O corpo de Geane Brito, que foi morta com golpes de facão por um colega adolescente, que promoveu um ataque armado no Colégio Municipal Eurides Sant'Anna, em Barreiras, no oeste da Bahia, foi sepultado sob forte comoção na manhã desta terça-feira (27).
Geane era cadeirante e, mesmo não sendo alvo do ataque, o adolescente aproveitou a dificuldade de locomoção dela para golpeá-la. O velório da jovem de 19 anos foi na comunidade Ilha da Liberdade, já o sepultamento foi por realizado no cemitério do povoado de Cantinho do Senhor dos Aflitos.
Antes da chegada do cortejo com o corpo da vítima, alunos de diversas escolas já aguardavam a família. Eles foram em ônibus escolares para acompanhar o sepultamento. Representantes da direção administrativa do colégio, que era cívico-militar, também participaram da cerimônia.
As aulas foram suspensas por uma semana. O corpo de Geane foi sepultado após um momento de oração. Consternados, os pais agradeceram o apoio da comunidade e pediram justiça, para que a situação não volte a acontecer com outras famílias.
A professora de inglês do adolescente relatou que ele é um aluno introspectivo e não apresentava comportamento violento.
"Ele era um aluno muito calado. Se expressava poucas vezes nas aulas, mas fazia as atividades escritas com muito capricho. Sempre sentava no mesmo lugar, e se relacionava sempre com os mesmos colegas que estavam próximos a ele. Não era um aluno de muitas amizades, interagia pouco e a interação era sempre com os mesmos colegas", descreveu Aline Herok.
"Nós não tínhamos conhecimento de comportamento violento, a família nunca nos procurou demonstrando esse comportamento diferente, do aluno. Na sala de aula ele não demonstrava nenhum aspecto de agressividade, de violência, ele era muito calmo, muito tranquilo".
O adolescente, que não teve nome divulgado por ser menor de idade, está hospitalizado sob custódia, após ter sido baleado quatro vezes. A pessoa que disparou contra ele ainda não foi identificada. As investigações da polícia apontam que o adolescente não tinha um alvo.
Além de um revólver, ele também usou um facão na ação. Foi com esse facão que ele atacou a estudante Geane Brito, que não resistiu aos ferimentos e morreu ainda na escola. Aline Herok também ensinava à vítima e classificou a morte dela como "irreparável".
"A Geane era uma aluna muito querida, a escola está consternada com essa perda irreparável. Uma aluna muito querida que, mesmo com suas limitações por ser uma cadeirante e ter grandes dificuldades motoras e de oralidade, e interagia muito com os colegas", disse a professora.
ARMA ERA DO PAI: O estado de saúde do adolescente é estável, apesar de grave. O delegado Rivaldo Luz, que investiga o caso, informou que o revólver usado no ataque era do pai dele.
"Arma era do pai dele. O pai é subtenente aposentado no Distrito Federal. Ele disse que a arma estava guardada. Disse que o filho era introspectivo, calado, tinha poucas amizades, mas era um bom menino, tirava boas notas, embora relatasse que ele tinha faltado muito às aulas, e tinha dificuldade de fazer amizades".
"Dentro de casa, ele tinha uma boa relação e cuidava, inclusive, de um tio que é cadeirante também. O pai relatou que não consegue entender o motivo que levou a criança fazer isso".
O pai do jovem tem a documentação regular desse armamento, que estava escondido em um colchão. Ele também poderá responder pelo caso, já que a arma usada no ataque deveria estar sob o cuidado dele.
"O dever de cautela é do portador da arma, que é quem tem a autorização legal. Vamos avaliar com bastante calma, junto com outros delegados que também estão trabalhando no caso, para que agente possa fazer as coisas com bastante serenidade, com bastante cuidado, para conseguirmos chegar a um final comum".
As investigações da polícia apontam que a jovem Geane Brito, de 19 anos, não era alvo primordial do adolescente. A Prefeitura de Barreiras informou que as aulas na escola em que aconteceu o ataque foram suspensas por uma semana.
"Ele já entrou atirando, não tinha um alvo fixo, então ele tentou acertar o maior número de pessoas possíveis. Em algum momento, a arma 'picotou' [falhou]. Houve uma certa imperícia dele, porque o revólver falhou em alguns momentos. Quando ele conseguiu atirar na entrada do colégio, as pessoas começaram a correr.
"Ele não teve condição com arma, que só tinha seis balas e ele teria que recarregar – e ele tinha material para recarregar –, ele não teve tempo de executar mais pessoas".
Inicialmente, a polícia informou que Geane teria sido baleada. No entanto, durante as investigações, a informação foi corrigida. A vítima foi morta por golpes de um facão. O corpo dela foi sepultado na manhã desta terça.
"Infelizmente a vítima era uma cadeirante, deficiente física. Ela não teve condições de reagir. Ele conseguiu degolá-la e esfaqueá-la".
REDES SOCIAIS: O delegado detalhou que a polícia apura publicações na internet feita pelo adolescente, e informou que investiga a participação dele em outros ataques, que teriam sido praticados em outros estados.
"Nós estamos em contato com autoridades de outros estados, porque há indício de relação com outras situações, em outros estados. Ele tinha uma relação na internet muito forte, e nós estamos investigando outras autoridades para conseguir entender os motivos, a forma, se alguém financiou e incentivou de alguma forma, se participou desse atentado".
"A gente tem indícios, sim, da participação dele em outros estados". O delegado Rivaldo destacou que o adolescente foi responsável por comentários racistas na internet, e todo o material publicado por ele será investigado.
"Ele é aluno introspectivo, conversava pouco, gostava de usar roupas pretas, de fazer comentários racistas na suas escritas. Então nós entendemos que ele programou tudo isso".
Depois que receber alta médica, o adolescente seguirá apreendido. O delegado também informou que já acionou o Ministério Público da Bahia (MP-BA) e a Justiça, com relação ao ataque.
"Ele está apreendido. É uma prisão diferenciada, por ele ser menor de idade, mas é uma prisão. Ele está à disposição da Justiça. Estamos em contato com o Ministério Público e o Judiciário, para que a gente consiga mantê-lo apreendido pelo maior tempo possível, até para entender a situação melhor, tomar o depoimento dele e conseguir avançar bastante na investigação", explicou.
Rivaldo disse ainda que a escola não tinha câmeras internas de segurança, o que dificulta as investigações para identificar como aconteceu a dinâmica do ataque. No entanto, as imagens registradas pelos alunos e por moradores, do lado de fora, vão ajudar nas investigações.
"Essas imagens poderiam nos ajudar bastante para entender como aconteceu o fato. As imagens da câmera de fora já foram recolhidas, estão sendo tratadas para que a gente consiga montar toda a logística do atentado. Na investigação a gente tem muita coisa para desvendar ainda. Vamos continuar ouvindo algumas pessoas e vamos fazer a investigação digital".
O pai de Geane se emocionou ao falar da filha. Antes de saber que a garota tinha sido atacada com golpes de facão, ele chegou a dizer que, se pudesse, teria ficado na frente dos disparos para salvar a filha.
"O sentimento não é de culpado, porque um pai não se sente culpado em um momento desse. Se eu estivesse na hora, eu me atravessava na frente da bala para salvar minha filha. Eu peço desculpa a vocês, porque é triste, um pai está na frente de uma situação dessa, é dolorido", disse José Ferreira.
G1 Bahia Foto Reprodução TV Oeste afiliada TV Bahia
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