Primeira a ser instituída no Brasil, a Floresta Nacional do Araripe, no Ceará, é o cenário perfeito para quem gosta de natureza e de se aventurar em trilhas seja para pedalar, correr ou fazer caminhada. Com ventos gelados pela manhã, principalmente nessa época do ano, nada melhor que uma bebida quente como o chá de cambuí - fruta nativa da região - para aquecer do frio antes de enfrentar as trilhas.
A floresta completou neste ano 75 anos de criação. Além de Araripe, a unidade abrange também os municípios cearenses de Santana do Cariri, Crato, Barbalha, Missão Velha e Jardim.
Conhecedor da floresta por conviver nela há mais e 40 anos, mestre Galdino sabe bem onde encontrar os ingredientes para preparar o chá que ajuda amenizar o frio da manhã dos trilheiros. "Para quem não conhece o cambuí, ele é primo legítimo da jabuticaba, só que tem uma diferença, a jabuticaba nasce no galho e essa daqui bota na ponta da folha. A gente vai fazer um chá misto da folha do cambuí com a cidreira que já está um pouco domesticada também com a nossa Flona Araripe", explica.
Quem decide fazer a trilha a pé sente com mais intensidade o ar puro e a sensação térmica caindo a medida que caminha sob a sombra das árvores ao mesmo tempo em que desfruta da paisagem. É o caso da professora universitária Rosa Medeiros, veterana dos passeios no local.
Outros pontos muito buscados por quem frequenta a floresta são os mirantes. De um deles, visitados pela reportagem é possível avistar pelo menos quatro cidades da região do Cariri.
PRESERVAÇÃO: O responsável por cuidar dos mais de 38 mil hectares de verde é o Instituto Chico Mendes de biodiversidade do qual Flávia Domingos faz parte da equipe. De acordo com ela, é sempre uma surpresa positiva quando os turistas se deparam com a beleza cênica do lugar.
"Ninguém espera, quem é de fora, encontrar uma vegetação tão exuberante, e tão magnífica aqui nessa região, então causa estranheza, mas para os que são da região já estão acostumados com essa pérola que nós temos aqui no Cariri. Ao proteger essa área, a vegetação, nós estamos melhorando o clima, está prestando uma série de serviços ambientais, e um deles é a beleza cênica, preservada, e com acesso para todas as pessoas" afirma.
A mata preservada com fontes de água cristalina que jorra o ano todo, além de cascatas só completam a beleza da floresta classificada como um verdadeiro pulmão pelo secretário adjunto do Desenvolvimento Econômico e Turismo do Crato, Manoel Pedrosa.
"Aqui tem uma fauna e uma flora muito diversificada. "É um pulmão porque, pela localização dela, aqui é o início do Cariri, o início do Ceará, os rios nascem aqui: Rio Salgado, vai para o Jaguaribe, até o norte e Fortaleza, então por conta da altitude está sempre gerando uma condição climática melhor", finaliza.
O ponto de partida para a demarcação da floresta foi a Casa Sede, construída em 1946 às margens da CE-292, rodovia que liga o Ceará a Pernambuco. A ideia inicial era que o espaço servisse de apoio para o patrimônio verde.
O chefe do Núcleo de Gestão Integrada ICMBio no Araripe, Carlos Augusto Pinheiro, destaca a evolução da Floresta Nacional ao longo dos anos e como ela foi se aperfeiçoando, deixando de ser tão somente uma casa administrativa para se tornar ponto de pesquisas e monitoramento.
“Ao longo dos anos que eles foram se estruturando, então ela passou de ser a casa do chefe, casa administrativa, para ser um ponto de pesquisa, ponto de monitoramento nosso de prevenção de combate a incêndios florestais”, afirmou.
A Floresta do Araripe é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e faz parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc). De acordo com especialistas a floresta possui um dos últimos redutos de Mata Atlântica do Brasil. Além disso, abriga espécies raras da fauna e flora, a exemplo do Soldadinho-do-Araripe, ave em gravíssimo risco de extinção, que sobrevive na mata úmida no sopé da floresta.
Além de promover a proteção da floresta, o ICMBio também tem a missão de promover o turismo sustentável. Em tempos de pandemia, o contato com a natureza tem sido mais procurado. A preocupação do órgão é tentar manter o distanciamento para preservar a saúde dos visitantes.
"A gente pensa que faz parte da saúde mental e física poder estar desfrutando de um espaço desses. Mas isso tem que ser feito com todos os critérios, todos os cuidados. Não é porque estamos em espaços abertos que podemos abrir mão das máscaras, porque aqui tem outras pessoas visitando o espaço. Nós temos que ter cuidado com a fauna, não sabemos os efeitos desse vírus com a fauna local", diz Flávia Domingos, analista ambiental.
G1 Ce Foto: Frederico Holanda Bastos
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