Sempre tive com o meu pai, Francisco Rodrigues Setúval uma aproximação maior do que a que tive com a minha mãe, Lindaura Lins Bandeira Setúval; não que o meu amor por ela fosse menor ou maior, mas procurei ao longo da nossa convivência ser mais próximo dele, haja vista que dos seus onze filhos, sete nasceram mulheres e quatro nasceram homens, motivo pelo qual tornei-me, por sensibilidade, admirador da sua intensa capacidade de enfrentar os mais variados caminhos com vistas a educação da sua prole
O fato é que, também, nunca alimentei em mim o Complexo de Édipo. Nosso pai sabia perfeitamente equilibrar todo o amor que tinha pelos seus filhos, frutos do seu duradouro casamento de quase 50 anos com a sua amada dona Lindaura.
O seu trisavô paterno, Vicente Rodrigues Setúval aportou nas barrancas do São Francisco por volta de 1795, vindo, possivelmente, do Arquipélago dos Açores, colônia de Portugal no Atlântico Norte em que existia a maior concentração do seu sobrenome originário da Terra de Camões.
Pilão Arcado ainda pertencia a Província de Pernambuco, quando Vicente Rodrigues Setúval ocupou, em abril de 1822, uma das cinco vagas na recém criada Câmara Municipal, conforme consta nos anais da história de Pernambuco.
Meu pai sempre conviveu com os meandros da política; o meu avô paterno, Getúlio Rodrigues Setúval foi do final do século XIX até a sua morte em 1945, influente político, tendo sido capitão da Guarda Nacional, vereador e prefeito, além de ter sido próspero proprietário de grandes extensões rurais produtivas e coletor da secretaria estadual da Fazenda do Estado da Bahia.
Por oportuno, friso que sempre fui estimulado por ele a percorrer os caminhos da política.
Quando da sua morte, na madrugada de 19 de maio de 1997, dezesseis dias após as comemorações dos seus 75 anos, perdi a minha maior referência, o meu melhor amigo.
Em 1974, com o advento da construção da Barragem de Sobradinho, ele resolveu mudar com a sua numerosa família para Juazeiro, terra que ele amou tanto quanto o seu torrão natal.
Foram tempos difíceis, a CHESF - Companhia Hidroelétrica do São Francisco, responsável pelo projeto da construção da Barragem, era impiedosa com relação aos pagamentos advindos das suas paupérrimas indenizações; os prejuízos econômicos, sociais e psicológicos foram demasiadamente brutais para quem convivia com a fartura da sua terra, e o meu pai teve, por conta dessas inúmeras perdas, nos sustentar, de início, com os seus parcos proventos do seu cargo de agente postal dos Correios e Telégrafos.
Em Juazeiro fez inúmeros amigos. Tinha uma amizade fraterna com o ex-prefeito Arnaldo Vieira do Nascimento, com o jornalista Ermi Ferrari Magalhães e com o médico e jornalista Paganini Nobre Mota.
Com o primeiro, acho que por ele ter nascido em Paratinga, e não em Juazeiro, fizeram deles próximos dos mesmos assuntos: o Velho Chico e as suas histórias e estórias, já que ambos descendiam de tradicionais famílias barranqueiras; o segundo, tinha o respeito de quem costumava olhar com o carinho de um bom anfitrião. Ermi tinha o talento para prover as pessoas com sentimentos nobres; com o terceiro tinha uma fraterna admiração por conta da minha amizade com este. Aqui também teve o apoio fraterno do primo Filemon Lins de Queiroz e da sua sobrinha Maria de Lourdes Lins de Queiroz, promotor público e professora pública, respectivamente.
Juazeiro foi a sua paixão à primeira vista, amou tanto este lugar que nos fez ter por ela o mesmo sentimento nutrido por ele. Tudo foi feito por amor à sua família, procurando sempre incentivar, junto com a sua Lindaura, a orientação contínua de que a educação era o caminho seguro a seguir.
Hoje a sua descendência de filhos, netos e bisnetos têm economista, pedagogo, professor, médica, engenheiros civil e agrônomo, nutricionista e advogado, como resultados das suas iniciativas em terem a coragem de mudar, de oferecer o melhor para os seus descendentes.
A Câmara Municipal de Juazeiro, através de Projeto Lei, subscrito pelas vereadoras Tia Célia e Neguinha da Santa Casa, lhe homenageou com o seu nome numa avenida do bairro João XXIII.
Neste dia – 03 de maio, ele faria 100 anos, o seu centenário, oportunidade em que escrevo este artigo como registro do quanto ele foi importante em nossas vidas, bem como do quanto é valioso mantemos o respeito à sua memória, tão presente até os dias de hoje.
Obrigado, Juazeiro, por ter acolhido tão bem o nosso pai, nosso avô e nosso bisavô Francisco Rodrigues Setúval.
Osanah Setúval
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