Apesar de ser um conceito cada dia mais difundido, a compreensão da agroecologia ainda é desconhecida de uma parcela significativa da população. Consiste em conceber a produção de alimentos com uma preocupação ecológica, considerando as dimensões naturais, culturais e sociais que envolvem a complexa relação entre seres humanos e demais seres vivos.
Ao contrário do que muita gente ainda pensa, agroecologia e produção orgânica não são a mesma coisa. Por exemplo, uma produção orgânica pode acontecer em larga escala, concentrando terra e água e explorando a mão de obra de trabalhadores/as, logo, essa experiência não será agroecológica. Para assim se configurar, além da produção ser saudável, é necessário que tudo que envolve o processo de produção também seja. Ou seja, se há exploração dos bens naturais de forma descontrolada, relações de opressão e desigualdades, não é agroecologia.
Na comunidade Coxo de Dentro, em Jacobina, a família de Sandra Almeida vende na Feira Orgânica que existe na cidade desde 2010. Ela conta que já participou de diversos intercâmbios e formações e que, de início, as/os feirantes encararam o desafio da população não optar pela produção orgânica, mas hoje há uma maior aceitação. A família produz frutas, verduras, legumes, ovos, aves e também flores e consegue uma renda média de R$ 250 a R$ 300 semanal. “Para melhorar mais, eu acho que tinha que ter mais divulgação (...), mais parceria”, reivindica a agricultora.
Para o gestor Tiago Dias, de Jacobina, é preciso ampliar os incentivos e subsídios para que as/os agricultores/as possam produzir e consumir o alimento saudável e vender o excedente, pois hoje o consumo orgânico é feito por quem possui maior poder aquisitivo. Para ele, a relação com a saúde e a segurança alimentar são eixos centrais nessa discussão.
“Essa vinda da ANA, esse esclarecimento, também pode ajudar nesse sentido (…), a produção orgânica também tem um papel social, de garantir a alimentação saudável para a população, para que tenha alimento de boa qualidade, evitando ir para os postos de saúde”, enxerga Tiago. Melhoria de estradas rurais, assessoria técnica e programas de incentivos são algumas das propostas pontuadas pelo Pcdobista no sentido de cada vez mais viabilizar a produção e a comercialização de base agroecológica.
Do total de candidaturas que assinaram a Carta ano passado, apenas 172 foram eleitas, conforme registro no portal da Campanha. Deste número, 47 assumiram o Executivo e 125 estão nas câmaras municipais. Além dos municípios onde a iniciativa vem sendo desenvolvida, outros vem sendo influenciados a partir da ação em redes territoriais e regionais protagonizadas por organizações sociais que defendem a pauta.
Para fortalecer a incidência política focando na construção de políticas agroecológicas em nível local, é essencial uma ação engajada e firme dos movimentos sociais, organizações como associações da agricultura familiar, sindicatos, além de iniciativas/estratégias já existentes no município. Isso é estratégico “para incidir nesses espaços maiores de discussão sobre planejamento, construção e monitoramento de políticas, porque esses espaços representam a sociedade civil, e apenas a sociedade civil organizada nos territórios é que possibilita esperançar e construir saídas possíveis diante da política da morte e da fome imposta pelo atual governo”, aponta Karine.
Em acordo com a consultora da ANA em Pernambuco, o consultor da Bahia, Claudio Lasa, considera que a Agroecologia nos Municípios é uma experiência “inovadora, porque leva o cerne da discussão para a sociedade civil (...), e, tendo a possibilidade de se articular com o poder público municipal, melhor ainda”. Para ele, “a médio e longo prazo, essa iniciativa vai ter continuidade, acredito que vai se desdobrar em outros projetos, outras iniciativas, talvez com outros nomes, mas sempre com essa perspectiva de fortalecimento, de construção da hegemonia da sociedade civil”, vislumbra.
Enxergando a Primavera - Numa perspectiva de abrir as janelas e enxergar a primavera exalando aromas e colorindo o jardim, a ANA tem apostado também numa estratégia de comunicação que valoriza as experiências a partir da fala dos/das agricultores e agricultoras. Além disso, a formação tem sido outra aposta que vem sendo desenvolvida pelos núcleos regionais.
“Uma das coisas importantes do Agroecologia nos Municípios é desenvolver essa comunicação agroecológica, mais enraizada, cada vez mais próxima dos territórios (...), a ideia de cada vez mais ter as pessoas que fazem agroecologia nos territórios, ocupando os meios de comunicação da ANA”, pontua a coordenadora de Comunicação Viviane Brochardt. Além disso, a comunicadora destaca que o trabalho de assessoria de imprensa junto à mídia nos estados e nacionalmente sempre prioriza enfatizar “os sujeitos que fazem agroecologia como protagonistas das matérias, das pautas”.
Parcerias com veículos como o Mídia Ninja, Brasil de Fato, Canal Saúde, da FioCruz, têm ajudado a fortalecer canais de diálogos entre a agroecologia e os meios de comunicação, potencializando histórias contadas pelas pessoas que desenvolvem a prática agroecológica. Esta tem sido a base da comunicação feita pela ANA e pelas organizações que estão nos municípios.
A comunicadora popular Anne Girassol, da Cofaspi, em Jacobina, chama atenção para a importância de desenvolver a chamada comunicação popular agroecológica, que se propõe também a visibilizar aspectos e contextos normalmente ocultados ou criminalizados nos meios de comunicação convencionais.
“Por exemplo, quando a gente vai a campo, a gente não mostra só o trabalho do homem, do agricultor, a gente mostra o trabalho da mulher que por muito tempo foi invisibilizado, a gente tenta inserir a juventude, a gente tenta tá sempre mostrando os rostos de mulheres negras, de homens negros (...). É esse tipo de comunicação que a gente tenta fazer e o Agroecologia nos municípios tem possibilitado isso aqui no território”, externa Anne.
Esse trabalho de formação, de divulgação e de assessoria de imprensa propagandeia a agroecologia como caminho que a ASA também acredita e defende a partir da concepção de Convivência com o Semiárido. “Se a gente considera que a agroecologia é uma saída para resolver essas tantas crises civilizacionais, globais, que perpassa pelo modelo de produção (...), se a gente considera que a agroecologia é um modelo de produção que repense e possa transformar, pra mim é um privilégio tá divulgando as experiências agroecológicas e tá contribuindo pra (...) regeneração do planeta e propiciar que as futuras gerações tenham esse planeta e esse modelo de produção mais saudável”, concluiu Anne Girassol.
Asa Bahia
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