Animar, mobilizar e dar continuidade aos grupos e coletivos de mulheres camponesas. No atual cenário de retomada das atividades, após a fase mais aguda da pandemia da covid-19, esse tem sido um desafio comum para trabalhadoras rurais e suas organizações na região do Sertão do São Francisco – Bahia.
No município de Casa Nova, a União das Associações de Fundo de Pasto (UNASFP), em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Juazeiro, iniciou um processo de fortalecimento dos grupos de mulheres, através de uma série de atividades e ações junto às trabalhadoras rurais em suas comunidades.
Com o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), encontros reuniram trabalhadoras das comunidades tradicionais de fundo de pasto de Tabuleiro, Ipueira, Planta, Garapa, Pau de Colher, Serra e Curibonde. Os encontros, realizados nos meses de outubro e novembro, tiveram como objetivo conhecer e apoiar os processos de organização das mulheres, a formação de temáticas específicas e oficinas práticas.
"Esse processo foi de grande importância pois mostra que as mulheres seguem na luta em defesa de seus direitos e territórios, além da troca de experiências entre as associações de fundo de pasto, essa integração", avaliou Rosângela Ferreira, atual presidente da UNASFP.
Intercâmbio de Mulheres
Como culminância desse processo com as trabalhadoras rurais de Casa Nova, um Intercâmbio foi realizado no último dia 3 de dezembro. Cerca de 60 mulheres se reuniram na comunidade Riacho Grande para um dia de partilha, formação e celebração das potencialidades das mulheres camponesas.
"Realizamos esse momento aqui no Riacho Grande, local que já tem uma experiência de luta há mais tempo, como forma de fortalecimento das mulheres dos territórios tradicionais. Planejamos esse intercâmbio com a participação das comunidades que visitamos anteriormente", destacou a agente da CPT Marina Rocha.
Autocuidado das camponesas
Durante esse trabalho de mobilização dos grupos de mulheres das associações de fundo de pasto, um dos temas mais solicitados para ser discutido foi o "autocuidado". No Intercâmbio, realizado no Riacho Grande, a psicóloga Clara Sousa facilitou um espaço de discussão sobre o assunto.
Clara chamou a atenção para a importância de pensar o feminino nas comunidades tradicionais de fundo de pasto, que é composto por aspectos subjetivos, como a história, questões culturais, religiosas e saberes das experiências. A psicóloga abordou o autocuidado na perspectiva do cuidado de si com a integração do cuidado com o outro e do mundo.
"A integração entre autocuidado, autoconhecimento e autoestima faz com que pensemos essa mulher em construção, que também está em processo de sua subjetividade, para assim favorecer a sua comunidade, com uma liderança fortalecida", ressaltou Clara.
Para as participantes do Intercâmbio, a discussão sobre o autocuidado foi esclarecedora, ao mesmo tempo em que serviu de estímulo para mudanças de hábitos. "Às vezes a mulher do campo fica focada só nos serviços de casa e não se cuida muito, mas ela tem que participar de outras coisas", afirmou Dona Diva Braga, da comunidade Riacho Grande. Na mesma linha, Madalena Brito, da comunidade Ladeira Grande, comentou que "a gente esquece desse cuidado que a gente precisa ter para com a nossa pessoa, nosso sentimento de mulher, a gente esquece de se cuidar e que a gente precisa fazer o cabelo, uma maquiagem, sair um pouco, se divertir... a gente precisa mudar o nosso ritmo, além das tarefas de casas, fazer algo que faça bem para o nosso bem-estar".
Comunicação CPT Juazeiro
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