Evitar a exposição desnecessária de crianças à Covid-19 é a melhor forma de protegê-las contra os efeitos da doença, principalmente entre as não vacinadas, que não contam com a proteção que os imunizantes promovem.
Mas essa proteção se tornou mais desafiante neste momento, com o aumento das flexibilizações, do avanço da variante Delta e da volta às aulas no país, que tornam as pessoas não vacinadas mais vulneráveis.
Segundo especialistas consultados pela CNN Brasil, o risco de uma criança ser hospitalizada ou morrer por Covid é bem menor do que do adulto, por isso crianças de zero a 11 anos não estão sequer na fila da imunização.
O risco, embora mínimo, existe e deve ser minimizado, sobretudo porque o risco de internação e de morte por Covid-19 é muito maior entre os não vacinados.
Para evitar um cenário pior nas crianças não vacinadas, é fundamental que adultos que convivem com crianças se imunizem e mantenham as medidas de prevenção em casa, na escola e em outros locais por onde elas transitam, dizem os especialistas.
Vacinação e prevenção de adultos
Para proteger as crianças do novo coronavírus, é essencial que os adultos, sobretudo os que convivem com elas, tomem as duas doses da vacina contra a Covid-19 e mesmo assim mantenham as medidas de prevenção contra o vírus.
Isso porque nenhuma vacina contra Covid previne totalmente a infecção pelo novo coronavírus e que ele seja transmitido para outras pessoas, alerta Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o distanciamento social, o uso de máscaras de tripla proteção (N95 ou PFF2), a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel antes de tocar o nariz, olhos e boca, juntamente com a vacinação, são as medidas mais eficazes para conter o novo coronavírus e suas variantes.
Outra forma importante é fazer o exame RT-PCR até o quinto dia de sintomas semelhantes ao da Covid-19, pois, detectada a doença, há possibilidade de isolar os infectados e evitar que a doença se espalhe.
“Mesmo os vacinados não podem deixar as medidas de prevenção contra Covid para evitar a infecção e, consequentemente, proteger outras pessoas”, disse Kfouri.
"A diferença aqui é que os não vacinados, além de poderem ser contaminados, correm mais risco de ter a Covid grave porque não podem contar com a proteção realizada pelo imunizante", diz Renato Kfouri.
Apostar em atividades essenciais
Para o Francisco Júnior, gerente-médico do Sabará Hospital Infantil, o momento atual ainda pede cautela quando o assunto é circular com crianças em locais fora de casa.
Para ele, um bom recurso é manter somente atividades essenciais com as crianças e evitar locais que podem ser visitados em outro momento, principalmente se envolver possíveis aglomerações.
“Temos que encarar essa pandemia como algo que ainda está evoluindo e temos que manter os cuidados”, afirma.
“Não é porque estou levando meu filho para a escola que vou levar ao clube, fazer uma festa para 200 pessoas. Ele está indo para a escola porque precisa de suporte educacional, emocional, precisa de socialização. É importante manter somente o que não dá para abrir mão”, orienta.
Para o infectologista pediátrico e vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, Victor Horácio de Souza Costa Júnior, é perceptível o aumento de casos e de internações de crianças após feriados, quando famílias se reúnem e transmitem a doença para outras pessoas, inclusive as crianças.
"Depois de feriados sempre aumenta o número de casos em crianças e o que contribui para isso é que os pais se contaminam e levam o vírus para dentro de casa. Vejo como o maior fator de risco o ambiente domiciliar, como a falta de cuidados do portão de casa para fora", diz Victor Horácio de Souza Costa Júnior.
Escola não é o problema
Para ambos os médicos, o retorno às aulas requer a manutenção das medidas preventivas contra a Covid-19, mas deve ser considerada uma atividade segura para as crianças no atual momento da pandemia.
“Vejo uma preocupação das escolas com os cuidados de protocolo, professores usando equipamentos de proteção e a política de higienização, o que faz a escola um ambiente seguro para a criança frequentar”, diz Costa Júnior.
“Apesar de tudo o que acontece no Brasil, há um esforço muito grande em fazer as crianças usarem máscaras tanto nas escolas privadas quanto nas públicas, o que é muito positivo”, diz o gerente-médico do Sabará.
Segundo ele, 80% dos casos de crianças com Covid-19 que ele observou no hospital foram de infecções causadas no ambiente familiar, não na escola.
Para a pediatra Lucília Faria, coordenadora do Departamento de Pediatria do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é fundamental manter as medidas de prevenção contra o novo coronavírus em casa e na escola para evitar uma nova necessidade de isolamento das crianças.
“Se a gente tiver um aumento nos casos e internações nas crianças vamos ter que dar um passo atrás e voltar as medidas de isolamento, o que para o desenvolvimento psicossocial das crianças é ruim. Mas é o que terá que ser feito até conseguirmos vacinar as crianças”, disse a pediatra do Sírio-Libanês.
Cuidados coletivos
Apesar de depender de ações individuais, os cuidados preventivos devem ser encarados como uma ação coletiva para, de fato, serem capazes de proteger as crianças, segundo o pesquisador em Saúde Pública, Marcelo Gomes, coordenador do Sivep-Gripe, da Fundação Oswaldo Cruz.
Segundo Gomes, as internações de crianças e adolescentes por Covid-19 vivem uma estabilização no país, mas, diferentemente dos adultos, em alguns estados ainda há uma leve tendência de aumento, justamente porque as crianças voltaram a ficar mais expostas.
Por isso, estamos em um momento que é crucial manter protocolos para evitar o contágio entre elas.
"Este cuidar individual acaba tendo impacto nas crianças. Quando eu uso máscara, eu diminuo o risco de levar o vírus para casa e para minha criança e diminuo o risco dos meus filhos levarem para escola e expor seus colegas", diz Marcelo Gomes.
CNN / foto: reprodução
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