Ela não lembra só por lembrar.
- O horário: foi antes de 6 horas da manhã, no dia 17 de janeiro de 95.
- Começo a ouvir grito, né, de horror, e as pessoas gritando.
- Quando a gente viu o trem caindo, a rua tudo derrubada, a gente percebeu: é terremoto.
Nas Olimpíadas, a busca é por grandes personagens. Só que, antes dos atletas, surgiu uma história em que a protagonista estava logo nos bastidores. Esta japonesa. Ou será que pode chamar de brasileira?
Mako Tanaka é a tradutora contratada para acompanhar uma das equipes da TV Globo em Tóquio. Só que entre uma gravação e outra, para surpresa de todos. Mako começou a cantarolar músicas brasileiras. Em japonês. De brincadeira, o repórter da Tv Globo André Gallindo fez um vídeo e publicou nas redes sociais. Mako canta "Qui nem jiló", composição de Humberto Teixeira, sucesso na voz Luiz Gonzaga, em japonês. E viraliza.
- Como é que é? Viralizou, é isso, viralizou - diz, surpresa, Mako.
Mais de meio milhão de visualizações, compartilhamentos, comentários, repostagem, até de gente famosa. Como de Gilberto Gil.
- Sério? Ah, não, mentira, mentira, eu sou muito fã - responde Mako.
- Gonzaga no Japão. O baião é uma marca brasileira importante - afirma Gil em vídeo.
- É realmente fantástico você ver ouvir uma japonesa cantando Luiz Gonzaga do outro lado do mundo - completa Elba Ramalho.
Mas não é apenas esse baião que está no repertório dessa japonesa. Mako nasceu e viveu em Kobe, no Japão. Até pouco tempo depois de a cidade sofrer o grave terremoto que matou 6 mil pessoas. Depois de sobreviver, ela decidiu mudar.
- Porque eu ganhei a outra vida eu quero viver, de uma outra forma, de um outro jeito - explica Mako.
Em outro país. De preferência sem terremotos e cheio de ritmos. Descobriu o Brasil.
- Eu não tinha coragem, não, é mas assim, naquele dia realmente eu ganhei coragem, eu vou, eu vou encarar - recorda a cantora japonesa.
O Rio de Janeiro foi o destino escolhido. E sem falar português, encarou a mudança.
- Não falava nada, nada. Zero, zero. Sabia cantar as músicas em português. Mas cantava tudo errado, tudo errado - brinca Mako.
Aprendeu do idioma à percussão. Passou a integrar um grupo musical, que toca a obra de Chico Buarque. E passou a fazer versões de clássicos brasileiros em japonês. Agora, ela volta ao Japão trazendo o que aprendeu morando vinte anos no país das últimas Olimpíadas.
- Vocês, o povo brasileiro, me passaram, me ensinaram tudo: é divertir viver de verdade - conclui Mako.
Ao fim dos Jogos, ela voltará ao Brasil. Mas sempre que bater saudade, ela já sabe, o remédio é cantar.
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