A música e o carnaval têm uma relação simbiótica. Não há carnaval sem música, são as canções que dão o tom da folia. Samba, pagode, frevo, maracatu, axé, pagodão baiano, guitarrada, funk, hip-hop, rock e até sertanejo embalam as festas de todo o país. Todos esses gêneros participam de uma disputa não oficial pelo cargo de hit do carnaval, o sucesso que animará os blocos e as festas de rua.
Este ano, Léo Santana emplacou o grande sucesso do carnaval com a música Zona de perigo, uma batida contagiante acompanhada de um dancinha e um vídeo que viralizou nas redes sociais do cantor. A música desbancou postulantes como Lovezinho, da cantora Treyce, que bombou na plataforma TikTok. Evidenciando que a internet é uma fonte do que faz sucesso nos blocos de rua. As músicas só estarão tocando nos centros das cidades brasileiras, porque vídeos do próprio Léo Santana ou até do influencer Xurrasco 021 rodaram as redes sociais de milhões de brasileiros nos últimos dias.
Historicamente, as músicas passaram por diversos ritmos e lugares diferentes do Brasil. A Bahia teve sucessos como Faraó (divindade do Egito), de Margareth Menezes, Água Mineral, da Timbalada, Arerê, da Banda Eva, Lepo lepo, do Psirico, Tchubirabiron e Rebolation, do Parangolé. O Rio emplacou marchinhas como Cabeleira do Zezé e Ó abre alas. Carnaval como sempre é a festa de todos, por isso a música que toca nele tem que ser para todos.
Porém, o que faz um hit de carnaval? Pensando no que faz sentido no pop, está a estrutura musical. " Um hit de carnaval precisa ter um refrão chiclete, ser dançante e envolvente. Umas referências a sexo de um jeito mais ou menos implícitas também ajuda, porque muito da brincadeira do carnaval envolve esse apelo", explica o pesquisador musical Marcelo Argôlo, que ainda pontua que o gênero musical não é o mais importante. "Agora, se vai ser um pagode, um samba-reggae, um samba, um arrocha... Isso tanto faz!", completa.
O apego emocional e com o público é talvez o grande diferencial dos sucessos de carnaval. "A música pulsa o que o povo quer. São coisas espontâneas e felizes", explica o também pesquisador musical Ricardo Cravo Albin que fala sobre ser uma essência das marchinhas. "A música de carnaval de essência sempre foi aquilo estruturado na marchinha de carnaval", acredita o especialista.
Em suma, uma música benfeita com um refrão chiclete e com o amor do público tem o poder de bombar no carnaval, se tiver dancinha é ainda melhor. Afinal, não há carnaval sem música. "Não existe carnaval sem música. A música veio antes do carnaval. O resto é a história que todos conhecem", pontua o DJ, curador e membro do bloco Aparelhinho, Rodrigo Barata. "Um hit de carnaval é refrão, suingue e cair no gosto popular", exemplifica o DJ.
Para Cravo Albin, é intrínseco a ser brasileiro o carnaval, portanto, é preciso de música para um bom festejo, para que a folia seja completa. "É impensável um carnaval sem música, seria negar-se a tendência natural do povo brasileiro. O povo dança, e, com isso, canta para botar para fora a energia e a alegria desta grande festa", pondera o pesquisador.
A falta de música geraria uma situação inusitada, mas não inédita, pois Argôlo viveu na pele o que acredita ser impossível: um carnaval silencioso. "Eu já tive uma experiência de carnaval sem música. Foi em 2014, em Cádiz, na Espanha. Era uma multidão perambulando bêbada pelo centro histórico da cidade", lembra o jornalista. "Perdeu completamente a graça da festa", complementa o folião, que ficou traumatizado após o único carnaval fora da festa de Salvador na vida.
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