O controle biológico da praga Ceratitis capitata, conhecido como a mosca das frutas, está animando os fruticultores de mais de 600 pequenas propriedades de seis municípios da região do Vale do São Francisco e a equipe envolvida no trabalho com participação de diversas entidades e órgãos governamentais.
A manga, conforme dados da última Pesquisa Agrícola Municipal (Pam/IBGE), teve o maior crescimento entre as frutas baianas em 2020 com 6,4% de aumento da produção, somando 470.487 toneladas, e valor da comercialização de R$ 755,4 milhões, o que representou 15,8% a mais que no ano anterior.
O combate às pragas e doenças que atacam as lavouras é um desafio constante, principalmente pelas exigências dos consumidores do mercado externo, destino da maioria das frutas desta região, que tem uma área com manga em produção estimada em 46 mil hectares.
A mosca das frutas é um dos grandes problemas da fruticultura mundial, representando prejuízos ao produtor e ao entorno. Alguns mercados não aceitam nenhum fruto com a larva, bem como cancelam as negociações com regiões de onde são detectados frutos com excesso de produtos químicos, utilizados convencionalmente para combater as pragas e doenças.
Neste contexto há 15 anos foi criada a Organização Social (OS) Moscamed Brasil, desenvolvendo pesquisas para obter o controle sem uso massivo de inseticidas, fazendo o monitoramento severo, aplicação de soluções naturais e soltura, através de drones, de insetos machos estéreis nos pomares infestados.
Diretor presidente da OS, Jair Virgínio explicou que os estéreis copulam com as fêmeas, cujos ovos não produzem novos filhotes. Ele, que é doutor em radioentomologia, conduz as pesquisas e a produção dos insetos na biofábrica da Moscamed, que desenvolve, entre outros, um trabalho para combate biológico ao Aedes Aegyti.
Para fortalecer a cadeia produtiva, pela sua relevância social e econômica, foi criado um grupo de trabalho que visa aumentar cada vez mais a cobertura com o controle biológico.
“O ideal é ter 100% da área com o manejo, pois se um produtor não cuidar se sua área, os pomares vizinhos serão infestados”, disse o analista técnico e gestor do projeto de Agronegócios da regional Sebrae/Juazeiro, Isael Pina. Ele lembrou que na década de 1990 aconteceu o primeiro movimento entre a Embrapa Semiárido e a organização Valexport para combater a praga.
Pina citou que em 2019 a parceria do Sebrae com o Senar e a Codevasf viabilizou o Projeto de Controle e Monitoramento, com recursos do Ministério da Agricultura (Mapa). A iniciativa teve apoio da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e da Abrafrutas e participação ativa da equipe Moscamed.
Além de Juazeiro, a iniciativa chegou a Abaré, Casa Nova, Curaçá, Sento-Sé e Sobradinho, alcançando mais de mil pequenos produtores rurais, com a meta principal de sensibilizar a todos, através de cursos e dias de campo.
Para dar seguimento ao trabalho uma reunião foi convocada pela Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), que também atua nesta causa, para o dia 15 de dezembro, em Juazeiro, com convite a todos agentes envolvidos nas iniciativas anteriores.
"O monitoramento da mosca-da-fruta é de vital importância para os mercados, como uma garantia, um balizamento do nível de infestação nos pomares”, disse o secretário da Agricultura, João Carlos Oliveira, pontuando que é um processo consolidado mundialmente.
Ele salientou que a Seagri apoia essa e outras iniciativas que proporcionem “conjugar alta produtividade com baixo emprego de químicos, incentivando pesquisas e criando políticas públicas que, cada vez mais, façam com que os produtos do campo da Bahia sejam os mais saudáveis possíveis".
Considerado projeto-piloto da experiência, no Distrito de Irrigação Mandacaru, zona rural de Juazeiro, os produtores estão satisfeitos com os resultados, de acordo com o gerente e produtor, Manoel Matias.
“Nossa expectativa é ficar com os pomares livres desta praga”, afirmou, salientando que “existe um esforço conjunto para aumentar a conscientização. Esperamos continuar com a participação de todos os órgãos envolvidos e, quem sabe, podem chegar mais”.
Técnico em agropecuária, Marcos Ferreira trabalha do distrito e disse que todas as semanas estão sendo liberados insetos estéreis, com queda de infestação entre 50% e 90%. “Colhemos frutos perfeitos agora, praticamente sem furos (livres da infestação)”.
Ele explicou que outras atividades também são muito importantes neste processo. Independente de projeto externo a principal medida que cada produtor deve adotar é limpar os pomares, tirando as frutas maduras caídas no chão. “Com isso tem redução de 90% das moscas, porque o lugar ideal para elas depositarem os ovos é a polpa madura das frutas”, concluiu.
A Tarde
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