Quase 2 mil prefeituras alertaram para a falta de medicamentos básicos nas farmácias populares e de insumos para tratamentos complexos.
Rejane tem lúpus, uma doença inflamatória em que o sistema imunológico ataca os próprios tecidos. Mas há três meses ela não consegue um medicamento na farmácia pública em Belo Horizonte.
Ela precisa tomar o remédio todos os dias para controlar a doença. A situação continua sem solução.
“Eu entro no aplicativo todos os dias. E todos os dias dá que está aguardando disponibilidade. Se eu paro de tomar, meu sistema autoimune volta a ficar meio louco. Começa a atacar células boas e células ruins ao mesmo tempo”, afirma Rejane Alves Costa Ávila, autônoma.
Um raio-x feito pela Confederação Nacional dos Municípios confirma essa escassez em todo o país: 80,4% das prefeituras responderam que estão sem remédios e insumos básicos para atender à população mais desprotegida, que depende de medicamentos fornecidos pelo governo.
O levantamento foi feito entre 25 de maio e 20 de junho, em mais de 2.469 municípios. Nas farmácias públicas e populares estão faltando pelo menos 60 medicamentos, tanto de assistência básica, quanto da especializada.
Na lista da escassez, estão remédios importantes para controle de diabetes, pressão alta e também antibióticos. Faltam ainda medicamentos mais complexos, como por exemplo quetiapina, desonida, usados no tratamento de leucemia.
A maioria dos municípios consultados não tem condições de regularizar a situação em menos de 90 dias.
Kennedy espera há dois meses pelo remédio para diabetes, que custa mais de R$100. Ele depende do governo para controlar a doença.
“É um custo alto. São duas pessoas aqui em casa que tomamos. Eu tomo diabetes, minha noiva também toma, também tem diabetes. As taxas ficam sempre alteradas. É complicado manter as taxas em dia”, diz Kennedy Paulino, vendedor.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios diz que o Ministério da Saúde já vem sendo alertado sobre o problema há muito tempo: “A gente sabe que está com dificuldade até internacional, mas não adianta querer botar desculpa lá só na parte internacional. Deveria haver planejamento. Deveria o governo que controla essa política nacional, desde a importação de insumos, agora querer culpar a China e a Índia, não sei quem. Faltou esse controle de estoque. Por isso que sempre vem faltando. Lógico que agora foi aguçado pela conjuntura internacional. Então temos que tomar providências imediatas. E nós, na ponta, estamos sem saber o que fazer”, afirma Paulo Ziulkoski, presidente da CNM.
O diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes, Laerte Macedo, explica as consequências da interrupção nos tratamentos: “A pessoa que usa insulina, por exemplo. Se ela deixa de tomar a insulina, ela tem um risco imediato até de morte. De hospitalização, de morte e etc. Outras situações são parecidas. O controle da pressão, por exemplo. Se falta um medicamento, essa pressão vai subir. Ela pode ter manifestações pulmonares, manifestações cerebrais, etc. E isso vai se complicar com outras situações. Muitas vezes até incapacitantes, ou mesmo levando à morte. De qualquer forma, qualquer medicamento de uso essencial que falte é um risco para a saúde da pessoa imediato, em médio e em longo prazos”.
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O Ministério da Saúde afirmou que trabalha para manter a rede de saúde abastecida, que diversas causas globais influenciaram a falta de remédios, que liberou o reajuste de preços dos medicamentos em falta e adotou medidas para reduzir impostos de importação de insumos.
Jornal Nacional Foto Agencia Brasil arquivo
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