Neste período da pandemia os artistas e poetas se reiventaram. Um exemplo é a obra do desenhista juazeirensse Gildemar Sena o trabalho do poeta possui uma definação: encantadora. Gildemar usa a técnica bico de pena para retratar o homem sertanejo e o contexto do semiárido.
"Apesar de sua diversidade, a cultura costuma ser retratada de forma preconceituosa pelos meios de comunicação, com ênfase na seca, miséria e tragédia. Nossa proposta é mostrar todos os aspectos da vida sertaneja, debater questões cruciais e promover a cultura da região", explica.
O multiartista também possui um outro talento: fotografar os pássaros do sertão. Privilegiado, consegue as imagens em seu quintal ou nas trilhas que faz de moto nas serras de Uauá e região.
Toque de Zabumba é um empreendimento atendido pelo Cesol-SSF que trabalha com a confecção de roupas exclusivas, com estampas que retratam a cultura e tradição do Sertão Nordestino. Uma sala de reboco repleta de elementos que remetem o Sertão. No canto da parede, uma mesa antiga de madeira com um violão envelhecido, uma radiola que embalou muitas festas naquele espaço, um chapéu de couro, panelas e moringas de barro, imagens de santos católicos na parede.
Em frente a sala de barro, uma réplica do meteorito de Bendegó, encontrado em 1784 na cidade de Canudos. Ao lado da réplica, uma cobertura aconchegante de madeira, decorada com palhas de coqueiros, que convida qualquer pessoa para um cochilo no balanço de uma rede.
É neste cenário simbólico, cheio de beleza e arte que nascem as produções de Gildemar Sena Oliveira ou simplesmente Senhor Gil, como é conhecido popularmente. O artista produz à mão desenhos temáticos do Sertão, que retratam as vivências, a cultura e a tradição regional em camisas de malha e tecido, vestidos, shorts, calças, macaquitos, bolsas e desenhos em papel canson.
Toque de Zabumba Confecções como é conhecido o grupo familiar atendido pelo Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco (CESOL-SSF), entidade vinculada à Secretaria do Trabalho Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia (SETRE), presenteia os clientes do Vale do São Francisco com a tradição de vestir-se com belas artes.
O traço característico dos seus desenhos são marcados pelo bico de pena com tinta nanquim, técnica que surgiu há mais de 4.500 anos na China e que dá sutileza e vida as produções do artista baiano, a partir do uso intenso da cor preta.
"E eu me encontrei no bico de pena. Primeiro trabalhei com grafite e depois fiz algumas coisas em caneta esferográfica e me encontrei no nanquim. O desenho flui mais. O preto se torna colorido. Eu sinto que tem cores no preto", enfatizou Gildemar Sena.
Gildemar Sena encontra inspiração bebendo da fonte do cangaço, na fonte das histórias que cercam Canudos, da Cultura Popular, da flora e fauna da Caatinga. Segundo Gil, a caatinga faz parte do seu ser e a paixão pelo bioma o inspira diariamente para a criação de novas produções.
"Eu tenho uma paixão muito grande pela caatinga. É como se ela fosse a minha bateria. Se eu passar muito tempo longe dela fico mal. Sinto a necessidade de estar nas caatingas e sentir o mato batendo no meu peito, sentir o vento, o cheiro da vegetação, as cores", justificou o artista plástico.
Gil se descreve como um cabra que vem das barrancas do São Francisco, especificamente da cidade do Juazeiro, no Norte da Bahia. Músico, poeta e compositor, Gildemar Sena nasceu no dia 29 de julho de 1957 e durante a infância se destacava com os desenhos que produzia.
Na década de 1970, mudou-se para Guaratuba no Paraná onde morou por 4 anos. Foi aprovado no concurso público da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) para a área administrativa e conciliava a vida de funcionário público federal com o hobbie do desenho, que logo se tornou uma importante fonte de renda para o artista. Como não tinha acesso à televisão no período, passou a desenhar as animações favoritas como Fred Flintstone e o Manda Chuva e sua Turma.
"Eu nunca me afastei da minha arte. Era muito mais forte do que eu desenhar do que ser funcionário público. Estava como servidor para sobreviver", explicou com muitos risos Sr. Gil.
Ao retornar à Bahia, atuou em Uauá na construção de um hospital. A proposta era morar no local por um ano, mas o clima cultural da cidade acolheu o artista de forma intensa e há quarenta anos se estabeleceu e construiu família. Gildemar Sena é casado com a artista e poetisa Maria Perpetua Socorro Peixinho, conhecida como dona Petinha, tem quatro filhos e seis netos.
Gildemar Sena é responsável por presentear, com lindas artes, os clientes do semiárido baiano. As peças ricas em detalhes são confeccionadas por três costureiras de Uauá, que fazem uma nova economia acontecer no Sertão.
Toque de Zabumba Confecções tem promovido a geração de renda para as famílias envolvidas no trabalho e tem ganhado clientes em todo o estado com a produção de bolsas, camisas masculinas e femininas, saias, croppeds, macacões, macaquitos costurados em tecido de algodão cru.
O artista faz os desenhos à punho e trabalha com a técnica de aplicação em serigrafia. O segundo processo fica sob a responsabilidade das costureiras, que dão vida as roupas do grupo, a partir do desenho dos modelos e as confecções das roupas.
Cada modelo possui características próprias que marcam a identidade de quem adquire, além de serem peças únicas, produzidas com exclusividade. Algumas delas seguem as tendências da moda, com cores mais claras, decotes e amarrações, calças pantalona e pantacourt, saias godê, midi, evasê, vestidos curtos e longos de alça.
As peças do grupo são ricas em detalhes e carregam elementos simbólicos do Sertão, que marcam a trajetória do sertanejo, a exemplo do candeeiro, do umbuzeiro, do xique-xique, do mandacaru, do sofrê, da ararinha azul, locais que marcaram a história de Uauá e região, além de homenagear pessoas da comunidade que fazem a diferença com o desempenho dos seus trabalhos como as catadeiras de umbu, o sanfoneiro, o zabumbeiro, o tocador de pífano.
Ascom Cesol-SSF
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