Cancão era um apelido
que os irmãos lhe puseram
pelas travessuras dele
esse apelido lhe deram
por ele nunca querer
o que os parentes quiseram
Pois ele desde criança
sabia tudo iludir
estradeiro muito velho
não o pôde competir
o Cancão nunca armou laço
que alguém pudesse sair
Cancão de Fogo e Juazeirense se confundem. O apelido do clube baiano pode até ser inspirado no pássaro da caatinga, mas poderia ser no personagem de Leandro Gomes de Barros, em A Vida de Cancão de Fogo e o seu Testamento. Assim como Cancão, o clube baiano sabe usar da astúcia para iludir a todos em benefício próprio.
Com menos de 15 anos de fundação, o clube baiano se acostuma a derrubar gigantes. Na última quarta-feira, eliminou o Cruzeiro e avançou pela primeira vez para as oitavas de final da Copa do Brasil. Antes, já tinha passado por Sport e Volta Redonda. Uma trajetória construída na força de seu estádio.
É no Adauto Moraes, estádio com capacidade para cerca de dez mil pessoas, que o Juazeirense manda seus jogos. Conhecido também pela irregularidade gramado e problemas de iluminação, o Adauto tem se mostrado um temor para qualquer visitante. Foi lá que o Cancão conquistou as suas três classificações, duas delas nas cobranças de pênaltis.
E pensar que, por uma vez, o Juazeirense quase quis abrir mão disso. Na Copa do Brasil de 2019, o time encarou o Vasco na primeira fase. À época, o presidente Roberto Carlos cogitou mandar o jogo em outro estádio após receber propostas financeiras melhores. Mas a repercussão não foi boa, e o gestor acabou voltando atrás.
Fundado em 12 de dezembro de 2006 por Roberto Carlos, que mais tarde se tornaria Deputado Estadual pelo PDT e até hoje segue na presidência do clube, o Juazeirense está apenas na terceira participação na Copa do Brasil. Em 2016, passou pelo Cuiabá nos pênaltis (olha eles) na primeira fase, mas caiu para o Botafogo em seguida. Em 2019, um gol sofrido aos 43 minutos do segundo tempo em um pênalti polêmico definiu a classificação para o Vasco.
A nível local, o Juazeirense tem ganhado notoriedade nos últimos anos. Em 2011, o Cancão foi campeão da Segunda Divisão do Campeonato Baiano e desde então figura na elite do futebol estadual. Já chegou por quatro vezes na semifinal da competição e, em 2021, teve a melhor campanha da primeira fase, superando Bahia e Vitória.
Como quase toda equipe do interior, o Juazeirense tem um elenco discreto. A principal contratação do clube, por sinal anunciada como a maior da história, foi o atacante Kanu, que atuou pelo Anderlecht, da Bélgica e jogou na Liga dos Campeões e Liga Europa. Mas é uma dupla veterana que mais chama a atenção.
O goleiro Rodrigo Calaça tem 40 anos e é conhecido como pegador de pênaltis. Com uma longa história no futebol de Goiás até chegar ao Cancão em 2021, ele defendeu dois pênaltis contra o Cruzeiro e outros dois contra o Volta Redonda. Na semifinal do Campeonato Baiano, pegou um nas cobranças alternadas contra o Atlético de Alagoinhas, mas não conseguiu evitar a eliminação.
Mais à frente, o meia Clébson, de 35 anos, é figura certa no time. Baixinho de 1,64m e cabelos cacheados, o jogador de 35 anos está na terceira passagem pelo clube e chama a atenção pelo toque refinado na bola.
Mas o Juazeirense de Kanu, Calaça e Clébson quer mais. O clube aguarda o definição do próximo adversário. E aqui vai uma dica: bom ter cuidado com o Adauto Moraes e com o Cancão de Fogo.
Porque admira a todos
esse ente se criar
e enganar todo mundo
e ninguém o enganar
nunca achou um estradeiro
que o pudesse enrascar
A reportagem é de Ruan Melo — Juazeiro, BA-Globo Esporte
Globo Esporte Foto Ilustrativa
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