Há quem diga que o "dois para lá, dois para cá" pode ser um caminhar característico do início do mês de junho no Nordeste. O ato de arrastar os pés no chão ao som de um triângulo e uma zabumba já te diz qual é o gênero que está sendo tocado antes mesmo da palavra forró ser pronunciada por qualquer indivíduo que por aqui viva ou que conheça a cultura nordestina.
Mas o questionamento é sempre o mesmo durante o período de São João: o forró é um gênero sazonal? É possível que em alguns lugares do Brasil, e até mesmo aqui pelo Nordeste, só lembrem de 'roncar' o fole, ou tirar a poeira da sanfona, no momento em que o calendário vira de 31 de maio para 1º de junho. No entanto, o ritmo faz parte da vida de muita gente ao longo dos 12 meses do ano.
A coordenadora do Fórum Forró de Raiz da Bahia, Alessandra Gramacho, relatou sua preocupação quanto a lembrança momentânea dos forrozeiros, que vivem da arte desde sempre.
"Essa ideia de que o forró é um ritmo sazonal foi feita através das mídias. Não interessa ao empresariado fomentar essa música, já que eles não conseguem transformar essa música, esses artistas em um produto que eles possam colocar valores sobre shows e enriquecer através deles. O forró deseja estar nos espaços, nos grandes palcos e grandes festivais, mas você nunca vai conseguir, de um artista de forró autêntico, a descaracterização da cultura dele".
Porém se engana quem acredita que o esquecimento se restringe aos outros 11 meses de junho. A coordenadora do Fórum da Bahia lamentou a falta de assistência aos forrozeiros até mesmo durante o período junino por parte do Governo da Bahia.
Alessandra, que faz parte da produção do 'São João na Rede', evento que acontece pela segunda vez em 2021, e reúne artistas de diversos estados do Nordeste com apresentações em vídeo, contou ao Bahia Notícias que chegou a formalizar um pedido ao Governo do Estado para que o projeto fosse apoiado, mas não obteve êxito em sua solicitação. Com isso, a Bahia pode ficar de fora do projeto por falta de recursos.
"Nós não conseguimos ser contemplados pela Lei Aldir Blanc em nenhum estado para fazer este festival. A Bahia como sempre não participa. Já fizemos outras solicitações ao governo de uma renda básica para os artistas da cultura popular de identidade nordestina. E aí a gente está em meio a essa comoção, em meio a essa luta. Dentre outras solicitações feitas ao Governo, esta é uma importante, para gerar renda aos artistas, não só aos músicos. Temos produtores de licor, artes e artesanatos, quadrilhas, que apresentam também a sua arte".
O festival 'São João na Rede' terá duração de 60 dias de apresentações e 8 horas diárias de programação, com 14 estados contemplados e cerca de 4.500 profissionais envolvidos na execução do projeto. Em 2020, o vídeo de apoio ao festival foi feito pelo cantor Gilberto Gil, que abraçou a causa no primeiro ano sem São João no Brasil, assim como diversos outros artistas.
A expectativa dos organizadores - Fórum Nacional do Forró de Raiz, Associação Cultural Balaio, Associação Respeita Januário e Sociedade dos Forrozeiros Pé de Serra e Aí - é impactar cerca de 5 mil pessoas por dia, para promover o acesso gratuito à maior festa nordestina, formando deste modo uma nova plateia para a música popular nordestina.
Apenas a Bahia não conta com o patrocínio do Estado. Segundo Gramacho, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba têm apoio da gestão estadual, e as cidades de Campina Grande e Recife receberam apoio financeiro da prefeitura.
O projeto pode ganhar ainda investimento do Governo Federal, após uma reunião da coordenadora do Fórum Nacional, Joana Alves, com o secretário especial de Cultura, Mário Frias, que aconteceu na última semana.
"Depois de 14 reuniões, finalmente o secretário especial de cultura Mário Frias nos recebeu essa semana, disse que gostou do projeto e que ia ver quanto iria destinar. A princípio parece favorável".
Em contato com o Bahia Notícias, a Superintendência de Fomento ao Turismo (Bahiatursa) não informou nenhum projeto para o São João deste ano. O órgão foi responsável por promover a festa junina no estado nos anos anteriores. Por meio de nota, a Secretária de Cultura da Bahia informou ao site que o Estado apoiou projetos que contemplam o forró por meio da Lei Aldir Blanc. No site é possível ter acesso a alguns projetos contemplados, como o projeto de Jó Miranda com o Forró do Talco ao vivo, e o programa de rádio Cangalha Cultural em homenagem a Luiz Gonzaga.
"A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia informa que o Programa Aldir Blanc Bahia, criado para implementação da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017/2020) no Estado, apoiou por meio do Prêmio de Preservação dos Bens Culturais e Identitários da Bahia - Emília Biancardi, 63 projetos que contemplaram desde o Forró Tradicional, até as Quadrilhas Juninas, destinando R$ 852 mil para os artistas diretamente ligados aos festejos juninos".
Bianca Andrade/Bahia Notícias Foto Ilustrativa
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