Bolo de abóbora com aipim (macaxeira) sem margarina ou derivados do leite. Salada com abóbora, feijão verde cozido, chaya, vinagreira, ora-pro-nobis, alfavaca, pepininho e coentrão. Para completar, um refrescante suco de palma com gengibre e hortelã.
É de dar água na boca. Esses sabores foram experimentados pelas famílias das comunidades de Xique-Xique, em Remanso e Bom Fim, em Casa Nova. Mais do que saborear, as/os participantes contribuíram para o preparo dos pratos servidos no almoço e sobremesa. Tudo isso foi acompanhado do debate sobre Segurança Alimentar e Nutricional – SAN.
“Achei muito importante. É uma alimentação saudável e diferenciada […] A gente aprende a usar alimentos que na maioria das vezes nem sabe que pode incluir na alimentação”, conta Maralina da Silva, agricultora assessorada pelo Irpaa, através do projeto Bahia Produtiva, uma ação da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, órgão ligado à Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR, do Governo da Bahia, o qual conta com recursos do Banco Mundial.
Maralina disse ter ficado surpresa com o sabor do bolo preparado durante o evento. “Gostei do bolo com abóbora, que não utiliza farinha de trigo”, apontou ela ao aprovar a substituição da farinha de trigo pela de mandioca, uma velha conhecida nas despensas das famílias da comunidade. Maralina também elogiou a qualidade da salada preparada pelas/os participantes. “Além da cor, o sabor ficou bom”, exalta.
O encontro teve momentos de discussão sobre a importância de se alimentar bem e de priorizar aquilo que é produzido na comunidade. Antônio Amorim, agricultor que também faz parte do projeto, disse que gosta de participar dos encontros porque aprende novos conhecimentos, “principalmente na área alimentar, que as pessoas às vezes não dão tanta importância”. Antônio aprovou tanto o debate teórico, quanto as comidas. “Comi, gostei e aprovo”, declara o agricultor.
Assim como Antônio, muitos homens participaram da formação, interagindo e dividindo os trabalhos com as mulheres. “Houve uma surpresa muito grande que foi a presença dos rapazes aqui contribuindo, cortando, ajudando, atentos. Esse é um diferencial muito grande”, aponta Zelice Maria, nutricionista que facilitou a oficina. Ela chama atenção para o objetivo do encontro, que é evidenciar “todo potencial produtivo e alimentar das famílias”.
André Luiz, colaborador do Irpaa, explica que apesar do projeto ter bem definido o objetivo de fortalecer a produção e a comercialização, também tem foco na Segurança Alimentar e Nutricional - SAN, uma das premissas do trabalho do Irpaa. Segundo o colaborador, a instituição preza por pautar a SAN nas comunidades e as oficinas servem para “resgatar essa cultura do alimento saudável, nativo da nossa região, junto com alimentos resistentes cultivados aqui”. Ainda de acordo com André, os encontros servem para “trazer novas receitas, mexer com a criatividade das pessoas para fazer alimentos criativos, nutritivos e saudáveis”.
EnviarEm consonância com André, Zelice diz que a formação “serve para mostrar que é possível comer bem, comer saboroso, comer saudável com os alimentos que a gente tem no entorno” e assim “mostrar na prática tudo que a gente vem dizendo na teoria”.
GUERRA E INSEGURANÇA ALIMENTAR: O Brasil tem sido exposto ao risco de ficar com déficit de alimentos por causa da Guerra da Ucrânia, já que a Rússia, país envolvido no conflito e principal fornecedor de adubos químicos para o Brasil, pode não conseguir dar continuidade ao fornecimento desses produtos. A situação expõe o risco que há na perca da soberania sobre as sementes, um perigo que encontra força no crescimento das sementes transgênicas.
Além da ameaça transgênica, ultimamente o Brasil tem reduzido a produção de alimentos muito consumidos pelas/os brasileiras/os, enquanto aumenta a produção de grãos para exportação. “A gente tem uma redução grande na produção de arroz e feijão. Isso é muito preocupante”, alerta Zelice.
Ao destacar a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos, a nutricionista chama atenção para o valor das sementes crioulas. “Tendo a sua semente tradicional você tem um seguro muito grande, você tem a garantia de que você pode perpetuar o alimento”, pontua. “As sementes tradicionais são a garantia de liberdade, de independência e de segurança alimentar”, arrebata.
Eixo Educação e Comunicação do Irpaa Foto Ilustrativa
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