Como se faltassem temas de efetivo interesse da sociedade, o presidente Jair Bolsonaro segue se ocupando em atacar as urnas eletrônicas. Autocrático conflita com os demais poderes, a imprensa e qualquer um que não concorde com ele.
Seus correligionários, os que restaram depois de uma gestão catastrófica e na sua maioria manipulados pela cultura do ódio -- vazia defesa quando faltam argumentos --, empregam o que se convencionou denominar "linguagem memética". Algo que tem origem no que Richard Dawkins conceituou no livro "O gene egoísta". Trata-se da unidade fundamental conceptual da memória. Ou seja, para Bolsonaro e seus seguidores não há adversários políticos, só inimigos.
Quem discorda dele é contra ele e, obrigatoriamente, a favor de seu principal concorrente. Isso é falta de entendimento da realidade. Discordar não se constitui em radicalizar. Inexiste no bolsonarismo a consciência de que o debate de ideias traz luz, permite opções. O obscurantismo em que Bolsonaro está mergulhado garante a certeza de que o Mundo reduz-se a ele, ao seu entendimento das coisas e nada além.
Uma conduta que dividiu o Brasil em dois lados: os contra e os a favor. Um retrocesso ao que de pior já existiu na política. É preciso curar o Brasil dessa grave doença, dessa depressão cívica. A ardilosa conduta de Bolsonaro tem obtido resultados ao desacreditar o processo eleitoral, atacar o STF e agredir a imprensa -- ferir a democracia. A rigor, tem criado um clima de golpe e espalhado medo sob a antiga fórmula de transformar o opositor no demônio, para que não reste outra saída ao eleitorado do que ele, o suposto "salvador da Pátria".
Ao colocar em dúvida a seriedade das autoridades, minar as estruturas do Estado, criar e disseminar fakes news, Bolsonaro busca enfraquecer perante a sociedade quem poderia agir dentro da lei contra ele. E vale lembrar que, nesta gestão, tivemos um aparelhamento na estrutura pública federal, com milhares de cargos públicos entregues a militares das forças armadas que estão gostando do poder, dos salários e das mordomias. Por outro lado, a inflação aumenta o recolhimento de tributos pelo Governo que, além de gastar mal, emprega os recursos em ações populistas que atraem eleitores, mas, por outro lado, geram sérias complicações econômicas para o futuro.
O grande desafio do novo presidente do Brasil será governar com equilíbrio e respeito aos interesses da sociedade sem, é provável, ter maioria no legislativo. O que se conhece do eleitor médio brasileiro é o interesse em votar apenas nos candidatos aos cargos majoritários. Para os parlamentos a escolha não tem sido uma prática com base em análises mais aprofundadas, tanto que tempos depois das eleições quando perguntado em quem votou para a Câmara e o Senado parte significativa do eleitorado não sabe dizer os nomes dos que mereceram sua confiança.
Escolher e votar em deputados federais e senadores íntegros, capazes e realmente democratas, em especial nesta próxima eleição, também será muito importante para dificultar golpes, garantir governabilidade e progresso.
*Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, entre outros, de "A Vila que Descobriu o Brasil" (Geração), "Justiça Seja Feita" (Sesi) e "Educação S/A" (Pearson).
3 comentários
07 de Aug / 2022 às 01h06
Perfeito!
07 de Aug / 2022 às 09h22
Srs leitores. Se a difícil equação, lhes deixa indignado, pior que a corrupção sistemática e institucionada no país, durante governo PTistista, se a equação, for tão difícil, ao ponto de compreender, que um ser, ex presidiário, por ato de corrupção, não tem condição moral, de conduzir destinos de um povo, aí, tens que rever valores ética/coerência. O problema não está na equação, está em você, que não quer o pouco que seja, fazer análise profunda, e, procurar separar o joio do trigo. Pensem nisso. Que Deus, continue nos abençoando. Ao entendimento, que não faremos um ladrão, em político.
07 de Aug / 2022 às 11h19
Que belo texto! estou me referindo ao texto (comentário) postado por "SEMPRE JUAZEIRO". Eiat Brasil.