Mudanças climáticas, aquecimento global, sustentabilidade do planeta. As questões ambientais enfrentam muitos desafios, entre eles a falta de consciência e de informação.
Durante sua Conferência Mundial Virtual, em 2021, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) fez um apelo para que a educação para o desenvolvimento sustentável se torne um componente central de todos os sistemas educacionais até 2025. Mas esta ainda não é a realidade de muitos países, em especial de determinados grupos de pessoas, como é o caso da comunidade surda do Brasil.
Uma aluna de mestrado da USP identificou que sobravam materiais para professores e intérpretes da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), mas faltavam iniciativas de acesso à educação e à tomada de decisão voltadas aos próprios surdos. Pensando na autonomia e no letramento científico deste grupo, Tabita Teixeira criou um material educomunicativo para ensinar o tema da água a pessoas surdas.
O projeto foi desenvolvido no Mestrado Profissional em Ensino das Ciências Ambientais, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional para Ensino das Ciências Ambientais (PROFCIAMB), por meio da associada da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
Ao todo, foram produzidos seis vídeos abordando as temáticas água, bacia hidrográfica, mata ciliar, água virtual, contaminação das águas e gestão compartilhada das águas, que estão disponíveis no canal da Associação de Surdos de Jaú e Região (Asja). “A ideia do material é que ele possa ser utilizado em todos os ensinos, sejam eles formais, não formais ou informais, e por qualquer faixa etária a partir dos 10 anos, para que as pessoas possam entender alguns conceitos mais complexos”, explica Tabita.
A aluna, que é ouvinte, teve a ideia de criar um produto educacional voltado ao ensino de surdos ao desenvolver um projeto de educação ambiental com os participantes da Asja e perceber as dificuldades que eles enfrentam para serem integrados e socializados nas escolas. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, a educação de pessoas com deficiência deve ocorrer de preferência na rede regular, com apoio especializado para atender às suas necessidades.
Além disso, a Libras deveria ser introduzida como primeira língua no caso dos surdos, mas nem sempre isso ocorre. “É cultural. Pais surdos passam para os filhos o uso da Libras; pais ouvintes não estão nessa cultura e muitas vezes tentam “consertá-los”, mas a cultura surda não entende a surdez como uma deficiência e sim como outra forma de comunicação”, esclarece Tabita, que ainda relata a ausência de profissionais capazes de lidar com esses alunos nas escolas.
PRODUÇÃO COLABORATIVA: A produção dos vídeos foi possível devido à colaboração de diversas pessoas, em diferentes âmbitos. Tabita escreveu os roteiros em português; a docente Fernanda da Rocha Brando Fernandez, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do campus de Ribeirão Preto (FFCLRP), que orientou o mestrado, revisou o texto; e a professora Mariana Didone, que é surda e trabalha como intérprete na cidade de Dois Córregos, aceitou traduzir em Libras e gravar os vídeos de maneira voluntária.
O material educomunicativo para ensino de surdos foi contemplado pelo Projeto Salas Verdes, do Ministério do Meio Ambiente, que visa a incentivar a implantação de espaços socioambientais para atuarem como centros de informação e formação ambiental. A iniciativa seleciona vídeos da área ambiental enviados por profissionais de todo o Brasil, que são gravados em CDs e distribuídos para Salas Verdes de todo o País.
redação redegn com informações Jornal da USP
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