Não evoluímos para nos comunicarmos por meio de aplicativos em telas planas, videoconferências, ou teclar no smartphone. Somos seres tridimensionais e, como tais, é no espaço tridimensional que sabemos nos comunicar, compreender e ser compreendidos, e onde nossos 5 sentidos são sempre ativados simultaneamente.
Diante disso, uma nova forma de interagir com a informação digital está sendo construída e vem chegando com cada vez mais força: o Metaverso. Essa mudança não começou “ontem” e já teve muitos nomes antes – 4ª Onda computacional, Computação Espacial, Realidades Estendidas, VR, AR. E podem estar certos que o nome mudará novamente, por conta de nossa necessidade de criar significado para as camadas invisíveis da realidade digital, que ainda não compreendemos totalmente.
A primeira grande questão é: o que pode tornar-se o metaverso?
Os computadores pessoais, a internet, os telefones celulares, os algoritmos e os petabytes de conteúdo mudaram completamente o comportamento humano e corporativo. O conteúdo sempre com sua disponibilidade cada vez maior, porém preso à telas planas. Quando pensamos em Metaversos, a idéia se inverte: estar dentro da internet, imersos, em conteúdo e informação tridimensional, em tempo real.
Para que isso aconteça, os objetos do nosso cotidiano estarão conectados à web e entre si, posicionados com precisão no espaço tridimensional. Carros, utensílios de cozinha, TVs, casas, roupas numa loja. Tudo conectado de forma transparente, para sobrepor perfeitamente o real e o digital e fazer fluir toda a informação gerada a partir da nossa interação com estes objetos. O mesmo vale para pessoas, animais de estimação e até plantas.
Mas, para isso, é necessário muito desenvolvimento tecnológico, também chamado convergência, para nos levar até lá. Convergência é alcançar determinados patamares de desenvolvimento em áreas complementares da tecnologia, que permitem termos uma experiência satisfatória de imersão, quando comparada à nossa realidade física.
Entre tantas mudanças e evoluções necessárias, quais as mais notáveis?
Primeiro, algo que a maioria de nós raramente pensa: renderizações 3D.
Renders em 3D rápidos, bonitos e realistas, se necessário, serão ancorados na nossa realidade física para encantar, engajar, trazer a sensação de estarmos presentes, sem criar enjôo como efeito colateral. Serão objetos digitais que só estão lá quando você está e quando você interage com eles. Quanto mais “reais” e interessantes estes objetos 3D, mais atraentes serão os espaços e ambientes virtuais.
Também não é novidade que, fora do mundo dos jogos e comunidades, as pessoas vêm usando cada vez mais plataformas sociais que têm como único diferencial o uso de Avatares 3D. Começou com “apenas” algumas centenas de milhões de usuários – o que pode parecer muito, mas está muito longe do número total de usuários da Internet. Isso se tornará a regra e será democratizado.
E qual a razão de tanta mudança? Por que abandonar as telas e conteúdo plano que já funciona tão bem? Humanos desejam interfaces melhores, mais fáceis e fluidas nas interações. Similares (ou melhores que) as que utilizamos no mundo tridimensional. Porque somos convenientemente preguiçosos: queremos estar dentro e fora da internet simultaneamente – socializar em mais de um lugar ao mesmo tempo.
Quando me perguntam se já temos metaversos em operação, respondo que parcialmente: lógicas e elementos de metaverso já são comuns. Ainda não temos nada completo ou em sua forma final – afinal na tecnologia e no design nunca há a “forma definitiva”, há apenas processo e evolução. E, claramente, também não há um Metaverso (no singular). Há uma coleção deles, privados ou públicos, evoluindo em paralelo.
Mas, na verdade, esta pergunta tem um componente geracional muito forte. Se você quer saber se os espaços virtuais de imersão e interação já existem e como funcionam, pergunte às crianças com menos de 11 anos – a geração que nasceu com tablets ou celulares nas mãos – o que elas pensam sobre a existência de metaversos.
Eliza Flores é sócia-diretora e líder de operações na Broders. Em 2009 associou-se à maior produtora de animação e computação gráfica da América do Sul, o que resultou na criação da The Love and Bytes Company, ou VZLab. Já foi premiada em Cannes, AD&D, One Show e outros. Atualmente, na Broders, Eliza trabalha desenvolvendo peças multimídia com foco em imersão - com maior ênfase para as áreas de educação e treinamento.
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