A nova presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Joenia Wapichana disse nesta segunda-feira (2) que pretende comandar o órgão sem interferência política, com decisões pautadas por consulta aos povos indígenas, e com total autonomia. A fala foi durante um ato simbólico em que lideranças indígenas de todo o país retomaram a sede do órgão em Brasília.
Joenia Wapichana cumpre os últimos dias como deputada federal por Roraima, e participou de uma reunião com lideranças e servidores da Funai, após o ato de retomada. Ela deve pedir afastamento do cargo para assumir oficialmente a presidência da Funai.
"É um momento histórico para os povos indígenas do Brasil que depois de tanta afronta, retrocesso e tendo o único órgão indigenista, totalmente sucateado, desmantelado, hoje, retomar a Funai. Uma Funai que é nossa", disse, em um post no Instagram.
Ela disse que, ao aceitar o convite do presidente Lula (PT), deixou claro que pretende atuar com autonomia, sempre ouvindo os indígenas antes de tomar decisões.
"Não quero interferência política. Questões indígenas tem que ser voltadas para os povos indígenas".
Advogada, ela vai ser a primeira mulher indígena a comandar o órgão. Mais de 300 pessoas, entre lideranças e representantes de povos indígenas de todo o país, participaram do ato simbólico que teve a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.
Joenia se emocionou ao lembrar do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, mortos na região amazônica do Vale do Javari, no Amazonas, em junho do ano passado.
"Esse governo foi responsável, esse que passou, pela morte das pessoas, não só do Bruno e do Dom, mas dos Yanomami que estão morrendo por causa do garimpo, os ataques ali no Pataxó, ali nos Guarani, que eu conheço, do Mato Grosso do Sul. Da mulher que foi assassinada por conta do ódio. Eu venho de um estado - Roraima, para que não conhece, é um estado anti-indígena, que ano passado assassinou uma mulher com uma criança no colo", relembrou ela, emocionada.
Na gestão de Lula, a Funai deixa o Ministério da Justiça e Segurança Pública e passa a compor a estrutura do inédito Ministério dos Povos Indígenas. Nesta, Fundação passou a ser denominada Fundação Nacional dos Povos Indígenas - antes era Fundação Nacional do Índio. A mudança foi feita por meio da Medida Provisória 1.154, publicada nesta segunda.
Ao anunciar Sônia como ministra na última quinta (29), o presidente Lula afirmou que pretendia colocar indígenas também no comando da Funai e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
A nova presidente da Funai também agradeceu a recepção que teve ao chegar no órgão, e reassumiu o compromisso de atuar de forma coletiva, "na defesa dos direitos dos povos indígenas".
g1 | Foto: Reprodução/Instagram
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