O Brasil vai ficar sem referências sobre os dados de desmatamento no Cerrado a partir de abril. Por falta de verba, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desmobilizou a equipe de pesquisadores focados no monitoramento do bioma, e os dados devem ser mantidos até abril. Depois disso, o projeto vai ser descontinuado.
O monitoramento é essencial para a tomada de ações na preservação do bioma.
“É um projeto importante para acompanhar a questão hídrica, a agricultura. É um projeto de baixo custo se comparado ao valor que esses dados têm para o mercado, mas não temos investimento”, afirma Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas.
De acordo com o Inpe, a verba que mantinha a equipe de monitoramento do Cerrado se encerrou em 31 de dezembro, mas o órgão não tem orçamento para continuidade do programa. Para manter a equipe e o projeto de pé seriam necessários R$ 2,5 milhões ao ano.
Segundo o balanço mais recente divulgado pelo Inpe, divulgado em dezembro, o desmatamento no Cerrado aumentou 7,9% entre agosto de 2020 e julho de 2021, alcançando a marca de 8.531 km². A extensão corresponde a cinco vezes a cidade de São Paulo.
Financiamento: Desde 2016, o monitoramento era feito com financiamento do Forest Investment Program (FIP), administrado pelo Banco Mundial. A verba de US$ 9 milhões era dividida entre o Inpe, para a pesquisa, e outras duas universidades. Em 31 de dezembro, o financiamento se esgotou.
"Nós conseguimos organizar um excedente de orçamento para manter o monitoramento até abril, mas já não temos mais recursos. Manteremos até abril com muito menos que o necessário”, afirma Almeida.
Segundo Almeida, são necessárias 20 pessoas para manter o projeto. Desde 2017, a equipe faz monitoramento diário e balanços anuais sobre o Cerrado com uso do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).
O Cerrado concentra oito nascentes das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país. É um bioma importante para a distribuição de água no Brasil. Por ter o solo mais alto, absorve a umidade e leva água para 8 das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país.
Na região da bacia do Rio Paraná, que abastece Itaipu, o Cerrado responde por quase 50% de toda a vazão. As regiões do São Francisco, do Parnaíba e do Paraguai – esta última ligada ao Pantanal - têm uma dependência hidrológica ainda maior: o bioma é responsável por aproximadamente 94%, 105% e 135%, respectivamente, de toda a vazão. Com isso, se falta chuva no Cerado, o país inteiro sente.
O Inpe tenta novas verbas com a sugestão de um novo projeto de monitoramento de biomas brasileiros, o que incluiria o Cerrado. A proposta seria financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), mas ainda não há retorno sobre a aprovação.
O que diz o Ministério da Ciência e Tecnologia> A reportagem do g1 acionou o Ministério da Ciência e Tecnologia, mas aguardava o retorno até a publicação.
G1
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