Cerrado sofre efeito de avanço do agronegócio. Meio ambiente tem perdido áreas de matas nativas para lavouras e pastagens

Em 10 anos, as áreas de lavouras e pastagens de Minas Gerais aumentaram 25%, segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), boa parte disso em áreas de pastagens, mas um montante importante avançando sobre matas nativas ou em regeneração, sobretudo do cerrado.

De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Minas Gerais, desde 2017, em média, 11.740 hectares de cerrado são perdidos no estado, sendo que em 2021 a área queimada ou desmatada chegou a 15.322 hectares, espaço 30,5% maior que a média dos últimos anos. E uma decisão nas mãos do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) pode provocar novo salto na perda desse bioma.

Na edição de ontem, reportagem do Estado de Minas mostrou como a vocação para a produção de alimentos pelo Brasil trouxe choque com o setor ambiental, sobretudo em Minas Gerais, onde se multiplicam processos de licenciamento ambiental para empreendimentos do setor de agricultura e pecuária. Um dos expoentes desse choque do agronegócio com a preservação é o pedido de desmatamento da Fazenda Novo Buriti, em Bonito de Minas, no Norte do estado, que ainda tramita no Copam, instância em que houve discussões acaloradas sobre devastação, segurança hídrica e sustentabilidade.

De propriedade da BrasilAgro, a fazenda foi adquirida há 14 anos para criação de gado e plantio de grãos. A empresa pretende desmatar 10,3 mil hectares (um terço da área de Belo Horizonte), quase a média de cerrado que Minas Gerais como um todo perde a cada ano desde 2017. Segundo dados do Inventário Florestal e a apuração do Monitoramento Contínuo, o bioma tem atualmente 12.023.344,8 hectares de vegetação remanescente, ocupando 37,8% da área total do estado.

O processo de licenciamento da Fazenda Novo Buriti está em diligências desde reunião realizada em 22 de março. Trata-se de requerimento, feito por conselheiro ao órgão ambiental, de informações, providências ou esclarecimentos sobre matéria em discussão. “O próprio órgão ambiental deverá esclarecer as dúvidas e informações que não ficaram claras no processo e retornar para apreciação do Conselho com os devidos esclarecimentos. Não existe prazo estabelecido para o retorno da análise. As reuniões de Câmara são realizadas mensalmente”, informou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente.

O ambientalista Samuel Leite Caetano, do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA), é um dos que consideram preocupante que seja dada licença para o desmate do cerrado na fazenda.

“É uma intervenção em área de semiárido em processo de desertificação, onde muitos rios que eram perenes estão secando. São comunidades que já sofreram com a degradação ambiental na época do programa Pró Várzea, da década de 1970, que drenou as veredas e gerou escassez. A área da fazenda ainda é uma região que tem água de superfície. Mesmo os benefícios dos empregos não superarão o impacto do desmatamento sobre as comunidades veredeiras. Seria necessário ouvir mais essas comunidades. Ali, temos um mosaico de unidades de conservação e áreas ligadas ecologicamente. Um projeto desses aceleraria a desertificação”, considera.
 

Jornal Estado de Minas