Felizmente, a "Síndrome do Ao Ao" não é mais uma variante da COVID 19, contudo e infelizmente, ela é uma epidemia que contagia os órgãos públicos, que prejudica tão-somente aos desprovidos.
É inegável que a maioria desses órgãos prestam um péssimo serviço à comunidade, porque além de possuírem administradores indiferentes, muitos dos quais só ocupam as funções por indicação política, poder e salário, possuem alguns servidores lerdos, ignorantes, soberbos e mal-educados. Esquecem-se que somos nós quem lhes pagamos os seus salários por meio dos nossos impostos.
Não obstante, conheci e conheço muitos servidores públicos que são verdadeiros exemplos de bondade, competência, instrução, atenção, presteza, paciência e humildade, no atendimento a qualquer pessoa.
Na prática, a "Síndrome do Ao Ao" acontece quando uma pessoa dá entrada num requerimento em algum órgão púbico, sem saber dos procedimentos posteriores, que geralmente acontecem dessa forma:
Após o recebimento do requerimento, a seção do protocolo abre um processo (físico ou virtual) e encaminha para a (o) Chefe de Gabinete do Presidente ou Secretário.
Depois de alguns dias, semanas ou meses, a (o) Chefe de Gabinete despacha o processo para uma das diretorias, que despacha para o gerente, que despacha para o departamento, que finalmente despacha para o setor.
O chefe de setor, o último a receber o processo, após lê os diversos despachos constata que a demanda não é de sua competência e o devolve "Ao" Sicrano, que devolve "Ao" Beltrano, que devolve "Ao" Fulano, que devolve "Ao" Gabinete do Presidente ou Secretário.
Esse vai e vem do processo, onde todos empurram com a barriga é chamado de "Síndrome do Ao Ao".
Enquanto isso, o pobre coitado que deu entrada no requerimento, reza diariamente e acende uma vela para Nossa Senhora Desatadora dos Nós (que tem esse nome porque desatou o nó da desgraça que Eva deixou para o gênero humano) e para Santo Expedito (santo das causas justas e impossíveis que foi Senador de Roma, Príncipe-Consul do Império Romano na Armênia, militar, Comandante da XII Legião Romana e, mesmo nessa condição, converteu-se e converteu muitos soldados ao cristianismo), para que os ajudem a resolverem o seu problema.
Para quem tem dúvida da "Síndrome do Ao Ao" cito por exemplo um requerimento que dei entrada num bendito órgão público no dia 18/12/2018. Praticamente um ano depois (12/12/2019), esse órgão me pediu novos documentos para que pudesse dar sequência na análise do meu pedido. Sabendo de que eu não teria resposta imediata, entrei com um processo na justiça que segue do mesmo ritmo.
Daqui a pouco chegará um novo vírus e o meu processo permanecerá no mesmo lugar; com falta de ar e tosse, provocados pela poeira burocrática.
Gilberto Maciel dos Santos, 66 anos, juazeirense.
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