Dia Mundial do Compositor é comemorado neste sábado (15)

Antes mesmo de “Garota de Ipanema” ganhar a interpretação de nomes como Frank Sinatra, Nara Leão, Gilberto Gil e Sérgio Mendes, a obra de Vinícius de Morais e Tom Jobim percorreu caminhos que rendem histórias até hoje.

Para a música nacional mais gravada e cadastrada no banco de dados do escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) se tornar esse clássico da MPB, houve o casamento perfeito entre melodia e versos sobre um cotidiano. É a sensibilidade na produção de quem, neste sábado, 15, celebra o Dia Mundial do Compositor, com todas as pompas que a data merece.

Em meio a tantos trabalhos consagrados, ainda assim, no Brasil, a atividade só foi reconhecida como profissão artística através da lei 14.258, de 3 de dezembro de 2021. Mas muito antes, o País ostenta uma lista de grandes compositores. 

Boa parte alçou a carreira em torno de obras que se imortalizaram, a exemplo de Ary Barroso, com “Aquarela do Brasil”, Pixinguinha e João de Barro, com “Carinhoso”, e Luiz Gonzaga interpretando e assinando canções como “Asa Branca”, “Assum Preto” e outros. Nando Cordel também é um nome que não se restringe a Pernambuco. Das suas parcerias com Dominguinhos, “De volta pro Aconchego” é marcada pela interpretação de Elba Ramalho, enquanto “Hoje é dia de folia” ganhou espaço na voz de Xuxa.

São canções que boa parte do público só toma conhecimento quando estoura no mercado. Um processo que começa antes, ainda mesmo nas primeiras ideias na cabeça do autor. “Pernambuco tem uma tradição de ser porto, de receber e enviar muita informação. Há uma reinvenção constante do lugar criativo, então vamos ter gente fazendo forró muito bem, com outras linguagens, tangenciando sua obra e a escolha das palavras aos lugares mais diversos possíveis, e isso enriquece a escrita. Por outro lado, temos uma grande variedade rítmica no Estado, que também influencia os compositores”, adianta o multiartista pernambucano Juliano Holanda, 44, com mais de 300 músicas gravadas por nomes como Zélia Duncan, Felipe Cato, Martins, Almério, entre outros. 

Processo criativo-“Estamos num período muito fértil de grandes talentos, não só na Capital, como no Interior. Vejo muitas mulheres. E é bom quando o ofício se estabelece, há um entendimento do público daquilo que é criado”, completa. A caruaruense Isabela Moraes é uma delas, com 23 anos de carreira, já foi gravada por Paulo Neto, Almério e Mariana Aydar. “Eu ouvia ou via determinada situação, ou simplesmente imaginava uma situação, e fazia a canção. Muitas vezes apenas deito para dormir e, no sonho, nasce a canção, e apenas transcrevo para o papel. Como é o caso da faixa 11 do meu disco ‘Estamos Vivos’”, diz Isabela, reforçando que qualquer situação pode virar uma letra.

Entre os vários talentos pernambucanos, um deles é fazer frevo como ninguém. Capiba compôs clássicos como “Madeira que cupim não rói”, “É de amargar”, “Oh, bela” e por aí vai, com muitas gravações dedicadas a Claudionor Germano.

Mas seja em Olinda ou Recife, não há Carnaval de rua sem os clássicos de J. Michiles, que tanto contribuíram para uma certa modernização do gênero. É assim desde 1986, com a música "Bom Demais", gravada por Alceu Valença, “que é um dos meus grandes parceiros nessa caminhada”, reforça o autor de “Me Segura Senão Eu Caio”, “Diabo loiro” e “Vampira”. 

O olhar sobre o folião pernambucano é a base para as canções carnavalescas. Que o diga Almir Rouche, criador de “Galo, eu te amo”, feito a partir da saudade do maior bloco de rua do mundo. O autor de “Recife maracatu” e “Recifolia” tem cerca de 45 composições assinadas, entre frevo, maracatu, forró e baladas românticas. Ao mesmo tempo, é um dos grandes intérpretes do mercado, abrindo espaço para músicas como “Deusa de Itamaracá”, de Marrom Brasileiro. “O bom intérprete vê coisas que a composição às vezes não enxerga. Temos grandes compositores e grandes intérpretes. Ninguém mostrava a poesia do Sertão sofrido como Luiz Gonzaga. Também temos mestres de frevo, como Expedito Baracho e Claudionor Germano, nos tempos áureos”, destaca.

Para quem vive dos ritmos pernambucanos, a influência musical vem desde o berço. “No forró, eu escuto muita gente, desde Jackson do Pandeiro ao pessoal mais novo. Sou ligado ao que tá acontecendo também. Bebo das grandes fontes, mas me ligo aos nomes de agora. No forró cabe tudo, do Sertão ao Litoral. O amor é sempre muito forte”, comenta Roberto Cruz, com seus 20 anos de estrada, sendo mais de 100 composições nas vozes de Irah Caldeira, Nádia Maia, banda Som da Terra e Geraldinho Lins. Com Flávio José viu o seu “Sem destino e sem conserto” ganhar o Brasil. “Mas em qualquer gênero, você pode escrever sobre tudo”, conclui.
 

Folha Pernambuco