Artigo - Personalidade pública não pode falar sem pensar nas consequências, também para a sua imagem

O cantor e compositor Sérgio Reis sofre as consequências de uma grave crise de imagem. Em áudio e vídeo que circulam por grupos de WhatsApp e pelo Twitter, o intérprete das canções Menino da Porteira e Panela Velha, que já foi deputado federal, além de fazer ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal, convoca os caminhoneiros a se mobilizarem em favor do presidente Bolsonaro.

Reis se imaginou imune à polarização política que vigora no País e falou além da conta, sem pensar nos reflexos que suas palavras poderiam ter sobre a sua imagem artística e vida pessoal.

"Nós vamos parar 72 horas. Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País, não vai ter nem caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro", disse Reis em uma reunião com representantes do agronegócio. "Nada vai ser igual, nunca foi igual ao que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de setembro, e se eles não obedecerem a nosso pedido, eles vão ver como a cobra vai fumar, e aí do caminhoneiro que furar esse bloqueio", ameaçou.

Como não poderia deixar de ser, o "caso Sérgio Reis" viralizou na Internet e ganhou espaços generosos nos grandes veículos de comunicação do País. Para muitos, inclusive admiradores, o artista político desafinou!

A bem da verdade, Reis nunca escondeu o seu apoio entusiasmado ao presidente Bolsonaro, porém, dessa vez, definitivamente errou o tom. Sabe-se lá se foi para agradar o amigo, que anda com a popularidade em baixa, que ele passou dos limites da liberdade de expressão e avançou contra a Democracia. Sua fama como artista é inegável - como político, nula! -, por essa razão sua fala repercutiu e, para muitos, de forma negativa, sobretudo do meio artístico. Tanto que Guilherme Arantes, Zé Ramalho e Maria Rita, estrelas da música nacional, cancelaram as participações que fariam em seu próximo trabalho. Não querem, é claro, se associar a imagem negativa de Sérgio Reis, que pessoalmente revelou ainda ter tido shows e comerciais cancelados.

O artista, que começou na Jovem Guarda e migrou para o Sertanejo, onde fez sucesso e conseguiu a popularidade de que hoje desfruta, sentiu o peso da crise de imagem em seus negócios. E de nada adianta, ao menos de imediato, suas desculpas e confissões de arrependimento. O caso ainda vai longe. E o prejuízo pode ser maior. Querer agora desempenhar o papel de vítima, como vem tentando fazer pelas redes sociais, não vai mudar a percepção negativa que a sua fala inconsequente gerou.

E não é apenas o lado artista de Sérgio Reis que está na berlinda. O seu lado cidadão também está em apuros pelos mesmos motivos. A pedido da PGR - Procuradoria Geral da República - a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços do artista, além de abertura de inquérito. Como se não bastasse, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o proibiu de se aproximar da Praça dos Três Poderes, dos ministros do STF e dos senadores, que também foram alvos de suas ameaças.

O que hoje acontece com o artista Sérgio Reis não é diferente do que já aconteceu com outras personalidades - por razões bem menos graves, diga-se de passagem - que não se preocuparam em preservar a imagem quando se manifestaram publicamente de maneira controversa, contrariando, muitas vezes, o senso do politicamente correto. Famosos, sobretudo, e aqueles que dependem da percepção pública precisam pensar duas ou três vezes antes de lacrar opiniões enfáticas sobre isso e aquilo, sobre esse e aquele. Nada passa despercebido, a Opinião Pública está sempre ligada. E não perdoa quem a contraria.


*João Fortunato, jornalista, mestre em comunicação e cultura midiática, professor universitário