Em Juazeiro e Petrolina graves acidentes, com mortes, envolvendo ciclistas comoveram a população nos últimos dias. As mortes provocam debates nas redes sociais. Na última década, mais de 8,5 mil ciclistas morreram em acidentes de trânsito no Brasil. (Ciclistas são atropelados na BR-235, em Juazeiro; um deles está em estado grave e Tragédia: Ciclista é atropelada na Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio em Petrolina)
Dados da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) sobre o aumento de acidentes graves com bicicletas no Brasil é alarmante. Segundo a entidade, os atendimentos médicos envolvendo ciclistas cresceram 30% nos primeiros cinco meses de 2021 se comparado ao mesmo período do ano anterior.
O estudo se baseia em informações oficiais do Datasus, departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS). Existem mais bicicletas do que carros no Brasil. São cerca de 50 milhões de bikes contra 41 milhões de automóveis, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"Esses dados demonstram a importância de termos atenção e iniciativas focadas nesse público. O uso da bicicleta cresceu no Brasil e exige uma abordagem de prevenção ao sinistro", afirma Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
A Abramet revela que esses dados servirão de base para propostas de ações e procedimentos que aprimorem o atendimento de ciclistas, além de reforçar políticas públicas que os protejam.
A Abramet aponta que a ausência de infraestrutura adequada nas cidades, combinada com a falta de campanhas educativas e de prevenção voltadas aos ciclistas, são o principal motivo do crescimento dos indicadores de acidentes fatais.
O perfil do usuário de bicicletas mudou bastante. Diversos fatores estimularam a migração de outros modais de transporte para o ciclismo: o excesso de congestionamento nos grandes centros, o preço do combustível.
"A superioridade numérica dos acidentes envolvendo pedestres e motociclistas fez com que os ciclistas fossem negligenciados enquanto objeto de políticas de prevenção. Percorrem ruas e estradas, partilhando espaço com veículos pesados e, muitas vezes, sequer sendo percebidos”, diz Flavio Adura, diretor científico da Abramet.
“Comparada a alguém que se desloca em um automóvel, uma pessoa que circula em uma bicicleta tem uma probabilidade de óbito oito vezes maior", completa.
Segundo, Odir Züge Jr, doutor e especialista em questões cicloviárias, "transformamos as ruas das cidades em trincheiras de guerra quando dirigir automóveis particulares é percebido como direito, adquirido através da emissão de um documento, que atesta a capacidade de um indivíduo conduzir ou pilotar um veículo".
Penas para quem pratica homicídio na direção de veículo automotor estão previstas no Código de Transito Brasileiro e no Código Penal. Homicídios culposos - quando não há intenção de matar - causados por imprudência, negligência ou imperícia no trânsito, estão previstos no CTB. Já os homicídios dolosos - quando há intenção ou o risco de matar é assumido , por exemplo quando há a ingestão de bebidas alcoólicas ou substância psicoativa antes de dirigir - está previsto no Código Penal e possui implicações mais graves enquanto o "homicídio culposo no Brasil tem uma pena leve, e a qualquer momento essa pena pode ser transformada em prestação de serviços", explica Züge.
Nos vácuos da confusão entre direito e permissão para dirigir, da impunidade no trânsito e da negligência do Estado, a epidemia de mortes no trânsito avança. O Brasil é o quarto país com maior índice de fatalidades no trânsito.
Redação redeGN Fotos Thiago Santos
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