O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) emitiu nota técnica na quinta-feira (23) prevendo dificuldades para atender a demanda de energia do país em novembro.
Essa dificuldade viria do “esgotamento de praticamente todos os recursos [de potência de energia] no mês de novembro”. Ou seja, o operador vê o risco de faltar potência de energia a partir desse mês, fim do período seco e início do período chuvoso.
Grande parte das represas no país passa por um período de baixos níveis de água, em consequência das poucas chuvas.
“Com relação ao atendimento aos requisitos de potência, observam-se sobras bastante reduzidas no mês de outubro, com o esgotamento de praticamente todos os recursos no mês de novembro”, concluiu o ONS.
A oferta de potência é importante para garantir o fornecimento contínuo de energia ao país. O sistema elétrico nacional opera com as chamadas “sobras de energia”, que são acionadas quando há momentos de alta de demanda.
Uma situação de déficit de potência levaria o país a ter dificuldades para atender a demanda por energia em momentos de alta do consumo, como no horário de pico, o que poderia levar a situações pontuais de blecaute. Tradicionalmente, a partir de novembro o país registra um aumento do consumo de energia, em virtude das temperaturas mais altas. Porém, o país chegará a esse mês com falta ou nenhuma “sobra de energia”, segundo o ONS.
Mesmo com o início do período chuvoso, o nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste – que representam 70% da geração de energia do país – demorarão para encher. A previsão é que em novembro eles estejam em cerca de 10%, segundo o ONS, nível abaixo das mínimas históricas e considerado “crítico”.
Cenários
O ONS analisou dois cenários para o fornecimento de energia em novembro: um mais conservador e outro de maior consumo. No cenário conservador, a sobra de potência em novembro seria praticamente nula, de 144 MW (megawatt). Normalmente, o sistema precisa operar com 15 mil MW de reserva para não ter risco no fornecimento.
No segundo cenário, de maior consumo de energia, faltaria 2 mil MW de potência em novembro, sendo necessário o aumento da importação de energia para garantir o fornecimento ao país.
Para efeitos de comparação, o Brasil, nesse segundo cenário, teria de importar o equivalente as usinas “Angra 1 e 2”, que têm potência total de 2 mil MW.
Em nota, o ONS diz que, nos dois cenários analisados, não “há risco de desabastecimento elétrico, mesmo diante das piores sequências hidrológicas de todo o histórico de vazões dos últimos 91 anos”.
Contudo, diz que as projeções podem ser revistas novamente no curto prazo em caso de alteração dos parâmetros utilizados. O ONS considerou um crescimento da economia 4,5% neste ano e despacho térmico de 16 mil MW médios.
O mercado financeiro projeta alta de 5,26% para o Produto Interno Bruto (PIB), segundo o último Boletim Focus, do Banco Central (BC). Já a capacidade térmica instalada do país é de cerca de 22 mil MW, mas muitas usinas não estão disponíveis para uso.
Motivos
O risco do déficit de potência de energia se dá por dois principais fatores. Primeiro, por causa da crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos, que tem levado ao esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas e maior acionamento das usinas termelétricas. O país já está usando praticamente todas as usinas térmicas disponíveis.
O segundo motivo, aponta o ONS, é o aumento da demanda de energia, no embalo da recuperação econômica. “O crescimento observado das atividades do comércio e serviços, além da manutenção do ritmo elevado da produção industrial, principalmente daquelas voltadas para exportação, resultam em uma expectativa de crescimento da carga superior ao que vinha sendo considerado nos estudos prospectivos anteriores”, disse o operador.
Recomendações
Diante desse cenário, o ONS recomenda ao governo que mais medidas sejam adotadas para garantir o fornecimento de energia ao país no fim do ano:
- aumento da flexibilização do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas;
- utilização dos reservatórios das usinas hidrelétricas das bacias do Rio Grande e do São Francisco;
- postergação das manutenções programadas das usinas termelétricas; e
- conclusão dos estudos para contratação adicional de energia.
As sugestões serão avaliadas pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), criada pelo governo para gerir a crise hídrica, e pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), ambos presididos pelo Ministério de Minas e Energia.
A nota técnica emitida na quinta atendeu à solicitação do Ministério de Minas e Energia para o ONS revisar a "Avaliação das Condições de Atendimento Eletroenergético do Sistema Interligado Nacional (SIN)".
G1 / foto: Roberto Stuckert-Fotos Públlicas
0 comentários