A cada dia, a cada hora e a cada minuto que passa na vida do cidadão, testemunha-se que este ser é atropelado por uma avalanche de fatos que mexem com a sua estrutura, seja influenciado por circunstâncias naturais e trágicas, como os efeitos de uma Pandemia, ou causado pelas ações intencionais ou mal intencionadas do próprio homem, que podem gerar consequências as mais inusitadas.
E no emaranhado de incidências de todos os níveis, o que mais impressiona é a incapacidade ou indiferença de certas autoridades em estabelecer a dimensão e o perfil das prioridades, de forma a amenizar a intensidade do sofrimento da população indefesa à sua volta. Num País que se aproxima da grave estatística de meio milhão de mortos com a Pandemia, o que se percebe nas análises de muitos políticos - cada qual mais tendencioso em dar ênfase às suas posições político-partidárias -, são avaliações distorcidas da realidade, nas quais existe mais preocupação em destacar em qual posição o Brasil se encontra no ranking dos países que vacinaram no mundo, do que pensar no número de vidas já perdidas.
Ora, com todo o empenho que agora possa estar sendo aplicado em torno da vacinação, o que não me parece tão intenso assim, o que muito ainda se ver são reclamações de idosos nas filas, que vão em busca da segunda dose e retornam frustrados sem atendimento. Por outro lado, as ações atuais não minimizam a culpa daqueles que se omitiram das providências oficiais na hora certa e no momento certo, necessárias e urgentes quando a crise começou a se agravar, e privilegiaram as demandas voltadas à possível disputa política em 2022. Nesse particular, tornou-se bem evidente a querela imprópria entre os Srs. Bolsonaro e João Dória, envolvendo exatamente a produção da indispensável vacina. E aqui cabe lembrar a pergunta contida na música de Renato Russo, cantada pela Banda Legião Urbana, em 1978: “Que país é esse?”
Em meio a todo esse universo de posições conflitantes, em que a vida nem sempre é tratada com a importância devida, o Brasil é surpreendido, de repente, com a rápida decisão presidencial de aceitar a realização aqui da Copa América. Causou grande impacto o tratamento diferenciado, porque a decisão pela vacinação levou meses a ser adotada. Mas, pela estrutura já existente para os eventos de futebol, e por estar ocorrendo os jogos, sem público, para campeonatos como Libertadores, Sul-Americana, Copa Brasil, Brasileirão A, B, C e D e Eliminatórias da Copa, um Torneio a mais não muda muita coisa. Contudo, mesmo com a observância de protocolos sanitários, são Delegações de 12 países que tanto podem trazer como levar novas variantes do vírus!
Se o vírus tem sido o motivo para os frequentes “lockdowns” que paralisam a vida social e econômica das cidades em todo o país, e se a maioria dos países pelo mundo recusa a entrada de brasileiros pelo fator de risco que representam, por que essa visão excessivamente condescendente num momento de caos sanitário nacional? O Presidente não morre de amores pelo futebol para ter assumido uma postura de maneira tão contundente, e até agressiva com eventuais opositores, a menos que outros fatores - como uma visão dirigida à melhoria da imagem pessoal e política -, estejam ocultos na decisão. Se essa é a intenção só o tempo dirá o verdadeiro resultado!
O brasileiro é apaixonado pelo futebol, e mesmo sem marcar presença nos Estádios, e torcendo de maneira virtual, certamente vibrará com a realização da Copa América aqui no País. Vamos torcer, apenas, que ela traga os bons fluidos do futebol, e não se transforme numa COPA VÍRUS de graves consequências para os países participantes. Se isso ocorrer, os reflexos poderão resultar em desalento e inversão das boas perspectivas desejadas pelo atual governo... Alguém duvida?
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.
16 comentários
06 de Jun / 2021 às 23h12
Caboclo (CBF) quis só desviar o foco do assédio sexual para uma copinha sem-vergonha que só rende grana para as federações sul-americanas. Nada significa esportivamente para craques como Messi, Di Maria, Suarez, Cavani ou Neymar. Aí convenceu um certo gabinete de que seria uma boa fazer os torcedores se vestirem de verde-amarelo justo quando anda em baixa a popularidade da chefia, que pensou: “O que tenho a perder? É só conseguir a adesão de quatro estados aliados... De quebra, passo uma rasteira na Globo, tá ok?” (Maceió-AL).
06 de Jun / 2021 às 23h17
Sua análise é perfeita, concordo plenamente com você. Parabéns pela crônica bem escrita. (Salvador-BA).
06 de Jun / 2021 às 23h21
Um torneio a mais como bem diz o contexto do Artigo muda o que? É muita confusão por causa de uma coisa chamada din din, isso SIM... Ih ainda rimou...!!!
06 de Jun / 2021 às 23h22
Só DEUS sabe o que vai acontecer! (Rio de Janeiro-RJ).
06 de Jun / 2021 às 23h24
É evidente que ele quer usar o espetáculo para se promover e recuperar a popularidade que está (justificadamente) em baixa. Por outro lado, tamanho evento servirá de cortina de fumaça para mitigar os efeitos da CPI da Covid. (Salvador-BA).
06 de Jun / 2021 às 23h28
Mais uma vez, texto excelente! Parabéns! Título muito apropriado. E a nós, só nos resta torcer e rezar para que essa não seja mesmo uma "Copa vírus". (Uauá-BA).
06 de Jun / 2021 às 23h33
Não entendo direito a reação porque tem mais de 10 campeonatos sendo realizados, neste momento, a única que produz reação é a Copa América! Não será isso pura manipulação política?
06 de Jun / 2021 às 23h37
Nenhuma dúvida, amigo Agenor. É sempre assim, o que não prestou para Argentina e a Colômbia, será ótimo para o Brasil. São uns inconsequentes! (Rio de Janeiro-RJ).
06 de Jun / 2021 às 23h43
Cova América!! (Salvador-BA).
06 de Jun / 2021 às 23h46
Na realidade, esta crônica focaliza, meu entender, uma decisão desastrosa pois, como bem posto, "são Delegações de 12 países que tanto podem trazer como levar novas variantes do vírus!" e que "outros fatores - como uma visão dirigida à melhoria da imagem pessoal e política -, estejam ocultos na decisão." Em meu parco entendimento, o Presidente deveria se preocupar na otimização de providências para demonstrar que o Governo Federal está empenhado no combate à pandemia, não querer fazer politicagem trazendo uma Copa América, rejeitada por outros países, e impor aos brasileiros (continua)
06 de Jun / 2021 às 23h47
(continuação) ...o risco de sofrer mais com o aumento, em muito, do nível da pandemia e, por conseguinte, o número de óbitos. Pergunto, em minha insciência, por que a Copa América não foi para os Estados Unidos que estão com a imunização super adiantada, tanto que o Biden está redirecionando as vacinas sobejantes para outros país, inclusive para o Brasil? (Maceió-AL)
07 de Jun / 2021 às 03h31
Pois é Caro Agenor! Era só o que nos faltava! Mesmo sendo o país do futebol, mesmo sendo um desejo de consumo dos brasileiros, eu não vejo com bons olhos esta decisão. Pelo que estamos vivenciando no mundo, não gostaria de ver o meu país liderando e levantando a taça no ranking de mortes em função do covid-19 (hoje oscilamos entre o primeiro e o terceiro lugar) como se fosse uma copa do mundo.
07 de Jun / 2021 às 08h17
Acredito que presidente mais uma vez, está usando esse evento pra desviar as atenções da CPI, das mortes e dos escândalos que sua equipe causa. Parabéns pela bela crônica!!
07 de Jun / 2021 às 08h25
Sem nenhuma dúvida. (Uauá-BA).
07 de Jun / 2021 às 11h57
Somos legitimamente uma REPUBLIQUETA DOS BANANAS.
07 de Jun / 2021 às 12h07
Agenor, paralelo a tudo isso nesse final de semana aconteceu no Rio de Janeiro um tor meio de ginástica com delegações de 12 países, acho que também seria interessante que o senhor comentasse sobre tal evento, ficaria uma crônica menos imparcial até mesmo fazer um levantamento de outras competições que acontecem no Brasil (Brasileirão séries A,B,C e D, Copa do Brasil, Libertadores, Sulamericana as duas últimas com equipes do continente Sulamericana que também o senhor poderia denominar como torneios da morte, mas, só a Copa América é da morte!!!