevivência dos ribeirinhos.
O evento é uma sequência da recente Conferência de Água da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja meta é alinhar as estratégias de gestão de recursos hídricos do Brasil às metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável. A Virada Parlamentar Sustentável é um movimento com 30 organizações da sociedade civil e tem como objetivo apresentar aos parlamentares propostas para uma agenda legislativa verde, que promova a preservação do meio ambiente e o combate às mudanças climáticas
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