De 2015 a 2020, 35 mil crianças e adolescentes foram assassinados no Brasil, uma média de 7 mil por ano. É o que revela estudo inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Unicef. O número de crianças até 4 anos mortas aumentou 27% em 2020. "É assustador. Pouquíssimos países no mundo tem mais de 7 mil mortes de crianças por ano. É um volume muito alto", diz Danilo Moura, Oficial de Monitoramento e Avaliação do Unicef no Brasil.
Durante 24 dias, a Caminhada Justiça por Beatriz, 700 km, entre o sertão de Petrolina e a capital Recife, menina assassinada em 2015, no colégio das freiras Nossa Senhora Auxiliadora, com 42 facadas, conseguiu romper o grito de diversas pessoas e lutas em busca de justiça e disse não aos frios números das estatísticas governamentais.
Agricultores, rezadeiras, movimentos sociais, políticos, estes (acostumados aos mais duros debates e aflições, choraram abrançando Lucia), também idosos, territórios indigenas, quilombolas avolumaram as vozes por justiça. Algumas crianças se vestiram de anjo para receber Lúcia Mota, Sandro Romilton e o Grupo Todos por Beatriz. O asfalto e praças, sítios e casas, buzinações e acenos foram palcos da expressão divina: Solidariedade.
Nas centenas de fotos divulgadas pela REDEGN, falas e entrevistas, dores e esperanças foram transformadas na força que move. Vozes se fizeram, ecos e brilhavam numa expressão misteriosa, como se tivessem sido tocados por um clarão de eternidade. Para caminhar 700km é preciso fé, força, organização, vencer os desafios a cada segundo.
A reportagem da REDEGN voltou a conversar com uma das caminhantes. Deniliria Cavalcante, empresária e bancária, 35 anos. Ela representa todos os brasileiros que gostariam de abraçar e caminhar com Lúcia e Sandro. Deniliria é membro e coordenadora do Movimento Todos por Beatriz. Ela e amigos estão juntos desde 09 de janeiro de 2016, quando promoveram a primeira manifestação, ato protesto em busca de Justiça. O bom combate confinuará em 2022 e quantos anos forem precisos. A causa é justa.
Mãe, Deniliria compreende as razões e emoções de tantas e outras mães. Houve choro na estrada. Lágrimas transformadas em expressão de vida; "Sou mãe, sou amiga, sou mulher me sinto na obrigação de fazer enquanto cidadã de contribuir para que um crime tão bárbaro não fique impune", diz.
O aniversário de Deniliria aconteceu no percurso do dia 27. Deniliria naquela madrugada não dormiu. Sua oração, prece, reza se fez eco. "Na caminhada encontramos outras mães e pais. "Impactante. São centenas de histórias, algumas tão desafiadoras quanto o caso de Beatriz. A caminhada exigiu de nós todos, muito equilibrio emocional e assim como recebemos amor também doamos", reflete Deniliria.
"Temos agora no final da caminhada e inicio de 2022 mais uma instrumento para fortalecer o pedido de federalização, sabemos que é um desafio grande, o pedido oficial já foi protocolado agora vamos buscar a agilidade para o parecer. Essas histórias tem muita semelhança com o Caso Beatriz, são histórias de dores e Impunidade", revela Deniliria.
"É preciso ter coragem para exigir nossos direitos e contribuir com um futuro melhor para outras gerações, se refletirmos sobre nossa história enquanto mulheres logo perceberemos que hoje podemos usar short, dirigir, votar e expor nossas opinião e para isso muitas mulheres precisaram ter coragem diante de uma sociedade que não dava espaço para elas, imagino que no futuro famílias como a de Lucinha terão seus direitos mais protegidos", finalizou Deniliria.
O escritor Gilberto Amado disse a propósito da morte e parafraseamos: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós...Mas com seu desaparecimento (Beatriz) não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da inocência sorriso de criança e sonhos mágicos de quem tem 7 anos".
Disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".
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