Artigo: Hoje de manhã, sandálias suadas e sol já quente, fui à padaria.

Não posso dizer que havia mais silêncio ou menos, até porque de tanto ir à padaria, todos os dias e dizer bom dia a todos os passantes, nem lembro do silêncio e sim das respostas e dos acenos e deste espanto de reencontro nestes dias em que perder é o mais comm.

De todo modo, não estava e ainda não estou preparado para mais perdas. Hoje de manhã quase não tinha mais mais coração, coragem e lágrimas para ouvir de tantos a história de partir de tantos outros tão próximos.

E soube na padaria, antes das sete, que Jean Rego perdeu a guerra contra o mal de todos os males destes tempos cheios de desamor e desesperança.

Pão, lágrimas e este imenso silêncio. Me veio à memória, por inteiro, a letra da música de Mercedes Soza, "Qaundo se cala o cantor", que diz:
Se o cantor fica em silêncio/ Cala a vida / Porque a vida, a própria vida é uma música;
Se o cantor fica em silêncio / Morre de susto / A Esperança, a luz e alegria
 
Jean nem era cantor, era senhor das palavras e sua alegria e o som de sua alegria, era música. Morreu de susto a esperança, a luz e a alegria nessa sua partida.

Relembro de suas imitações, da forma vibrante das denúncias e do envolvimento nos palanqes, na forma, formidável, de apresentar. 

Ele, levado por mim, apresentou o Deputado Federal Bebeto à população de Casa Nova, que me erguntou: Esse rapaz é de Casa Nova? Excelente profissional!! E o parabenizou de público.

Muitas outras vezes estivemos juntos nos palanques da vida. Algumas vezes no rádio, nas campanhas, ele de um lado eu de outro e riámos juntos de tudo que criávamos, inventávamos e apresentavámos. 

"Se o cantor fia em silêncio, A rosa morre. Para que servem as rosas sem a música?"

Se se cala Jean, para que servem os discursos, os canticos, a revolta. Ficam vazios, sem graça e sem brilho os palanques...

Se se cala Jean, "O que será da vida, se aquele que canta, já não levanta a voz nas arquibancadas, para aquele que sofre?"

Quando outros vierem que se mirem no exemplode Jean e não se calem, porque a voz deve ser leve sempre iluminando a nós outros que continuamos aqui embaixo.

Ainda no meio deste dia chego ao fim de tudo o que juntei de coragem, fé, esperança e lágrimas. 

A perda de Jean é o imerecido silêncio da voz da vida.

Manoel Leão

Manoel Leão