A Polícia Federal ouviu presencialmente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Planalto. Por quase um ano, o presidente da República afirmou que gostaria de depor por escrito, mas mudou de ideia no início de outubro, no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iria julgar essa possibilidade.
O inquérito, que apura se Bolsonaro teria tentado interferir na PF, foi aberto em abril do ano passado, após o ex-ministro da justiça Sergio Moro apontar que o presidente o pressionava para substituir o diretor-geral da corporação por um aliado.
Ao ser questionado pelo delegado Leopoldo Soares Lacerda, responsável pelo caso, Bolsonaro confirmou que, em meados de 2019, solicitou a Moro a troca do comando da PF e alegou que não havia qualquer insatisfação ou falta de confiança com o trabalho do então diretor-geral, Maurício Valeixo, mas apenas uma falta de interlocução.
Ele disse ainda que nunca teve intenção de obter informações privilegiadas, de interferir no trabalho da polícia judiciária ou de obter relatórios da Polícia Federal, e que a indicação de Alexandre Ramagem para o comando da PF foi aceita por Moro com a condição de que o ex-ministro tivesse uma indicação futura garantida ao STF.
Em nota, Sergio Moro afirma que jamais condicionou eventual troca no comando da PF à indicação ao STF, que não troca princípios por cargos, e que os motivos reais da substituição na Polícia Federal foram expostos pelo próprio presidente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
Bolsonaro defendeu que não obtinha informações de forma ágil e eficiente por parte da Polícia Federal, e que foi isso que quis dizer quando afirmou, na reunião ministerial citada por Moro, que a PF não lhe dava informações.
Segundo o ex-juiz da Lava Jato, essa declaração evidenciaria o intuito do presidente em ter acesso a relatórios sigilosos da corporação. Outra declaração de Bolsonaro que foi questionada durante o depoimento foi a de que ele tentava fazer trocas na segurança do Rio de Janeiro.
Sergio Moro pediu demissão do Ministério da Justiça dois dias depois de uma reunião ministerial. À Polícia Federal, Jair Bolsonaro disse que se referia à segurança pessoal de sua família, e explicou que entende como interferência política pedidos políticos e não técnicos.
O depoimento do presidente é uma das últimas etapas para a conclusão do inquérito pela Polícia Federal.
Assim que finalizado, o relatório deverá ser remetido ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe decidir se há provas suficientes para a apresentação de uma denúncia contra o presidente da República.
CNN / foto: Marcos Corrêa/PR
1 comentário
05 de Nov / 2021 às 23h32
se depender do Aras não vai dar em nada...