O volume útil do reservatório do Sobradinho, um dos principais do país, correspondeu a 47,81% de sua capacidade total, em agosto passado. Os dados são da Agência Nacional de Águas (ANA).
De acordo com a ANA, o menor volume útil do Lago de Sobradinho no mês de agosto foi registrado em 2017, durante o período da seca, quando alcançou a marca de 7,77%. Já o maior deles, foi em 2004, quando atingiu 82,16%. Na época do apagão que aconteceu entre os anos de 2001 e 2002, o volume era de 15,05% e 30,78%, respectivamente.
Segundo Almacks Luiz Silva, secretário da Câmara Consultiva Regional do Submedio São Francisco, o reservatório de Sobradinho gera energia para uma cascata de usinas. São elas: Paulo Afonso I, II, III e IV; Apolônio Sales; Itaparica e Xingó.
"Toda água que sai de Sobradinho é aproveitada para gerar energia nessas outras [usinas]", explica.
No dia 30 de agosto, a vazão do Lago de Sobradinho ficou maior. Ela passou de 1 mil m³/s para 1,3 mil m³/s, para atender às diretrizes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
De acordo com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), essa mudança serviu para otimizar o Sistema Interligado Nacional (SIN), além de assegurar o armazenamento do reservatório de Itaparica, na Região Metropolitana de Salvador, em no mínimo 30%.
Conforme explica o secretário da Câmara Consultiva Regional do Submedio São Francisco, quanto maior a vazão, maior a geração de energia e menor o volume de água. Segundo ele, essa água não fica armazenada na bacia.
"Temos dito que podemos exportar água do semiárido para outra região, mas não podemos importar a crise hídrica do sul e do sudeste para o nordeste", diz.
Almacks ainda detalha que esse aumento na vazão pode ser responsável por desestabilizar toda uma cadeia produtiva de "vários usos múltiplos, de todo ser que vive na bacia, inclusive animais".
"Somos responsáveis por manter essa quantidade [de água]. Se baixar muito isso [o volume útil], vai estar privilegiando apenas a parte elétrica, queremos que sejam priorizados todos os usos".
Ainda segundo Almacks, não é possível detalhar os estados, nem as cidades para onde a energia vai, e muito menos a quantidade, pois ela é distribuída para onde está tendo maior demanda.
No município de Sobradinho, no norte da Bahia, cerca de 4 mil agricultores dependem do reservatório para trabalhar. Logo, com menos água, a produção também diminui.
Outra preocupação é em relação aos moradores que estão nas áreas por onde a água escoa. Com o aumento da vazão para gerar energia nas hidrelétricas de Sobradinho e Xingó, pode haver alagamentos na região.
Em outubro de 2020, o reservatório de Sobradinho teve maior vazão liberada em anos, e a Chesf fez um alerta à população ribeirinha. Segundo a Chesf, responsável pela administração e manutenção da barragem, a vazão seria gradualmente elevada até chegar a 2.600 m³.
A Chesf detalhou que o aumento da vazão seria para abastecer o Rio São Francisco no período anual de escassez hídrica, já que a previsão do próximo período chuvoso começaria em novembro de 2020 e terminaria em abril deste ano.
Em junho deste ano, o período sem chuva na região norte da Bahia provocou um recuo de cerca de 100 metros nas águas do Lago do Sobradinho, e uma queda no nível de volume útil do reservatório. De acordo com a Chesf, o volume útil de água registrou 62,61% do total; percentual bem menor que os 93,8% contabilizados em junho do ano passado.
A bacia do Rio São Francisco é responsável por 17% da energia armazenada máxima do sistema interligado nacional. Deste número, o reservatório de Sobradinho é responsável por 10,4% da energia armazenada.
Na época, a Chesf informou que a situação era de alerta, mas que não havia riscos para a geração de energia da usina.
No entanto, o pior cenário registrado em 85 anos foi em setembro de 2016, quando o nível era de 12%.
Segundo dados da Chesf, o reservatório de Sobradinho tem cerca de 320 quilômetros de extensão e conta com uma superfície de espelho d'água de 4.214 quilômetros quadrados.
A capacidade de armazenamento do reservatório é de 34,1 bilhões de m³ em cota nominal de 392,50 m, segundo a Chesf. Por causa disso, ele é considerado o maior largo artificial do mundo.
Natally Acioli, TV Bahia e g1 BA
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