Geraldo,
Sou um intrometido por natureza. Amo dar palpites e me envolver. Difícil, nessa idade, aprender a ficar calado ou a aceitar qualquer coisa que suscite debate ou que considere errada.
E, por sugestão de meu amigo de tantos anos, caminheiro da Orla, Washington Prado, escrevi esta nota, registrando, da forma que sei, com os erros que cometo e o sentimento que sempre carrego comigo, a atitude de Fátima.
Tomara que incentive apoio.
Muitas pessoas praticam caminhadas a partir das 5, 5:3, 6 horas da manhã; todos os dias na orla de Juazeiro. Umas desde lá do Angary, por toda a orla; outras desde o Country Club, pela Orla Nova e em frente. Muitas, fazem um trajeto ali no Santo Antônio, Orla Nova; outras descem e caminham às margens do rio. Popularizou-se as caminhadas como nunca, com todas os benefícios que nos traz o exercício físico para começar cada dia.
Fátima todos os dias está lá. São anos e anos, no mesmo horário, sob chuva e os raros dias de frio ou no sol que já é quente às 6 da manhã. Todos notam, poucos se interessam e passam indiferentes.
São dezenas de animais. Se prestarmos atenção ao longo da caminhada veremos alguns deles caminhando apressados, vindos de todas as direções. Cães e Gatos, que parecem saber que ela vem. E ela vem.
Um carrinho, daqueles antigos de levar a feira, sacolas, sacos plásticos, o boné, que a protege do sol, a roupa apropriada para andar. E quantos quilos de ração? A cada manhã, cinco, seis quilos e duas dezenas de cães que a esperam e a conhecem. Mais ariscos, mas não menos frequentes, os gatos, não se arriscam com a proximidade dos cães e sempre levam a sua parte da refeição matinal.
"Gosto de fazer isso" – Simples assim, ao responder o porquê desse cuidado com os animais de rua - "Não, não tenho muito dinheiro, uso tudo o que recebo para alimentar esses animais" e continua: "Não, não recebo ajuda..."
"Recompensa? " – Responde indagando – "Não entendi... ". É a resposta ao questionamento se espera, quer ou merece uma recompensa ou reconhecimento pela sua ação.
As pessoas continuam a passar apressadas, no ritmo do desinteresse.
Bom seria se uma ou duas, ou algumas dessas pessoas, nas suas caminhadas matinais levassem um saco de ração. É certo que Fátima e os "seus" animais aceitariam de bom grado. Obrigado.
Manoel Leão
2 comentários
12 de May / 2021 às 16h09
Parabéns Leão e Fátima pela sensibilidade.
12 de May / 2021 às 18h17
Primeiro que esses cachorros em situação de rua não deveriam existir. Dar uma condição de vida a animais de rua não é simplesmente dá ração ou agua, mas prover afeto, carinho atenção, alimentação, hidratação e abrigo. A atitude é honrosa, mas a situação em si é um caos. Além dos animais que sofrem todos os dias, corre-se o risco de propagar doenças já que eles não tem o cuidado adequado.