De 2016 a 2019, a população brasileira afetada pela insegurança alimentar moderada e aguda aumentou de 37,5 milhões para 43,1 milhões. Um estudo da Universidade de São Paulo aponta que em 2019, antes da pandemia, a taxa de extrema pobreza no país era de 6,6%, o que representa quase 14 milhões de pessoas. A previsão é que 2021 encerre com mais de 19 milhões de pessoas nessa mesma situação, ou seja, cinco milhões a mais.
É considerada família vivendo em extrema pobreza aquela com renda per capita de até R$ 89 mensais. No geral, são pessoas que vivem nas ruas ou em barracos de favela, de acordo com o governo federal.
Em Salvador e toda a Bahia, não existem dados recentes sobre o aumento da pobreza e das famílias em situação de rua. Um levantamento feito há três anos pelo projeto Axé, Organização Não-Governamental que atua na área da educação, arte-educação e defesa de direitos de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social, mostra que entre 14 e 17 mil pessoas vivem em situação de rua na capital baiana.
Apesar da ausência de dados atualizados, basta andar pelas ruas de Salvador e outras cidades do estado para perceber que aumentou o número de cidadãos vagando pelas ruas, pedindo comida nas sinaleiras, dormindo sob marquises ou qualquer espaço que lhes sirva de abrigo. É possível ver pessoas de todas as idades, bebês nos braços de mães, crianças, idosos, famílias inteiras, vivendo sem dignidade.
Márcio Lima, assistente social, especialista em serviço social no sistema sociojurídico e presidente da Central Única das Favelas na Bahia; e Lucas Gonçalves, estudante de direito e fundador do projeto Salvador Invisível, que atende pessoas em situação de vulnerabilidade social destacam que, no ano passado, o auxílio emergencial de R$ 600 por mês aos mais vulneráveis e de R$ 1,2 mil para famílias chefiadas por mulheres foi um suporte importante para os mais pobres. Porém, o valor do auxílio foi reduzido pela metade esse ano e o número de beneficiários também reduziu.
Além disso, apesar de quase todas as atividades econômicas já terem sido retomadas, mesmo com algumas restrições, muitos seguem fora do mercado de trabalho. Prova disso é que em maio desse ano a taxa de desocupação na Bahia bateu recorde e atingiu patamar superior aos 21% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Pra sobreviver, além de receberem ajuda de voluntários e projetos sociais, como a Cufa, muitas pessoas, especialmente as mulheres, têm tentando empreender e adotado o trabalho informal como meio de garantir renda e colocar comida na mesa.
"Nós temos notado a presença da fome em nossas comunidades, gente de todas as idades que não tem o que comer. As pessoas estão se virando como podem e muitas dependem mesmo de doações", afirma Marcio.
A situação é ainda mais grave para quem sequer tem onde morar. Lucas Gonçalves afirma que o número de pessoas em situação de rua aumentou muito em Salvador durante a pandemia. "Nos pontos onde achávamos cinco pessoas, hoje tem 10. Onde eram 20, hoje são 50", exemplifica.
Ele detalha que os locais da capital baiana que têm maior número de cidadãos nessas condições são a região do Centro e bairros turísticos, como Barra e Pelourinho. "Essas pessoas costumam ficar em locais onde têm mais movimento, pois é mais fácil conseguir um dinheiro ou algo para comer", explica.
Redação redeGN Foto Agencia Brasil Arquivo
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