Na periferia de Juazeiro, Movimento Popular de Cidadania questiona: Como vai o Saneamento?

Entre os dias 21 e 23, os bairros Alto do Cruzeiro, Tabuleiro e Alto da Aliança sediaram rodas de conversa como parte da programação da Semana da Água, realizada pelo Movimento Popular de Cidadania (MPC). A provocação “Como vai o Saneamento?” foi respondida com relatos da população, os quais demonstraram realidades distintas, porém alguns problemas gerais se destacam em todos os bairros: falta de água constante, má qualidade da água, esgotos a céu aberto, alagamentos, excesso de lixo nos locais públicos e terrenos baldios e presença incontrolável das muriçocas.

Enquanto as pessoas se pronunciavam na área aberta da igreja católica do Alto do Cruzeiro, as muriçocas precisaram ser amenizadas com uso de repelente, considerado prejudicial à saúde, conforme pontuou uma das participantes, a enfermeira Isana Louise. O número alarmante do inseto no bairro foi uma queixa que se somou à antiga preocupação com os riachos, chamado pela maioria das pessoas de canal, os quais transportam esgoto e nestas últimas chuvas causaram ainda mais problemas devido ao aumento da vazão.

Já o bairro Tabuleiro, além de muriçocas e falta de esgotamento, vem sofrendo com a falta de água. A uma distância média de 500 metros do São Francisco, famílias e comércios estão tendo suas rotinas alteradas devido a falta de água constante, inclusive loteamentos novos estão chegando a receber água de carro pipa, denunciou o presidente da Associação de Moradores/as, Sidney Barbosa e demais moradores/as presentes. Também moradora do bairro, a jornalista Jacira Felix, avalia que nos últimos anos foi feita uma “maquiagem”, uma vez que os problemas seguem ferindo a dignidade das pessoas. Ela alerta sobre a péssima qualidade da água, quando esta chega nas torneiras e caixas d’águas, especialmente nos últimos dias.

O Alto da Aliança também sinaliza que as mudanças ocorreram mais no aspecto visual, pois hoje se ver menos esgotos nas ruas, uma vez que muitas foram calçadas ou asfaltadas. Porém, reclamam que obras inacabadas ou mal planejadas contribuíram com o aumento dos alagamentos, havendo ainda ruas sem acesso a esgotamento, a exemplo do entorno do Riacho Malhada que começou a ser coberto.

Em todas as rodas de conversa, foi possível observar que há um problema crucial hoje em Juazeiro: a falta de infra estrutura para suprir o crescimento da cidade. Todos esses bairros possuem hoje bairros novos adjacentes, onde a população cresce a cada dia. Ao longo dos anos, as gestões municipais não se preparam para isso e o resultado é o caos que vem vivendo bairros e/ou loteamentos como o Sol Levante, Jardim Campestre, Monte Castelo, Bela Vista, Alto Juazeiro, Residenciais do Programa Minha Casa, Minha Vida, etc.

Como vai a fiscalização?

A realização da Semana da Água foi uma das estratégias do MPC para promover uma escuta da população e assim elaborar um diagnóstico acerca da situação do Saneamento Básico em Juazeiro, buscando entender se houve mudanças nos últimos cinco anos, informou Elisangela Cardoso, uma das organizadoras da atividade. Para estimular a conversa com as/os moradores/as dos bairros, foi exibido um vídeo (https://bityli.com/eZZAC) produzido em 2015, o qual apresenta um retrato dos principais problemas enfrentados, principalmente, pela população urbana naquele momento.

Questionários impressos foram entregues, assim como está disponível na internet uma versão online (https://bityli.com/UkgHu), que pode ser respondido por moradores/as de Juazeiro. Em seguida, o MPC tornara público o resultado, sendo este mais um instrumento de pressão popular para defender a garantia do direito ao Saneamento Básico, o que é assegurado a todos/as brasileiros/as através da Lei 11.445/2007.

Durante o diálogo, o MPC informou as/os participantes também sobre a existência do Plano Municipal de Saneamento Básico, sancionado em 2017 e até hoje aguardando regulamentação por parte do Executivo Municipal. Integrantes do Movimento participaram ativamente do processo de elaboração e aprovação do referido plano, que foi projetado para 20 anos e deve orientar os investimentos em Saneamento no município.

Para além do controle social feito pela sociedade civil, a Câmara de Vereadores deveria cumprir o papel de fiscalizar e exigir os componentes do Saneamento à toda população: abastecimento de água; coleta e destino do lixo; esgotamento sanitário; drenagem da chuva e controle de vetores. No entanto, a população pouco tem contado com esta função parlamentar e a jovem Ellen Vitória, do Alto da Aliança, registrou sua revolta com a falta de empenho de um parlamentar que se diz representante do seu bairro. O vereador Mitu esteve presente no evento no Bairro Tabuleiro, onde o mesmo reside, e colocou o mandato à disposição para o que for necessário referente a essa pauta.

O Movimento Popular de Cidadania existe desde 2014 e reúne cidadãs, cidadãos e organizações da sociedade civil do município baiano. Para conhecer melhor esta organização popular, basta entrar em contato pela página do MPC no Facebook ou por meio das organizações que o compõem: Paróquia Nossa Senhora de Fátima no Alto da Aliança, Comissão Pastoral da Terra, Irpaa, Comunidade Santo Antônio no Bairro Antônio Guilhermino, Coletivo Enxame, Comunidade Santa Luzia no Bairro Lomanto Junior, Sindae, Pastoral da Mulher, Pastoral da Criança.

 

Comunicação MPC