Livro Além do Farol será lançado no próximo dia 5, em Alagoinhas

Depois de mais de um mês exposto nas principais plataformas de venda online do país e com boas críticas, finalmente o leitor que prefere ter o livro autografado pelo autor terá sua oportunidade de ter em mãos o livro Além do Farol, do jornalista e radialista Vanderley Soares, que estreia como escritor, depois de ter participado de várias coletâneas poéticas, a exemplo do livro que marcou o Sesquicentenário do Colégio Central, em Salvador.

O livro já tem duas agendas, uma em Alagoinhas, dia 5, às 19h, na Biblioteca Municipal, e a outra em Subaúma, praia do Litoral Norte e ponto inicial para o enredo, no dia 12.

Agnildo resolveu viver na solidão. Viveu na solidão e não viveu. Isso é o que se constata ao se ler Além do Farol, romance de estreia do jornalista Vanderley Soares. A maneira como a solidão o chamou e o abraçou, tornando-se  parte do seu mais íntimo pensamento, do seu primeiro impulso ou desejo, de sua respiração em consubstanciação com os glóbulos sanguíneos, seu olhar para o mundo, iluminando tudo que os homens escondem, precisam esconder para manter a hipocrisia que sustenta o viver social.

Vanderley Soares faz um livro que parece com a praia de Subaúma, habitat desse personagem. As águas parecem tranquilas, mas logo se aprofundam em um piscar de olhos. Não esperem desse livro aprofundamento e a complexidade dos modernistas, Graciliano, Veríssimo, João Cabral, até mesmo por que esses eram gênios. Precisamos da literatura dos gênios, mas também ver a genialidade do intelectual do dia-a-dia, do professor, do engenheiro, do médico e da gente simples. Intelectuais orgânicos como os  chamou Gramsci. Entender que todos nós que pensamos somos intelectuais, principalmente se nos dermos conta do mundo conceitual. Lendo despretensiosamente Wittgenstein, fiquei intrigado com sua afirmação de que as grandes questões filosóficas são desvendadas esclarecendo cada um dos termos empregados na sentença.

Por que Agnildo resolveu viver só? Quem é Agnildo? Um homem de 60 anos que chegou à conclusão que para ele era inviável conviver com a sociedade. Ele não se furta de conviver com os seres humanos, tanto que mantém amizades seletas e  contato com sua madrinha. Certamente aqueles que não introjetaram irremediavelmente os valores egoísticos e materialista da sociedade. O que significa estar sozinho para Agnildo? Significa estar o mais plenamente possível em contato com a natureza. Mas não pode ser qualquer natureza, mas aquela de sua infância, aquela que tem por perto a figura feminina maternal da madrinha. Agnildo portanto é o menino procurando o aconchego da mãe e as belezas da natureza. Não que ele seja um covarde que tenha que se esconder debaixo da saia da Dinda. Seu senso de independência é autêntico, sua tenacidade é certa, inquestionável. Seu controle sobre os desejos prova isso, lutava contra os excessos, não acumulava sequer comida como um ato de fé na providência da natureza.

Como pode se constatar após ser verbalmente mal tratado na praça de Subaúma:

Me senti menos gente, menos humano, mas ao mesmo tempo mais forte, mais confiante. Aquele canto, aquele mar, aquela brisa, aquele pôr do sol e o nascer dele, sozinho para mim, podendo desfrutar todos os dias, era tudo o que eu queria, era tudo o que eu precisava.

Querer ficar só significa não ouvir a voz humana. Também implica em não pensar.  "Além do Farol" pode ser um guia de iniciação à meditação. Ele nos cativa com essa pergunta: por que Agnildo quis ficar só? apenas como uma armadilha para que sintamos essa conexão com nosso interior e com a natureza. Como colega e amigo de Vanderley Soares, posso supor que esse seja seu método para trilhar o conturbado mundo da política e da comunicação. Lembro também de Marco Antunes, assíduo nas missas de Alagoinhas Velha. Como em um espelho, vale a pergunta: por que um jornalista cria em sua alma um personagem que quer se afastar da palavra, quer apenas ouvir as palavras de poucos parcimoniosamente? Engraçado é que Agnildo, sempre muito lúcido, teima em falar com o rádio e a TV. O livro é cheio de  alegorias a serem desvendadas. A personagem traz consigo apenas um jogo de xadrez para desafiar a si mesmo, ver a si mesmo, reforçar seu compromisso com a solidão e se sentir independente. E dois livros, Alice no País da Maravilhas, um verdadeiro tratamento de psicanálise, e o Príncipe, a bíblia da política, curioso. O mar, dizem, também significa o inconsciente.

Não posso dar spoiler nessa pequena  resenha jornalística, mas me permito adiantar que Agnildo conta várias estórias que presenciou nesse seu  "isolamento". O escravo Zó e sua paixão por Lindaura, que aparece extemporaneamente como uma cunha no tempo para lembrar que os negros, nós pretos ainda não nos libertamos. O caso da criança perdida, a amizade do cachorro Bob, o amigo afogado, a tartaruga Cascuda, o bug do milênio, o amor do padre, o menino de rua, a ex-presidiária, a suicida. São estórias contadas por Agnildo ou por Vanderley que não dizem nada da vida do personagem, mas, melhor que isso, mostra como ele vê a vida com compaixão.

E aí  pode estar a resposta para aquela pergunta que nos acompanha por todo o livro, uma alma sensível não suporta o mundo e o mundo se materializa e nos chega pela palavra - o mundo não é um conjunto de coisas, mas de fatos (Weber). Em todas as estórias ele é o narrador que sofre impotente com a dor do outro. Só para dizer uma coisa do talento desse velho/novo escritor, ele nos transporta para Subaúma e nos faz percorrer a alma de um amante da solidão, amante mas nem tanto assim.

Ascom